Humildade
Publicado n’O Templário de 15 de
Outubro de 2015
A simples hipótese de uma aliança do
PS com a restante Esquerda tem levado os “vencedores” do PàF a um tão estranho
como inesperado exercício de humildade perante os “vencidos”. E é mesmo “humildade”
uma das palavras mais recorrentes da coligação de direita no rescaldo destas
legislativas!
De facto, a verdade indesmentível é
que mais de metade dos eleitores se manifestaram por uma alternativa que não
abrange as forças que têm desgovernado o país desde 2011.
Esgrimem elas, agora, argumentos “constitucionais”,
invocando em vão as expectativas dos Portugueses, que achariam aberrante que
não governasse quem “ganhou”... Elas,
que sempre se borrifaram para a Constituição do República quando isso convinha
aos seus desígnios, nada patrióticos, de espremer até ao tutano o bom povo que as
tinha elegido, ao mesmo tempo que alienavam boa parte do património nacional,
sempre sob a batuta estrangeira!
Na verdade, e insisto nisso, há uma
maioria de Esquerda na Assembleia da República agora eleita. Se os deputados do
povo se entenderem nesse sentido, a Democracia não sairá minimamente beliscada
e a Constituição permanecerá o garante das liberdades cívicas. Como deve ser!
Contudo, esta atitude de humildade
não é nem deve ser exclusiva dos verdadeiros vencidos destas eleições, o PàF. Também
a Esquerda, com poucas excepções, está a dar mostras de uma notável abertura às
ideias dos seus parceiros mais próximos, tanto mais inesperadamente quanto é
verdade que a sua atitude durante o período eleitoral se pautou por ataques
desenfreados entre si, especialmente contra o PS.
Agora tudo está em aberto. A
humildade está na ordem do dia. Para a Direita, porque a sua “vitória” acaba
por retundar numa amarga derrota e tem ainda esperança de limitar os estragos.
Para a Esquerda, porque tem agora a
oportunidade histórica de salvar o país, fazendo as necessárias cedências para
a criação de uma verdadeira maioria, estável e constitucional.
E não venham os “velhos do Restelo”
do nosso tempo recordar o PREC, ou outras manifestações mais extremas do
período revolucionário. Não venham de novo aterrorizar o povo com a imagem de
desordem e de anarquia que habitualmente associam a governos de Esquerda. Já
chega de mentiras!
Os próximos dias vão ser cruciais para o nosso
futuro colectivo. Assim se cumpra o desejo do Presidente da República, do
consenso de uma maioria capaz de governar o país... Não o “consenso” que ele
tanto se tem esforçado por alcançar, mas aquele em que os verdadeiros
representantes dos interesses populares, humilde mas firmemente, juntem forças,
saibam distinguir entre o essencial e o acessório e resgatem as promessas de
Abril.
Carlos Rodarte Veloso