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Lições da História
A
ausência de memória histórica marca perigosamente o pensamento político deste
século ainda verde. Vive-se hoje o “aqui e agora” como a única realidade
existente para a classe política, enquanto tudo o mais é vertido no caixote do
lixo de um passado de cuja existência se parece duvidar.
Temos
assistido ao retorno sistemático de soluções que noutro tempo se revelaram, não
apenas erradas mas, por vezes, catastróficas. Parece que os (maus) exemplos de
um passado nem por isso muito distante apenas serve para ornamentar as páginas
dos livros de História, agora apenas úteis ao exibicionismo social de uns quantos
snobes.
O
liberalismo, não o político, entendido “à americana” – para os nossos vizinhos
transatlânticos um sinónimo de “esquerda” - , mas o velho liberalismo económico
da 1ª Revolução Industrial, é um desses casos. Criador de riqueza para os seus
promotores, foi um terrível factor de opressão e de miséria para as classes
trabalhadoras que, apenas com a sua luta e sua trágica participação em duas
guerras mundiais, várias revoluções e muitos outros conflitos regionais,
conseguiram ganhar reconhecimento e alguma justiça social. Esse facto foi de
tal forma reconhecido, especialmente depois da terrível crise económica de 1929
e da sua superação pelo “New Deal” de Franklin Roosevelt, que durante anos o desacreditado
liberalismo económico ficou praticamente esquecido sob o entulho das desgraças
acontecidas.
Assim
nasceu o “Estado Social” com as inúmeras reformas que, ao beneficiarem os
trabalhadores, beneficiaram igualmente a sociedade no seu todo, insuflando-lhe
vida e dinamismo e repartindo minimamente a riqueza global. A difusão desse
benefício por um número crescente de países, trazia a esperança num mundo
melhor.
Mas
os antigos privilegiados que, nunca deixando e o ser, aspiravam a um controlo
total do mundo, serviram-se das dificuldades de gestão de uma demografia
explosiva, associada ao aumento da longevidade das populações e ao
desaparecimento do Bloco de Leste que, apesar das terríveis contradições que
encerrava, parecia equilibrar a situação a nível mundial. Ao invés de verem
nessa situação um desafio para, através de uma mais inteligente gestão dos
recursos, se conseguir uma mais igualitária distribuição da riqueza,
procuraram, pelo contrário, ressuscitar o liberalismo económico, agora crismado
de neoliberalismo, sofisticadamente servido pelo anteriormente execrado controlo
estatal.
Pode
dizer-se que as lições da História que comprovavam a falência do liberalismo
económico foram de todo esquecidas, e as soluções encontradas pelas classes
dominantes apenas agravaram as novas crises que depois foram surgindo em série,
confiscando de forma imparável o que ainda restasse do moribundo Estado
Social.
É
essa a realidade desta distopia em que o mundo se está a converter: o
alargamento e aprofundamento do fosso entre os muito ricos e a massa cada vez
mais imensa dos pobres. Esse fosso torna-se abismo e mais do que a uma
diferenciação de classes, parecemos assistir antes a uma diferenciação de
espécies biológicas. Parece que a ficção da Máquina do Tempo de H. J.
Wells, com a espécie humana dividida entre Morlocks e Elois, os predadores e as
suas presas, se concretizará num futuro não muito distante... A não ser que
retomemos de vez o curso interrompido da marcha da Humanidade a caminho do
Futuro.
Carlos
Rodarte Veloso
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