sábado, 17 de agosto de 2019



AMAZÓNIA, ÚLTIMA BARRICADA 

DO PLANETA TERRA

Carlos Rodarte Veloso

“O Templário”, 15 de Agosto de 2019

Pode parecer dramático, com o seu quê de teatral, mas a verdade é que esse magnífico pulmão da Terra que é a Amazónia, ferida mortalmente pelo desmatamento selvagem promovido por madeireiros e outros selvagens a soldo do capitalismo – mais uma vez, SELVAGEM – perde de dia para dia a sua capacidade de regeneração do clima, enquanto os povos nativos, esses classificados de “selvagens” (!), limitados às suas reservas, estão agora ameaçados de as perderem devido ao “bom coração” de Bolsonaro que os pretende “defender” de serem considerados espécimes de jardim zoológico! E, entretanto, hipocritamente, vai facilitando a sua expulsão para espaços cada vez mais ínfimos e degradados, e o seu morticínio pelos colonos e madeireiros que se julgam num novo Far West em que vigora a “Lei de Lynch”.
A esperteza saloia deste – mais um – retardado dos que dominam o mundo, consegue assim arranjar um “argumento” para abrir caminho à confiscação da imensa riqueza da maior reserva de biodiversidade do nosso planeta e ao enriquecimento da imensa multidão de oportunistas e ladrões que o seguem e suportam! 
Já Trump, ao recusar o Acordo de Paris, bem como as conclusões da esmagadora maioria dos cientistas que estudam o ambiente, sobre as gravíssimas e irreversíveis alterações climáticas suspensas sobre as nossas cabeças, assume igualmente a responsabilidade de ir cada vez mais além nesta caminhada suicida, mantendo e ampliando a exploração dos hidrocarbonetos noutra região que deveria ser religiosamente preservada, o Alasca.
Entretanto, as águas vão subindo nos oceanos, a temperatura da Terra aumentando para valores humanamente insuportáveis, as povoações e cidades litorais inundadas, as áreas florestais destruídas por incêndios cada vez mais incontroláveis, as espécies animais ameaçadas, muitas delas em risco de extinção, as próprias reservas alimentares da humanidade esgotadas em cada vez menos tempo, a miséria alimentada pelas guerras difundida em movimentos migratórios de massas que se tornam autênticas armadilhas mortíferas, alimentando, por sua vez, novas guerras e novas migrações…
As últimas reservas ambientais do mundo, desde a Amazónia às florestas tropicais da Ásia, constituem a derradeira fronteira face às ameaças à nossa sobrevivência, são uma barricada final entre a humanidade civilizada e os milhões de bárbaros que assaltam as últimas riquezas da Terra.
Outros predadores se juntam a Trump e a Bolsonaro. É fartar, vilanagem!

sábado, 3 de agosto de 2019



SERÁ QUE TODAS AS GREVES SÃO JUSTAS?

Carlos Rodarte Veloso

“O Templário”, 1 de Agosto de 2019

O direito à greve é um direito constitucional indiscutível.
Mas, afinal, qual é a finalidade das greves? É, desde que tiveram início estas interrupções do trabalho para a obtenção de melhores salários ou melhores condições laborais, a última das opções perante a ruptura do diálogo entre o patronato e os trabalhadores. É a “linha vermelha” que, por princípio, só deverá ser atravessada quando as condições de diálogo chegarem a um beco sem saída, esgotadas que estejam as condições do diálogo entre os trabalhadores e a entidade empregadora.
No entanto, os efeitos da greve devem, sempre que possível, afectar apenas os interesses das entidades intervenientes, não prejudicando terceiros, especialmente outros trabalhadores cujos direitos de cidadania fiquem assim prejudicados, de formas por vezes dramáticas.
Isso levou à criação da figura dos serviços mínimos, os quais se aplicam às greves no sector da saúde, da higiene, da segurança e outros vitais. Mesmo que discutíveis, tais greves têm tido lugar, prejudicando principalmente as camadas mais desprotegidas da população.
Mas quando uma greve atinge globalmente a economia e o próprio funcionamento estratégico de todo um país, aproveitando conjunturas especialmente delicadas em termos políticos, como as vésperas de uma eleição, uma época crítica pela existência do perigo de catástrofes naturais ou provocadas, a própria conjuntura da presença no país de uma população flutuante de visitantes estrangeiros, estão reunidas as condições para que o carácter reivindicativo da mesma seja largamente ultrapassado e revele ambições que em muito extravasam os motivos imediatos invocados.
E na verdade, depois de há pouco tempo os trabalhadores de transportes perigosos terem obtido a satisfação de uma série de reivindicações, voltarem agora com um crescendo imparável de novas exigências, num momento complicado da vida nacional, com eleições legislativas à porta, exércitos de turistas “invadindo” Portugal de Norte a Sul e o perigo bem documentado de incêndios florestais, pergunto-me se há alguma consciência por parte destes trabalhadores das consequências possíveis da sua intransigência.
Ou se há mesmo essa consciência… quando nos lembramos de que, uns meses antes do golpe de estado fascista que em 1973 derrubou e assassinou Salvador Allende, no Chile, teve lugar a “noite das mangueiras compridas” em que foi cortado todo o abastecimento de combustíveis aos serviços mais importantes de Santiago e, depois, das cidades de Concón e Concepcion…
Não sendo partidário de teorias da conspiração, não vejo esta acção como um perigo imediato para a independência do nosso País… Mas a falta de combustíveis é matéria muito mais inflamável que a sua existência. Mesmo com serviços mínimos, temos pela frente uma crise no acesso à saúde, no abastecimento dos meios de combate aos incêndios, na mobilidade do turismo, na “simples” vida dos nossos cidadãos, extremamente complicada a todos os níveis.
Assim será fácil às forças políticas da Direita atribuir responsabilidades ao Governo, assim inquinando o diálogo político num momento especialmente crítico do ano.
Que las hay, las hay…