sábado, 1 de outubro de 2016


O ego de Sócrates

Publicado n’O Templário de 29 de Setembro de 2016

O nosso ex-primeiro ministro Sócrates tornou-se uma das figuras mais controversas da cena política portuguesa, em boa parte devido à sua dificuldade em controlar as emoções, por legítimas que possam ser.
É claro as acusações que lhe são feitas são de uma enorme gravidade mas, sem a conclusão do respectivo julgamento, quaisquer considerações sobre as mesmas são totalmente ilegítimas. Do mesmo modo, parece-me que as declarações públicas do juiz Carlos Alexandre deveriam ter sido mais contidas, por muito que este senhor sofra de uma excessiva pressão mediática.
A intervenção de Sócrates na Universidade de Verão do PS, parece configurar uma tentativa patética de reabilitação política levada a cabo por militantes “socráticos”, em antagonismo claro com quantos apoiam António Costa.
Que a intervenção de Sócrates trazia “água no bico” está bem patente no ataque que faz ao governo devido à proposta de lei sobre o sigilo bancário, sem se aperceber sequer de que parece estar a ser, neste caso, juiz em causa própria, quando a anunciada conferência seria sobre Política Externa e Globalização, tema bem distante do que veio a tratar.
Há aqui uma estranha defesa do sigilo, quando este apenas visa os particulares detentores de mais de 50 mil euros nas suas contas bancárias, decerto muito abaixo da média portuguesa.
Sendo assim, como encaixa aqui Sócrates o bizarro raciocínio sobre o Estado a tornar-se uma espécie de papão orweliano que tudo quer controlar, quando mais não faz do que ir ao encontro da legislação em uso em muitos dos nossos parceiros da União Europeia?
Mas adiante: Se não podemos falar de aspectos relacionados com a odisseia judicial de Sócrates, já parece muito justo que se ponha em causa o homem político que ele é e as consequências das suas políticas que, não sendo muito diferentes das dos seus antecessores, parecem coincidir com o afundamento económico do país, afundamento esse muito agravado com a “austeridade” do governo de Passos Coelho.
É exactamente o que faz a deputada Ana Gomes, quando considera prejudicial para o Partido Socialista a prematura rentrée política de Sócrates na vida partidária, não esperando ao menos “que a justiça faça o seu curso”, e quando acusa a Federação de Lisboa do PS de assim ser “conivente com as efabulações de Sócrates”.
Estas declarações, mereceram ao visado a classificação de “repugnantes”, o que mais ainda acentua o carácter pessoalíssimo com que encara a vida política e provam o quanto se encontra ressabiado com a falta de apoio que sentiu de António Costa durante a sua prisão.
Parece que Sócrates se prepara para causar o maior embaraço possível ao partido em que, pelos vistos, quem não está com ele, é contra ele. Trata-se de uma conclusão bastante salazarenta num homem que se declara, a todo o momento, como de Esquerda...
Carlos Rodarte Veloso