sexta-feira, 1 de novembro de 2019


O SONHO DA RAZÃO PRODUZ MONSTROS

Carlos Rodarte Veloso

“O Templário”, 31 de Outubro de 2019


Há pouco mais de dois anos publiquei, neste Jornal, um artigo sobre as jornadas de 1 de Outubro, reinício da luta activa dos independentistas catalães, nas ruas de Barcelona e por todo o seu território, pelo referendo com que tentaram legitimar democraticamente o estatuto de independência para este rico e progressista pedaço da terra ibérica.
As esperanças desses dias foram totalmente goradas, primeiro pelo autoritarismo castelhano de um galego de má memória, Mariano Rajoy, com o devido “respaldo” do seu rei, Filipe VI, esperando-se agora, quando a “solução judicial” contra os dirigentes desse movimento patriótico vinha dar alguma esperança de que um indulto ou, simplesmente, a inteligência de não repetir erros do passado, poderia apaziguar os ânimos e conduzir ao urgente diálogo.
Pelo contrário, vemos os dirigentes independentistas presos condenados a pesadíssimas penas de prisão, ao estilo da Santa Inquisição, e Puigdemont, o Presidente eleito, chamado a Espanha para arcar com as consequências do seu “crime”, sem que o actual dirigente socialista da Espanha tenha mexido uma palha para abrir o urgentíssimo diálogo entre a ressabiada Espanha franquista e este heróico povo que ainda consegue manter propósitos pacifistas apesar da repressão que regressou em força às suas ruas.
A presença nas manifestações de grupos extremistas e provocadores, vem dar ainda maior força à necessidade de um diálogo urgente fraterno.
A memória sangrenta da Guerra Civil, com os seus incontáveis mortos, poderá ser um pesado dissuasor da clemência devida aos catalães independentistas, porventura um perigoso agitar das águas em vésperas de dificílimas eleições… mas momentos difíceis exigem dirigentes corajosos e com fortes convicções e capacidade de diálogo, não dirigentes pusilânimes e borrados de medo, se me é permitida a expressão pouco educada…
Goya, o pintor das guerras napoleónicas e das suas atrocidades que, nos “Desastres da Guerra” e nos “Fuzilamentos de 3 de Maio” plasmou toda uma denúncia arrepiante dos males da guerra, representara já, graficamente, poucos anos antes, nos seus “Caprichos” cuja primeira gravura, “El sueño de la razón produce monstruos”, os perigos do domínio do irracional sobre a razão, associada aquela aos piores horrores que assombraram e continuam a assombrar a humanidade.



Esses desenhos e pinturas proféticas parecem prever com uma arrepiante precisão, essa outra guerra, a que atrás me refiro, a Guerra Civil de Espanha de que outros grandes pintores espanhóis como Dalí e Picasso, deixaram testemunhos, respectivamente a “Premonição da Guerra Civil”, de 1934 a 1936, e a famosíssima “Guernica” de 1937. 



Aí se regressa a Goya e aos seus terríveis fantasmas, com os pesadelos que, pelos vistos, fazem ainda muitos espanhóis transpirar…

Sem comentários:

Enviar um comentário