sexta-feira, 22 de junho de 2018



EUCALIPTOS, PETRÓLEO E ALGUMAS 

INCONGRUÊNCIAS


Carlos Rodarte Veloso

(“O Templário”, 21 de Junho de 2018)

               Confesso que estou bastante confuso relativamente aos avanços e recuos da política ambiental do Governo no que toca a dois importantes problemas: a erradicação dos eucaliptos como forma fundamental de reordenamento e protecção da floresta e o uso das energias alternativas aos combustiveis fósseis
               Como sou um entusiástico apoiante da fórmula política representada pela aliança de Esquerdas que em boa hora evitou o desastre nacional que seria um novo desgoverno Passos Coelho-Assunção Cristas e estou ciente de que o actual Governo é uma solução enriquecedora para um País sucessivamente traído nas suas expectativas económicas, sociais e culturais, sinto o dever de criticar todos os desvios a essas mesmas expectativas.
               Saúdo, como é evidente, as preocupações e as medidas tomadas para evitar a repetição da catástrofe incendiária do ano apassado e isso leva-me a perguntar a quem me possa esclarecer: sendo evidente a perigosidade da manutenção de largas áreas  florestais dominadas pelo eucalipto, porque não vemos medidas eficazes para, pelo menos, evitar que os eucaliptais ardidos sejam replantados?
               É que, passada a desgraça dos fogos, que tão bem aproveitada foi pelas forças de Direita para enxovalhar um Governo de sucesso na reparação da irresponsabilidade criminosa da anterior governação, assisti, incrédulo, ao plantio quase imediato de espaços compactos de pequenos eucaliptos, quando a evidente solução para esse problema seria a plantação maciça de árvores nativas como carvalhos, castanheiros, azinheiras, sobreiros, nogueiras, recuperando assim a flora autóctone, muito mais resistente aos incêndios, como se comprovou nas propriedades que sobreviveram ao flagelo.
               Penso, e muita gente pensou como eu, que a solução radical passaria, não só pela não replantação de mais eucliptos mas, pelo contrário, pelo abate sistemático dos restantes, que ocupam uma boa parte do nosso País. Mas a triste verdade é que a paisagem continua dominada pela lucrativa espécie, apadrinhada pelas grandes empresas e comodisticamente perpetuada por proprietários apenas preocupados com o lucro rápido.
               Por isso, embora aplauda o aumento e melhoria dos meios materiais e humanos de ataque aos incêndios e da reorganização e saneamento das entidades competentes, a previsão de que os desequilíbrios provocados no ambiente pelo aquecimento global – que apenas o sr. Trump e retardados como ele contestam – levam-me a temer que o fenómeno incendiário vá manter-se na época de calor que se aproxima. Para mais, as muito leves medidas tomadas contra incendiários comprovados, fazem prever que também a frente da criminalidade não se alterará significativamente.
               Todas estas preocupações têm que ver com o ambiente, e de que maneira! No entanto, o crescimento do uso das energias alternativas facultado pela nossa riqueza natural, permitirá a médio prazo a sua utilização numa percentagem próxima dos 100% para satisfação das necessidades de energia a todos os níveis. Essa aposta, iniciada num anterior governo socialista e logo sufocada pelos lobies do executivo subsequente, foi retomada na actual solução governativa. Energia eólica, solar, das marés, geotérmica, além da hidráulica, já não tão desejável, mas importante, utilizadas de acordo com as características regionais, suprem cada vez mais cabalmente as necessidades em todos os sectores. O crescimento que se prevê imparável, dos transportes eléctricos colectivos e individuais e, possivelmente, num futuro próximo, da utilização da própria energia da electrólise da água, só pode ser visto como extremamente promissor.
               Daí, a minha questão: os combustíveis fósseis ainda serão usados por um bom par de anos, mas a própria sobrevivência da humanidade exige que estes sejam gradualmente substituídos. Gradualmente mas o mais depressa possível... Totalmente substituídos! As grandes empresas petrolíferas não estão pelos ajustes, como é evidente. Farão o seu “melhor” para o evitar ou, pelo menos, prolongar a sua hegemonia “ad aeternum”, por muito que isso adie a recuperação ambiental tão urgente como necessária.
               No entanto e totalmente contra-corrente, é o mesmo Governo que promoveu e promove o aproveitamento das energias renováveis que autoriza a prospecçção do petróleo no litoral algarvio e alentejano pelo consórcio Eni/Galp, contra a total e veemente oposição de autarcas algarvios e alentejanos, associações ambientalistas e a população organizada em diversos movimentos, nomeadamente a Plataforma Algarve Livre de Petróleo (PALP).
               Argumenta o Secretário de Estado da Energia que nem é necessário o estudo de impacte ambiental, dado que a prospecção se limitará a um “furo” sem quaiquer consequências... Mas quem o garante? E a grande pergunta que subsiste é esta: se não se pretende construir qualquer plataforma de exploração petrolífera, porque é que o consórcio Eni/Galp se dispõe a investir capital – não será decerto insignificante... – PARA NADA? É sabido que investimentos de capital têm sempre como fito o RETORNO do dinheiro empatado. Será então por interesse científico? Mas perfurar a crosta terrestre não provocará instabilidade nas placas tectónicas, propiciando porventura fenómenos sísmicos numa região propensa aos mesmos? Não esqueçamos que o Terramoto de 1755 afectou igualmente Lisboa e o Algarve. E, mais uma vez, todo um esforço que pode afectar o equilíbrio ambiental para NADA?! Alguém acredita que o investimento em causa não trará atrás as “naturais” exigências das empresas que vão empatar o seu rico dinheirinho? Apenas por amor à arte?...
               A quem de direito, acho que é tempo de travar um disparate porventura irreparável. Um Portugal livre de hidrocarbonetos não suporta mais asneiras contra o ambiente. Sejamos um exemplo, como já o somos a nível político, não uma lamentável incongruência!

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