O que nós devemos à Grécia
Publicado n’O Templário de 30-7-2015
Tornou-se
uma espécie de exercício de exorcismo do executivo que nos “governa” bandear-se
com os nossos credores da Europa contra a Grécia, o membro “mal comportado” do
clube de prosperidade de que a União
Europeia se autoproclama.
Este
embandeirar com os fortes contra os fracos, já antes o afirmei, não passa de
uma comportamento indigno, no mínimo cobarde, verdadeiro acto de “bullying”
para obter as boas graças dos agressores.
No
entanto, essa cobardia em que o governo português emparceira com outros fracos
desta Europa cada vez menos solidária, apenas equivale à enorme ignorância de
todos eles em relação a tudo aquilo que devemos a esse velho país onde a própria
Europa nasceu, a Hélade.
Não se
trata “apenas” desse território montanhoso e penetrado pelo mar Mediterrâneo onde
marinheiros e poetas, guerreiros e pensadores inventaram uma parte da nossa
Língua, onde as formas artísticas que hoje veneramos tiveram a sua origem, onde
nasceram as estórias e a História que é hoje património comum, onde aprendemos
a pensar.
É nessa
geografia agreste e luminosa que florescem a vinha e a oliveira, amorosamente
transplantadas para a nossa finisterra, em que se perpetua a lembrança dos
mitos, as belas e terríveis aventuras da mente e das relações humanas que deram
origem à Tragédia, à Poesia e à Filosofia, mãe de todas as Ciências.
É aí, em
pequenas cidades, que floresce a Democracia, sucedendo esta à Oligarquia e à Tirania,
palavras todas elas tão gregas como o Caos e o Cosmos, Ágora e Acrópole,
Técnica e Magia, Heroísmo e Ironia, Lógica e Fantasia, Política e Olimpíadas...
E é
também com as acções que os Gregos, do Passado e do Presente, nos inspiraram e
inspiram; na Paz e na Guerra, pequeno povo que soube engrandecer-se face às
potências que o agrediram, século após século.
Os
Persas, tão poderosos, que não acreditavam que um povo que discutia na praça
pública os assuntos do Poder pudesse fazer-lhes frente; e, contudo, aí estão as
Termópilas, Maratona e Salamina.
E outros,
ao longo da História, dos Turcos à Alemanha nazi, obrigada a desistir de outras
frentes de guerra para acudir à derrota maciça da Itália fascista na sua
frustrada invasão da Grécia. Tão próxima de nós, Portugueses, que lhe devemos
agradecer o ter-nos poupado a uma invasão na 2ª Guerra Mundial, quando a
“neutralidade” de Salazar não era suficiente para conter a ganância de Hitler.
E o
perdão da dívida alemã, depois desse massacre inacreditável, da destruição de
tantos países e povos? É assim que a gorda Alemanha, que a gorda Europa da
prosperidade paga a esse povo que tanto nos deu?
É bom que
a memória desta nossa Europa não se esvaia no auto-contentamento dos imbecis
que apenas sabem olhar para o próprio umbigo. Que as dívidas, todas as dívidas,
sejam finalmente saldadas.
Carlos Rodarte Veloso