O LÍTIO DO NOSSO (DES)CONTENTAMENTO
Carlos Rodarte Veloso
“O Templário”, 14 de Novembro de 2019
A
riqueza em lítio existente no nosso País, se reconhecida há umas dezenas de
anos não daria azo a qualquer polémica: era uma inesperada riqueza que apenas
traria prosperidade a Portugal, vindo ainda por cima beneficiar o ambiente,
dada a sua utilização nas baterias dos veículos eléctricos, uma das
alternativas aos movidos a energias fósseis…
Esta
contribuição para a diminuição da pegada carbónica deveria ser saudada como um
triunfo da tecnologia e parte importante do conjunto de medidas destinadas a
travar o aquecimento global que, dentro de poucos anos trará consequências
ainda mais dramáticas à vida sobre o nosso pobre planeta, já tão martirizado
nos nossos dias: alterações catastróficas dos ciclos climáticos, secas e
desertificação, alternadas com inundações cada dia mais mortíferas, tufões e
maremotos, subida do nível dos oceanos, cidades cada vez mais irrespiráveis,
incêndios florestais incontroláveis, oceanos e organismos poluídos pelos
plásticos, extinção em massa de um número inacreditável de espécies animais e vegetais.
Tudo
isto é repetitivo, mas a sua denúncia por um número cada vez mais generalizado
dos cientistas pouco efeito provoca na comodista atitude dos inconscientes
habitantes da Terra, que pensam ter sempre mais algum tempo para manter os seus
hábitos consumistas e predatórios em relação aos recursos naturais.
A
difusão da irracionalidade pelos gurus das pseudociências, pondo constante e
estupidamente em causa os avisos da Ciência, mais ajuda a alimentar essa
atitude irresponsável para com a necessidade de mudar radicalmente as rotinas
de uma população mundial em crescimento contínuo.
É
ver – e pasmar! – com a enormidade de infinitas “opiniões” veiculadas nas redes
sociais, ao nível do “melhor” trumpismo acerca do ambiente e dos perigos que,
dizem elas, não o ameaçam… mas também outras opiniões, igualmente
desinformadas, embora bem intencionadas, em sentido contrário!
Os
ecologistas, por definição na linha da frente da defesa do ambiente, dividem-se
agora em grupos de influência em relação à utilização de certas alternativas
energéticas, não se conseguindo entender entre eles e, por vezes, dando mostras
de um egoísmo nacional pouco consentâneo com os altos ideais defendidos.
Assim,
no caso do lítio, a defesa da paisagem passa à frente dos evidentes benefícios
da sua exploração e utilização nos veículos de transporte, só aceitável se
trazido de outras paragens – mais pobres, evidentemente… – onde já não haverá
problemas desde que os desperdícios dessa indústria por lá fiquem a poluir os
solos e ambientes e a desfear a paisagem, numa perspectiva no mínimo neocolonialista.
Assim,
para protegermos a limpidez da nossa paisagem rural, abdicaremos da exploração
desse mineral que, apesar de alguns inconvenientes que apresenta, é abundante
em Portugal e uma legislação cautelosa sobre a sua exploração poderia acautelar
quaisquer malefícios ambientais e/ou estéticos?
Mais
ainda, serão desprezíveis os benefícios económicos trazidos às regiões ricas em
lítio pela exploração de uma parte dessas minas, tanto a nível demográfico como
social? Não há aqui um lamentável elitismo destes defensores da paisagem,
completamente esquecidos dos habitantes que dizem defender?
Dando
dois outros exemplos e guardadas as devidas proporções, parece-me perfeitamente
ridículo o ataque que alguns grupos ambientalistas desferem contra todos os
alimentos geneticamente modificados, como se não fossem eles a esperança que
nos resta para alimentar, no futuro, a inevitável fome que já ameaça uma
população mundial em crescimento explosivo, ou contra os parques eólicos, devido
ao seu alegado efeito pernicioso sobre as aves, cujas rotas migratórias
ficariam assim prejudicadas, como se não houvesse muito maior prejuízo para elas
devido aos desperdícios das cidades, que lhes alteram os hábitos alimentares e
contribuem para, isso sim, alterar profundamente as suas rotinas e migrações naturais.
Sem
menosprezar o papel fundamental do AMBIENTALISMO INFORMADO CIENTIFICAMENTE sobre
as medidas a favor do Planeta, alerto para o imediatismo pouco ou nada
fundamentado de um número crescente de boas-vontades, ignorantes dos mecanismos
naturais que dizem defender.
As
suas acções, abundantemente cobertas pelos media, variam entre efeitos
verdadeiramente benéficos e educativos através da sua acção no terreno, que
saúdo vivamente, e um fundamentalismo ridículo que só pode desprestigiar a sua
acção.
Estudemos
e aprendamos com os cientistas como fez e faz Greta Thunberg, grande defensora,
por exemplo, dos automóveis eléctricos, com baterias a lítio... Dá trabalho,
mas vale a pena!