E se Trump vence?
Publicado n’O Templário de 22 de Setembro de 2016
Uma pneumonia de Hillary Clinton
foi suficente para a fazer perder a sua posição maioritária nas sondagens para
as eleições estado-unidenses! Nós, que vivemos num país onde uma doença
infecciosa hoje perfeitamente curável, como uma pneumonia, em nada diminui as
possibilidades de acesso de um candidato a um cargo político, profissional, ou
outro, temos o dever de estranhar, neste povo paradoxal de que somos os mais
próximos vizinhos intercontinentais, a volatilidade das suas opiniões,
maioritariamente para um cargo da responsabilidade do de Presidente.
Já seria suficientemente estranho
a proximidade entre o número de intenções de voto na candidata democrata e no
republicano, dadas as características inacreditáveis deste último. De facto, no
pacote de anormalidades em que Donald Trump se vem notabilizando, o menos importante é decerto o seu aspecto
físico, desde a postura matarruana à inacreditável cabeleira amarela.
O que notabiliza Trump, como é
por demais sabido, é a sua estupidez e o seu reaccionarismo agudo, esse decerto
incurável, cuja prossecussão no mais alto cargo político dos EUA – poderia
dizer, mundial – só pode fazer pensar em xenofobia com altos muros levantados
na fronteira, perseguições raciais e religiosas, hostilidade para com o
exterior e, paradoxalmente, uma aproximação à Rússia de Putin (!), ainda maior
liberalidade quanto ao comércio de armas de fogo e ao domínio do capitalismo
mais agressivo, anti-intelectualismo, anti-ciência...
Este homem, em suma, é um poço de
problemas, mas não só ao nível interno. Poderíamos dizer dos estado-unidenses:
se o querem, eles que se amanhem! Só que o problema é de âmbito mundial e o
delicado equilíbrio de forças num Médio-Oriente a ferro e fogo, não apenas no
capítulo do terrorismo, mas também no perigoso jogo levado a cabo entre a
Turquia – agora só faltava a Turquia! – e as forças em presença na Síria,
lembra perigosamente os pesadelos de uma Guerra que foi chamada “Fria”.
Por outro lado, este Velho
Continente que pensávamos ser o exemplo mundial e moral a seguir, multiplica
agora os muros transfronteiriços, anos apenas depois de celebrar
estrondosamente a queda do muro de Berlim, assim voltando as costas às vítimas
de séculos de política imperialista ocidental que deixou na miséria povos
inteiros, que agora lhe batem à porta em grave perigo de sobrevivência.
Um Trump no poder nos EUA seria a
cereja em cima do bolo nesta crise de que não se vê fim à vista. Aliás, os
sintomas internacionais, geo-estratégicos, o que quiserem, cada vez mais se
assemelham aos de vésperas da Segunda Guerra Mundial, embora com o “tempero” do
terrorismo e de novidades tecnológicas que tornam a situação ainda mais
perigosa, de que faz também parte a política agressiva e cada vez mais armada,
de uma Coreia de Norte cujo actual líder em muito se assemelha ao candidato
republicano.
Assim, as eleições nos EUA são
tudo menos inócuas para o resto do mundo. Delas dependem a manutenção daquele
país como um relativo factor de estabilidade ao nível mundial ou, pelo
contrário, o seu mergulho de cabeça na vertigem de uma guerra que, pelos piores
motivos, poderá ser a última travada pela espécie humana.