Mariano Gago e a Ciência em Portugal
(O Templário, 23-4-2015)
Morreu Mariano Gago, ministro da Ciência e
Tecnologia entre 1995 e 2002 e da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de 2005
a 2011, aquele que desenvolveu a Ciência em Portugal como ninguém o fizera
ainda neste país, aquele que criou critérios de exigência até então
inexistentes nessa área e nos colocou nas mais altas e prestigiadas instâncias
científicas europeias, aquele que encarou o Ensino Superior não como uma
simples máquina de conceder diplomas e prestígio social, ou de promoção
política, mas como o motor de um país do terceiro milénio...
O seu desaparecimento, numa altura
em que muito do seu contributo para o progresso de Portugal ao longo de quatro
governos constitucionais, sofre continuamente o desgaste da situação
inacreditável a que a actual desgovernação conduziu esses sectores fundamentais
da nossa vida cultural e colectiva, mais parece o dobre de finados por tudo
aquilo por que lutou.
É extrordinária a hipocrisia de
algumas figuras públicas, nomeadamente do mais alto magistrado, ao enaltecerem
a acção de Mariano Gago no estilo grandiloquente a que nos habituaram, como se
não fossem eles os principais responsáveis pelos cortes no financiamento da
Ciência e no Ensino Superior e, assim, da destruição do notável trabalho que
agora tanto louvam; culpados da decadência da nossa Investigação e do nosso
Ensino Superior, da fuga de tantos cérebros para o Estrangeiro e do desespero
de tantos e tantos jovens impedidos de colher o fruto das acções desenvolvidas
durante a dúzia de anos em que este grande cientista e ministro exerceu as suas
funções.
Bem podem aplaudi-lo agora aqueles
que têm da Ciência e da Cultura o entendimento bovino de actividades que apenas
valem pelo prestígio social e “glamour” que lhes vêm associados.
Mas as sementes estão lançadas, e
não há inverno que dure para sempre.