domingo, 30 de novembro de 2014

O Templário, 27-11-2014
Restauração

A diminuição do número dos nossos feriados nacionais terá tido como critério, segundo o governo, a necessidade de aumentar a produção, motivo também do aumento das horas de trabalho nas empresas e no Estado. 
Como tais argumentos são acompanhados, em todos os tons, pela argumentação made in Germany  mas entusiasticamente aceite pelos nossos governantes, de que os Portugueses padecem de uma incontrolável preguiça – além de um desequilíbrio desenfreado no despesismo – não nos resta senão agradecermos a estes notáveis educadores a austeridade com que, sob todas as formas, nos venham a castigar.
E não posso, sob pena de acusação de facciosismo, lembrar os gastos sumptuários que se perpetuam no aparelho do Estado, as mordomias que campeiam por esses lados, a protecção paternal a bancos e banqueiros, o retrocesso civilizacional que representa o aumento dos horários de trabalho e a quebra dos direitos que nasceram da luta e do sacrifício de gerações e gerações de trabalhadores.
Não posso  sequer queixar-me da diminuição drástica dos feriados nacionais, especialmente dos de carácter cívico e patriótico, para não ser acusado de preguiça por essa boa gente que tanto trabalha para o nosso bem.
Mesmo assim, não resisto a dizer algo de minha justiça: Porque diabo é que o Dia da Restauração foi apagado do mapa dos feriados, como se a reconquista da independência de um povo fosse o equivalente a um dia comemorativo qualquer, entre as centenas que agora estão registadas no calendário?
 Parece-me que em termos estratégicos o governo acabou por reconhecer implicitamente a sua natureza antipatriótica, de submissão a interesses estrangeiros. Mesmo numa Europa unida – unida mesmo? – os valores nacionais continuam a ter um peso que leva a colocar em causa fronteiras outrora traçadas pela força das armas.
Escócia, Catalunha, País Basco, Irlanda do Norte, levantam a voz contra velhas opressões e o caso português de 1640 é bem próximo destes exemplos actuais de luta pela independência. Por isso, o Dia da Restauração é tão importante e indissociável da nossa identidade nacional.
Sendo assim, a atitude do governo ao recusar ao Dia da Restauração o seu carácter simbólico insubstituível, apenas revela o pavor de que esse exemplo recorde aos Portugueses que é possível e desejável lutar pela independência quando, num contexto de associação com outros países, somos explorados e humilhados. Como era o caso, nesses dias de domínio castelhano.

Lembremo-lo na próxima segunda-feira quando, passados 374 anos sobre a manhã gloriosa de 1 de Dezembro, teremos que ir trabalhar como em qualquer outro dia .

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O Templário, 13-11-2014
A Festa de Finalistas

A campanha que o governo, o PSD e o PP iniciaram quase logo a seguir à vitória de António Costa nas Primárias do PS, prima por uma certa histeria, como se o pânico começasse a apoderar-se dessa boa gente que tanto tem feito pelo país.
Na verdade, já não há dia em que um ilustre deputado, um membro qualquer dos partidos da coligação, um governante até, no meio das suas declarações mais diversas, não dedique uma pausa a um ataque cerrado ao actual autarca de Lisboa.
Se não conhecêssemos a bravura desta gente que nos governa, o seu indefectível patriotismo que não cessa de oferecer a uma Europa – o que digo eu? – a um Mundo inteiro, que diariamente nos aconselha, ameaça, sugere, suspeita, ofende, a resposta digna dos nossos egrégios avós, quase diríamos que ... estão cheios de medo!
A actuação do ministro Pires de Lima no Parlamento, em tons de comédia bufa e, há quem o diga, alguma ingestão da tal substância que dá de comer a um milhão de portugueses, ficará como um marco na história parlamentar nacional. O tom chocarreiro com que se dirigiu aos deputados da nação pretendia revelar alguma ironia e imensa – oh! – imensa graça.
Tenho a certeza de que o digno governante passaria no teste do balão e que o arrazoado que tanto nos entusiasmou era apenas a prova de que, desde tenra idade, de pé em cima de uma cadeira, encantava todos os familiares com o seu talento histriónico. E fez mal em guardar tão encantadores dons da natureza. Os portugueses bem mereciam compartilhar com as suas tias e primos esses belos momentos da sua vida familiar.

Claro que todo o coro de censuras a António Costa fica um pouco prejudicado por esta genial prestação do ministro da Economia. De qualquer maneira, o espectáculo principal, a Festa de Finalistas que os membros deste governo estão a preparar, promete. As variedades já começaram e ainda falta quase um ano para o Baile de Finalistas. E que baile vai ser!