sábado, 6 de agosto de 2016

JOGOS OLÍMPICOS NA "CIDADE MARAVILHOSA" OU "CIRCENCES SEM PANEM"


Jogos Olímpicos na “Cidade Maravilhosa”

Publicado n’O Templário de 4 de Agosto de 2016


Num Brasil ainda debilitado por um golpe de Estado que substituiu gente alegadamente corrupta por gente garantidamente corrupta, num Brasil em que a esperança de milhões de pobres é superada pelos interesses de uns milhares de ricos e da sua clientela política, num Brasil dificilmente enquadrável num quadro democrático, recorre-se ao mais velho truque da História, “panem et circenses”, neste caso provavelmente sem “panem”, para mascarar as dificuldades internas de um regime colado com cuspo.
A escolha de uma das cidades mais violentas do mundo para palco dos Jogos Olímpicos de 2016 se já era uma escolha difícil no quadro constitucional do governo da presidente Dilma Rousseff, torna-se totalmente irresponsável sob a batuta da bizarra coligação de interesses dos golpistas do impeachment.
Os resultados estão á vista, para já num aspecto principalmente representativo, quando as próprias instalações da Aldeia Olímpica sofrem as mais duras críticas por parte dos seus destinatários, as delegações dos diversos países participantes: desde problemas infraestruturais associados à própria higiene e comodidade das instalações, instalações essas propagandeadas até à exaustão pela sua modernidade e funcionalidade, e que residem essencialmente na mais absurda falta de planeamento, o que leva a que legiões de trabalhadores tenham, à última da hora, de reparar falhas só agora reconhecidas.
Claro que a comodidade das instalações é já bastante preocupante, do ponto de vista do nosso tempo, embora o antiquíssimo ideal olímpico grego não exigisse especiais condições de funcionamento das instalações de acolhimento, numa época em que os atletas andavam praticamente nus num país bastante menos ameno que o Brasil tropical. Talvez as autoridades olímpicas brasileiras queiram recuperar as condições espartanas dos primeiros tempos dos Jogos...
Mas o problema dos milhões de forasteiros que vão afluir a um Rio com as instalações sanitárias e hospitalares em ruptura acentuada, para mais perante a ameaça de um número significativo de doenças epidémicas, a um Rio cuja lindíssima baía de Guanabara é um dos sítios mais conspurcados do Planeta, a um Rio infestado pelo banditismo que actua em pleno dia com a mais total impunidade, a um Rio em que entre bandidos e polícia, venha o diabo e escolha, ao Rio das favelas, do tráfico de droga mais intenso, como vão esses estrangeiros reagir a tantas carências grosseiras?
Apenas a boa-vontade não será decerto suficiente, e a propaganda tem pouco em que se apoiar para tornar mais suportáveis as condições de vida dos visitantes. Dos visitantes das classes médias, claro, porque os ricos e os riquíssimos, do alto dos seus hotéis de luxo dificilmente se aperceberão das condições de vida do país que se espraia a seus pés, longos carreiros de formigas, apenas.

E para quê? Pobres há-os em todos os países, são eles que ajudam o famoso camelo a entrar as portas do Céu... ou os ricos a passar pelo buraco de uma agulha... Uma coisa dessas!

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