quinta-feira, 21 de março de 2019


NO ANIVERSÁRIO DO "PAI" DO ZÉ POVINHO
Carlos Rodarte Veloso
“O Templário”, 21 de Março de 2019

Nasceu há exactamente 173 anos um dos artistas cuja obra marcou de forma mais original a arte portuguesa, não tanto pela genialidade das suas criações mais eruditas – correctas mas não excepcionais – mas pela genial expressividade com que construiu uma série de figuras que se tornaram arquetípicas do nosso património popular e político.
Assim, e sem qualquer menorização das suas criações, tanto no campo das Belas-Artes como do Jornalismo e do Teatro – uma das suas paixões – acentuarei sobretudo a veia humorística e caricaturista de Rafael Bordalo Pinheiro, cuja herança alimentou quantos artistas portugueses se notabilizaram nessa forma de expressão artística desde o início do século passado.
Irmão do grande pintor realista que foi Columbano Bordalo Pinheiro, seguiu um caminho diverso, notabilizando-se à frente da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha como barrista de mérito, arte em que associou a sua criatividade como caricaturista ao gosto decorativo um tanto barroco com que produziu uma iconografia zoomórfica de grande realismo e que fez escola até ao nosso tempo.

Ainda hoje a Fábrica caldense produz novas formas animais e decorativas que, não sendo já as originais de Rafael Bordalo Pinheiro, mantém vivas as tradições por ele inauguradas e a sua marca inconfundível.


No entanto, é nas suas ilustrações e estatuetas de cariz crítico-social que reside o seu maior legado. Quem não conhece a figura de “Zé Povinho”, alegoria do povo português, em diversas atitudes irreverentes culminando no célebre “ora toma!” onde todo português se revê frequentemente face às barbaridades cometidas pelo poder instituído?


Ou as próprias imagens fortemente auto-críticas de atitudes ou tipos característicos do nosso povo, desde a “Maria Paciência” à “Ama das Caldas”, ao “polícia”, ao “sacristão com o incensório”, ao “padre viciado em rapé”, entre tantos outros. 

Essa irreverência depressa extravasou, à margem do seu trabalho, para variantes que muitas vezes atingiram um nível pornográfico e, em parte por isso mesmo, se tornaram muito populares no mercado barrista das Caldas.
A sua colaboração em diversas publicações, algumas das quais fundou, teve como cunho dominante a crítica política, tanto escrita como ilustrada.
A sua honestidade e coerência política – sempre dentro do campo republicano – associada à crítica mais demolidora, valeu-lhe alguns dissabores, mas também um prestígio ímpar que lhe valeu ter-se tornado uma das figuras mais respeitadas do seu tempo, mesmo por muitos dos seus principais visados.

quinta-feira, 14 de março de 2019


A INTERMINÁVEL GREVE DOS ENFERMEIROS 
Carlos Rodarte Veloso

Estes enfermeiros puseram definitivamente a deontologia na gaveta. Martirizar os doentes sem acesso à assistência privada é motivo desta festa imoral, que mais lembra o Carnaval. E sabemos bem que não é senão uma gigantesca manobra política destinada a destruir o governo, pois foi a direita, cujo desprezo pelos enfermeiros os convidou, sob Passos Coelho, a emigrar! Rita Cavaco é um caso nauseabundo de incoerência e desumanidade. Os seus seguidores arriscam-se fortemente a compartilhar com ela o descrédito de toda uma classe. Vergonhoso!