A última oportunidade da Europa
Publicado n’O Templário de 7 de Julho de 2016
Os últimos acontecimentos na
Europa apontam para uma crise profunda, cujas “receitas” ditadas por Bruxelas
e, acima de tudo, pelo poderoso padrinho germânico, se mantém iguais a si
mesmas, apesar da sua evidente falência em termos de eficácia e também de
popularidade.
A saída do – ainda – Reino Unido,
ao evidente arrepio das vantagens mútuas da sua permanência na União Europeia,
ameaça destapar a caixa de Pandora ansiosamente esperada pelos inimigos da
Democracia, perfilados como abutres na expectativa da suculenta carniça do
cadáver adiado duma Europa ao serviço dos mercados financeiros e completamente
alheada da necessidades dos seus próprios cidadãos.
O Brexit tem os seus seguidores,
os partidos e movimentos ultranacionalistas e pró-fascistas da França, Áustria,
Hungria, Holanda, Finlândia, Itália e de tantos outros países.
No entanto, é no próprio Reino
Unido que surge a contracorrente desses desígnios, consubstanciada num possível
referendo na Escócia, destinado a manter a adesão à União Europeia,
separadamente do resto do território da Grã-Bretanha.
O efeito de dominó, tantas vezes
invocado antes do referendo britânico, dependerá em grande parte do êxito do
Brexit em termos económicos e financeiros, o que abriria o caminho à
fragmentação da União Europeia, movimento movido não apenas pelos efeitos
económicos referidos, mas pela oportunidade não declarada do encerramento de
fronteiras e a expulsão maciça de emigrantes. O recrudescimento em flecha das
atitudes xenófobas na Grã-Bretanha pós-referendo não deixam margens para
dúvidas sobre essa tendência.
Entretanto e apesar das ameaças
que pesam sobre essa União Europeia tão sacrificada, os seus líderes mais significativos
ameaçam Portugal e a Espanha com sanções que dificilmente viabilizarão um
futuro equilibrado para estes países!
Será este um convite implícito a
referendos em que os países ameaçados resolvam sair também, com os efeitos
devastadores tantas vezes anunciados?
Quererá a Alemanha, perante uma
Europa de joelhos, criar uma “nova” União Europeia formada apenas pelos países
mais “estáveis”, leia-se, submissos, ao seu diktat? Será por isso que Maria Luís
Albuquerque e Passos Coelho se gabam de que, com o seu governo, Bruxelas
deixaria de ameaçar o nosso país e faria vista grossa a uns míseros 0,2 %? Eles
lá sabem, mas isso é um indício grave de autêntica traição nacional.
E no entanto, estamos perante o
que será decerto a última oportunidade da Europa ressurgir do egoísmo, da
ganância e da estupidez e reconstruir o projecto com o qual os pais fundadores
da União Europeia sonhavam: uma comunidade assente na solidariedade e nos
princípios democráticos agora tão esquecidos. Uma comunidade em que todos os
países membros teriam os mesmos direitos, e em que nunca mais seria invocado o
direito do mais forte...
Mas as coisas não são assim, e as
ameaças superam em muito as promessas. E chegará decerto o momento em que os
cidadãos deste nosso país e dos outros igualmente classificados como “lixo”,
terão que tomar decisões graves e porventura perigosas.