EUCALIPTOS, PETRÓLEO E ALGUMAS
INCONGRUÊNCIAS
Carlos Rodarte Veloso
(“O
Templário”, 21 de Junho de 2018)
Confesso
que estou bastante confuso relativamente aos avanços e recuos da política
ambiental do Governo no que toca a dois importantes problemas: a erradicação
dos eucaliptos como forma fundamental de reordenamento e protecção da floresta
e o uso das energias alternativas aos combustiveis fósseis
Como
sou um entusiástico apoiante da fórmula política representada pela aliança de
Esquerdas que em boa hora evitou o desastre nacional que seria um novo desgoverno
Passos Coelho-Assunção Cristas e estou ciente de que o actual Governo é uma
solução enriquecedora para um País sucessivamente traído nas suas expectativas
económicas, sociais e culturais, sinto o dever de criticar todos os desvios a
essas mesmas expectativas.
Saúdo,
como é evidente, as preocupações e as medidas tomadas para evitar a repetição
da catástrofe incendiária do ano apassado e isso leva-me a perguntar a quem me
possa esclarecer: sendo evidente a perigosidade da manutenção de largas
áreas florestais dominadas pelo
eucalipto, porque não vemos medidas eficazes para, pelo menos, evitar que os
eucaliptais ardidos sejam replantados?
É
que, passada a desgraça dos fogos, que tão bem aproveitada foi pelas forças de
Direita para enxovalhar um Governo de sucesso na reparação da
irresponsabilidade criminosa da anterior governação, assisti, incrédulo, ao plantio
quase imediato de espaços compactos de pequenos eucaliptos, quando a evidente
solução para esse problema seria a plantação maciça de árvores nativas como
carvalhos, castanheiros, azinheiras, sobreiros, nogueiras, recuperando assim a
flora autóctone, muito mais resistente aos incêndios, como se comprovou nas
propriedades que sobreviveram ao flagelo.
Penso,
e muita gente pensou como eu, que a solução radical passaria, não só pela não
replantação de mais eucliptos mas, pelo contrário, pelo abate sistemático dos
restantes, que ocupam uma boa parte do nosso País. Mas a triste verdade é que a
paisagem continua dominada pela lucrativa espécie, apadrinhada pelas grandes
empresas e comodisticamente perpetuada por proprietários apenas preocupados com
o lucro rápido.
Por
isso, embora aplauda o aumento e melhoria dos meios materiais e humanos de
ataque aos incêndios e da reorganização e saneamento das entidades competentes,
a previsão de que os desequilíbrios provocados no ambiente pelo aquecimento
global – que apenas o sr. Trump e retardados como ele contestam – levam-me a
temer que o fenómeno incendiário vá manter-se na época de calor que se
aproxima. Para mais, as muito leves medidas tomadas contra incendiários
comprovados, fazem prever que também a frente da criminalidade não se alterará
significativamente.
Todas
estas preocupações têm que ver com o ambiente, e de que maneira! No entanto, o
crescimento do uso das energias alternativas facultado pela nossa riqueza
natural, permitirá a médio prazo a sua utilização numa percentagem próxima dos
100% para satisfação das necessidades de energia a todos os níveis. Essa
aposta, iniciada num anterior governo socialista e logo sufocada pelos lobies
do executivo subsequente, foi retomada na actual solução governativa. Energia
eólica, solar, das marés, geotérmica, além da hidráulica, já não tão desejável,
mas importante, utilizadas de acordo com as características regionais, suprem
cada vez mais cabalmente as necessidades em todos os sectores. O crescimento
que se prevê imparável, dos transportes eléctricos colectivos e individuais e,
possivelmente, num futuro próximo, da utilização da própria energia da
electrólise da água, só pode ser visto como extremamente promissor.
Daí,
a minha questão: os combustíveis fósseis ainda serão usados por um bom par de
anos, mas a própria sobrevivência da humanidade exige que estes sejam
gradualmente substituídos. Gradualmente mas o mais depressa possível...
Totalmente substituídos! As grandes empresas petrolíferas não estão pelos
ajustes, como é evidente. Farão o seu “melhor” para o evitar ou, pelo menos,
prolongar a sua hegemonia “ad aeternum”, por muito que isso adie a recuperação
ambiental tão urgente como necessária.
No
entanto e totalmente contra-corrente, é o mesmo Governo que promoveu e promove
o aproveitamento das energias renováveis que autoriza a prospecçção do petróleo
no litoral algarvio e alentejano pelo consórcio Eni/Galp, contra a total e
veemente oposição de autarcas algarvios e alentejanos, associações
ambientalistas e a população organizada em diversos movimentos, nomeadamente a
Plataforma Algarve Livre de Petróleo (PALP).
Argumenta
o Secretário de Estado da Energia que nem é necessário o estudo de impacte
ambiental, dado que a prospecção se limitará a um “furo” sem quaiquer
consequências... Mas quem o garante? E a grande pergunta que subsiste é esta:
se não se pretende construir qualquer plataforma de exploração petrolífera,
porque é que o consórcio Eni/Galp se dispõe a investir capital – não será
decerto insignificante... – PARA NADA? É sabido que investimentos de capital
têm sempre como fito o RETORNO do dinheiro empatado. Será então por interesse
científico? Mas perfurar a crosta terrestre não provocará instabilidade nas
placas tectónicas, propiciando porventura fenómenos sísmicos numa região
propensa aos mesmos? Não esqueçamos que o Terramoto de 1755 afectou igualmente
Lisboa e o Algarve. E, mais uma vez, todo um esforço que pode afectar o
equilíbrio ambiental para NADA?! Alguém acredita que o investimento em causa
não trará atrás as “naturais” exigências das empresas que vão empatar o seu
rico dinheirinho? Apenas por amor à arte?...
A
quem de direito, acho que é tempo de travar um disparate porventura irreparável.
Um Portugal livre de hidrocarbonetos não suporta mais asneiras contra o
ambiente. Sejamos um exemplo, como já o somos a nível político, não uma
lamentável incongruência!
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