sábado, 6 de junho de 2020



VOLTAMOS À GRIPEZINHA?

Carlos Rodarte Veloso

“O Templário”, 4 de Junho de 2020

Parece que para um número inesperado de iluminados e face ao êxito, aliás reconhecido internacionalmente, da contenção do coronavírus em Portugal – até apesar do irresponsável relaxamento das medidas de confinamento por parte de muitos utentes do espaço público – surgiu o segundo momento de combate político da direita contra o governo…
Primeiro, as medidas tomadas tinham sido “tardias”, os erros e carências eram mais que muitas, e a crítica era apontada a alegados erros sucessivos do governo na gestão da pandemia, o mesmo governo que acabou por controlar em termos suportáveis a cavalgada mortífera, ao mesmo tempo que reformava o próprio espaço antes tão criticado do Serviço Nacional de Saúde e o reinventava, criando condições para uma nova eficácia.
Entretanto, em países bem identificados quanto à interpretação surrealista que os seus dirigentes faziam da pandemia, desde a “gripezinha” de Bolsonaro, à deriva mental de Trump e às suas “opiniões” tweetadas sem um pingo de suporte científico ou de vergonha, chegando a aconselhar a desinfecção humana com lixívia (!), às mortíferas hesitações de Boris Johnson, apenas superadas a partir da sua própria e pessoal infecção pelo vírus. Só nesse momento pareceu encarar a realidade, mas à custa de quantas vidas já perdidas!
Até então, a extrema-direita ressabiada com os êxitos das medidas sanitárias impostas pela Direcção Geral de Saúde, tentava a todo o custo encontrar argumentos com que demonstrar a “incompetência” do governo na luta contra a pandemia, mas sem pôr em causa a sua perigosidade.
Agora saem inesperadamente da sombra uma série de “especialistas” que assinam artigos nos media mais reaccionários e criticam o governo por ter tomado medidas, nãos apenas desnecessárias, mas lesivas da economia e da qualidade de vida dos portugueses, ao enfrentar a pandemia nos termos em que o fez!
Preso por ter cão e preso por não o ter!
Claro que a direita que se manifesta ruidosamente nas redes sociais e na imprensa diversifica as suas opiniões, desde os programas de televisão mais “soft”, como o “Sexta às Nove” da RTP 1, em que a “isenta” Sandra Felgueiras faz um “jornalismo de investigação” sem lugar para o contraditório, aos jornais de direita assumida que entram agora na deriva negacionista do vírus, que acabaremos por considerar ao nível da tal “gripezinha” tão acarinhada por Bolsonaro, o “dirigente” mais estúpido, ignorante e assumidamente fascista deste mundo!

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