O ego de Sócrates
Publicado n’O Templário de 29 de Setembro de 2016
O nosso
ex-primeiro ministro Sócrates tornou-se uma das figuras mais controversas da
cena política portuguesa, em boa parte devido à sua dificuldade em controlar as
emoções, por legítimas que possam ser.
É claro as
acusações que lhe são feitas são de uma enorme gravidade mas, sem a conclusão
do respectivo julgamento, quaisquer considerações sobre as mesmas são
totalmente ilegítimas. Do mesmo modo, parece-me que as declarações públicas do
juiz Carlos Alexandre deveriam ter sido mais contidas, por muito que este
senhor sofra de uma excessiva pressão mediática.
A intervenção de
Sócrates na Universidade de Verão do PS, parece configurar uma tentativa
patética de reabilitação política levada a cabo por militantes “socráticos”, em
antagonismo claro com quantos apoiam António Costa.
Que a
intervenção de Sócrates trazia “água no bico” está bem patente no ataque que
faz ao governo devido à proposta de lei sobre o sigilo bancário, sem se
aperceber sequer de que parece estar a ser, neste caso, juiz em causa própria,
quando a anunciada conferência seria sobre Política Externa e Globalização,
tema bem distante do que veio a tratar.
Há aqui uma
estranha defesa do sigilo, quando este apenas visa os particulares detentores de
mais de 50 mil euros nas suas contas bancárias, decerto muito abaixo da média
portuguesa.
Sendo assim,
como encaixa aqui Sócrates o bizarro raciocínio sobre o Estado a tornar-se uma
espécie de papão orweliano que tudo quer controlar, quando mais não faz do que
ir ao encontro da legislação em uso em muitos dos nossos parceiros da União
Europeia?
Mas adiante: Se
não podemos falar de aspectos relacionados com a odisseia judicial de Sócrates,
já parece muito justo que se ponha em causa o homem político que ele é e as
consequências das suas políticas que, não sendo muito diferentes das dos seus
antecessores, parecem coincidir com o afundamento económico do país,
afundamento esse muito agravado com a “austeridade” do governo de Passos
Coelho.
É exactamente o
que faz a deputada Ana Gomes, quando considera prejudicial para o Partido
Socialista a prematura rentrée política de Sócrates na vida partidária, não
esperando ao menos “que a justiça faça o seu curso”, e quando acusa a Federação
de Lisboa do PS de assim ser “conivente com as efabulações de Sócrates”.
Estas
declarações, mereceram ao visado a classificação de “repugnantes”, o que mais
ainda acentua o carácter pessoalíssimo com que encara a vida política e provam
o quanto se encontra ressabiado com a falta de apoio que sentiu de António
Costa durante a sua prisão.
Parece que
Sócrates se prepara para causar o maior embaraço possível ao partido em que,
pelos vistos, quem não está com ele, é contra ele. Trata-se de uma conclusão
bastante salazarenta num homem que se declara, a todo o momento, como de
Esquerda...
Carlos
Rodarte Veloso