domingo, 26 de abril de 2015


Mariano Gago e a Ciência em Portugal
(O Templário, 23-4-2015)

 Morreu Mariano Gago, ministro da Ciência e Tecnologia entre 1995 e 2002 e da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de 2005 a 2011, aquele que desenvolveu a Ciência em Portugal como ninguém o fizera ainda neste país, aquele que criou critérios de exigência até então inexistentes nessa área e nos colocou nas mais altas e prestigiadas instâncias científicas europeias, aquele que encarou o Ensino Superior não como uma simples máquina de conceder diplomas e prestígio social, ou de promoção política, mas como o motor de um país do terceiro milénio...
O seu desaparecimento, numa altura em que muito do seu contributo para o progresso de Portugal ao longo de quatro governos constitucionais, sofre continuamente o desgaste da situação inacreditável a que a actual desgovernação conduziu esses sectores fundamentais da nossa vida cultural e colectiva, mais parece o dobre de finados por tudo aquilo por que lutou.
É extrordinária a hipocrisia de algumas figuras públicas, nomeadamente do mais alto magistrado, ao enaltecerem a acção de Mariano Gago no estilo grandiloquente a que nos habituaram, como se não fossem eles os principais responsáveis pelos cortes no financiamento da Ciência e no Ensino Superior e, assim, da destruição do notável trabalho que agora tanto louvam; culpados da decadência da nossa Investigação e do nosso Ensino Superior, da fuga de tantos cérebros para o Estrangeiro e do desespero de tantos e tantos jovens impedidos de colher o fruto das acções desenvolvidas durante a dúzia de anos em que este grande cientista e ministro exerceu as suas funções.
Bem podem aplaudi-lo agora aqueles que têm da Ciência e da Cultura o entendimento bovino de actividades que apenas valem pelo prestígio social e “glamour” que lhes vêm associados.

Mas as sementes estão lançadas, e não há inverno que dure para sempre.