Jogos Olímpicos na “Cidade
Maravilhosa”
Publicado n’O Templário de 4 de Agosto de 2016
Num Brasil ainda debilitado por
um golpe de Estado que substituiu gente alegadamente corrupta por gente garantidamente
corrupta, num Brasil em que a esperança de milhões de pobres é superada pelos
interesses de uns milhares de ricos e da sua clientela política, num Brasil
dificilmente enquadrável num quadro democrático, recorre-se ao mais velho
truque da História, “panem et circenses”, neste caso provavelmente sem “panem”,
para mascarar as dificuldades internas de um regime colado com cuspo.
A escolha de uma das cidades mais violentas do
mundo para palco dos Jogos Olímpicos de 2016 se já era uma escolha difícil no
quadro constitucional do governo da presidente Dilma Rousseff, torna-se
totalmente irresponsável sob a batuta da bizarra coligação de interesses dos
golpistas do impeachment.
Os resultados estão á vista, para já num
aspecto principalmente representativo, quando as próprias instalações da Aldeia
Olímpica sofrem as mais duras críticas por parte dos seus destinatários, as
delegações dos diversos países participantes: desde problemas infraestruturais
associados à própria higiene e comodidade das instalações, instalações essas
propagandeadas até à exaustão pela sua modernidade e funcionalidade, e que
residem essencialmente na mais absurda falta de planeamento, o que leva a que
legiões de trabalhadores tenham, à última da hora, de reparar falhas só agora
reconhecidas.
Claro que a comodidade das instalações é já
bastante preocupante, do ponto de vista do nosso tempo, embora o antiquíssimo
ideal olímpico grego não exigisse especiais condições de funcionamento das
instalações de acolhimento, numa época em que os atletas andavam praticamente
nus num país bastante menos ameno que o Brasil tropical. Talvez as autoridades
olímpicas brasileiras queiram recuperar as condições espartanas dos primeiros
tempos dos Jogos...
Mas o problema dos milhões de forasteiros que
vão afluir a um Rio com as instalações sanitárias e hospitalares em ruptura
acentuada, para mais perante a ameaça de um número significativo de doenças
epidémicas, a um Rio cuja lindíssima baía de Guanabara é um dos sítios mais
conspurcados do Planeta, a um Rio infestado pelo banditismo que actua em pleno
dia com a mais total impunidade, a um Rio em que entre bandidos e polícia,
venha o diabo e escolha, ao Rio das favelas, do tráfico de droga mais intenso,
como vão esses estrangeiros reagir a tantas carências grosseiras?
Apenas a boa-vontade não será decerto
suficiente, e a propaganda tem pouco em que se apoiar para tornar mais
suportáveis as condições de vida dos visitantes. Dos visitantes das classes
médias, claro, porque os ricos e os riquíssimos, do alto dos seus hotéis de
luxo dificilmente se aperceberão das condições de vida do país que se espraia a
seus pés, longos carreiros de formigas, apenas.
E para quê? Pobres há-os em todos os países,
são eles que ajudam o famoso camelo a entrar as portas do Céu... ou os ricos a
passar pelo buraco de uma agulha... Uma coisa dessas!