O Templário, 27-11-2014
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A
diminuição do número dos nossos feriados nacionais terá tido como critério,
segundo o governo, a necessidade de aumentar a produção, motivo também do
aumento das horas de trabalho nas empresas e no Estado.
Como
tais argumentos são acompanhados, em todos os tons, pela argumentação made in Germany mas entusiasticamente aceite pelos nossos
governantes, de que os Portugueses padecem de uma incontrolável preguiça – além
de um desequilíbrio desenfreado no despesismo – não nos resta senão
agradecermos a estes notáveis educadores a austeridade com que, sob todas as
formas, nos venham a castigar.
E
não posso, sob pena de acusação de facciosismo, lembrar os gastos sumptuários
que se perpetuam no aparelho do Estado, as mordomias que campeiam por esses
lados, a protecção paternal a bancos e banqueiros, o retrocesso civilizacional
que representa o aumento dos horários de trabalho e a quebra dos direitos que
nasceram da luta e do sacrifício de gerações e gerações de trabalhadores.
Não
posso sequer queixar-me da diminuição
drástica dos feriados nacionais, especialmente dos de carácter cívico e
patriótico, para não ser acusado de preguiça por essa boa gente que tanto
trabalha para o nosso bem.
Mesmo
assim, não resisto a dizer algo de minha justiça: Porque diabo é que o Dia da
Restauração foi apagado do mapa dos feriados, como se a reconquista da
independência de um povo fosse o equivalente a um dia comemorativo qualquer, entre
as centenas que agora estão registadas no calendário?
Parece-me que em termos estratégicos o governo
acabou por reconhecer implicitamente a sua natureza antipatriótica, de
submissão a interesses estrangeiros. Mesmo numa Europa unida – unida mesmo? –
os valores nacionais continuam a ter um peso que leva a colocar em causa
fronteiras outrora traçadas pela força das armas.
Escócia,
Catalunha, País Basco, Irlanda do Norte, levantam a voz contra velhas opressões
e o caso português de 1640 é bem próximo destes exemplos actuais de luta pela
independência. Por isso, o Dia da Restauração é tão importante e indissociável
da nossa identidade nacional.
Sendo
assim, a atitude do governo ao recusar ao Dia da Restauração o seu carácter
simbólico insubstituível, apenas revela o pavor de que esse exemplo recorde aos
Portugueses que é possível e desejável lutar pela independência quando, num
contexto de associação com outros países, somos explorados e humilhados. Como
era o caso, nesses dias de domínio castelhano.
Lembremo-lo
na próxima segunda-feira quando, passados 374 anos sobre a manhã gloriosa de 1
de Dezembro, teremos que ir trabalhar como em qualquer outro dia .