ELEIÇÕES E REDES SOCIAIS.
A COLHEITA DO ÓDIO
Carlos Rodarte Veloso
“O Templário”, 26 de Setembro de 2019
A vulgarização das redes sociais e a oportunidade a que estas dão azo de permitir a expressão, não apenas das justas opiniões de qualquer cidadão face a todo e qualquer assunto de cariz público, mas também de colocar as mesmas ao serviço do seu justo – ou injusto – ressentimento pessoal, inscreve-se sem dúvida no direito democrático à liberdade de expressão, embora essa mesma liberdade colida muitas vezes frontalmente com outros direitos, também democráticos, como o da inocência até prova em contrário, o da intimidade e outros, até então garantidos pelo direito à resposta que a imprensa escrita, radiodifundida ou televisiva garantiam.
Essa garantia era relativa, visto o anonimato encobrir muitas vezes a autoria da difamação, o que exigia dos órgãos de comunicação especiais cuidados na identificação e responsabilização dos seus autores, frequentemente movidos pelo desejo de vingança ou pela obtenção de vantagens materiais pela chantagem, a forma de pressão mais vulgar e sujeita ao peso da lei.
Tudo isso se mantém depois da universalização das redes sociais, embora seja actualmente notória a difícil ou impossível identificação dos seus agentes e, assim, a sua responsabilização nos inumeráveis casos de calúnia que entopem a internet, de origem individual ou colectiva, orquestrada crescentemente por poderes externos, políticos, económicos ou ideológicos, os lobbies, geralmente não identificados, muitas vezes aparentando origens totalmente diversas das reais.
Todo este fenómeno, associado ao acesso universal a redes sociais como o Facebook e o Twitter, as mais populares no nosso país, promove cada utente à categoria de OPINANTE em TODAS as matérias tratadas, exigindo dele apenas o conhecimento rudimentar da língua portuguesa…
E não se trata apenas das manifestações mais crassas de ignorância em relação aos temas abordados: cria-se verdadeiras redes de desinformação acerca de temas vitais, como acontece com o desaconselhamento da vacinação assim como o desconhecimento militante de outras grande conquistas e descobertas da Ciência, como o conhecimento da natureza e do universo, da evolução das espécies, da própria natureza humana, dos perigos cruciais que ameaçam a própria sobrevivência de todos os seres vivos – a Humanidade incluída – fomentadas por preconceitos e dogmas religiosos que retomaram fôlego entre as massas fanatizadas, não apenas dos países do chamado Terceiro Mundo, mas crescentemente, nos países ditos desenvolvidos.
Essa ignorância generalizada, associada à deterioração das condições de vida entre as camadas mais pobres da população mundial, sendo o esgotamento dos recursos alimentares a mais evidente, conduz ao triunfo aparente de opiniões em total contracorrente com o progresso científico, cujos gurus acabam por ter um inesperado ascendente até entre as pessoas aparentemente cultas.
O avanço das pseudociências entre essas camadas aparentemente cultas é a prova acabada da trágica separação entre uma população que tem acompanhado a evolução humana a nível mundial, e a restante, infelizmente em número crescente, que se mantém estagnada em conceitos retrógrados e cujos conhecimentos tecnológicos se limitam ao digitar de botões, ligados a máquinas concebidas pela Ciência, a mesma Ciência em que não crêem e que constantemente vilipendiam, como obra diabólica!
E são precisamente essas massas ignorantes – e orgulhosas da sua ignorância! – que assinam, por vezes com nomes fictícios, opiniões escandalosamente irracionais no caso presente das nossas Eleições Legislativas, dando largas ao seu ressentimento e ao ÓDIO que delas se apodera, uma vezes por motivos ideológicos, outras como catarse de todas as frustrações motivadas por um mundo imperfeito mas, apesar disso, dando mostras de alguma evolução.
As eleições são daqui a dias, mas não há dia em que não surjam notícias, controladas pela maioria dos media, apenas destinadas a desacreditar a solução governativa da Esquerda, como forma de recuperar Portugal para os interesses capitalistas. Notícias acompanhadas por revoadas de mensagens de ódio dos saudosistas do miserável “antigamente” de que nos libertámos há 45 anos.
Por obra e graça das redes sociais e da sua capacidade de fraude, essas mensagens são multiplicadas de forma artificial, dando ideia que correspondem a “maiorias” que nunca existiram. É uma luta desigual, entre a verdade e a mentira…
O triunfo de uma ou de outra depende inteiramente de cada um de nós.