O Templário, 29-1-2015
Sobreviver ao Inverno
Enquanto me chegam ecos de uma indiscutível vitória da Esquerda no berço da Democracia, nessa tão vilipendiada Grécia, vou pensando no capital de esperança desperdiçado ao longo dos últimos anos neste país que é Portugal, que soube também usar muito precocemente formas democráticas para resolver os seus problemas, mesmo contra todas as expectativas.
Sobreviver ao Inverno
Enquanto me chegam ecos de uma indiscutível vitória da Esquerda no berço da Democracia, nessa tão vilipendiada Grécia, vou pensando no capital de esperança desperdiçado ao longo dos últimos anos neste país que é Portugal, que soube também usar muito precocemente formas democráticas para resolver os seus problemas, mesmo contra todas as expectativas.
Quando em 1383 nomeou um tal Mestre
de Avis como defensor e regedor do Reino, Lisboa rompia com os usos
estabelecidos que davam prioridade absoluta à legalidade do sangue, do
puro-sangue, nos destinos das nações. Como se a tal “pureza” do sangue se pudesse confundir com a pureza
das intenções, como se só o filho legítimo
de um rei tivesse o sagrado direito ao poder... Ao poder absoluto. E o Mestre
tornou-se rei, apoiado – corrijo, Eleito
– nas Cortes de Coimbra. Esse interregno democrático não durou muito e as
coisas voltaram ao que costumavam ser, mesmo depois da formidável vitória de
Aljubarrota. Mas o novo mundo e geração de gentes daí nascido, mudou o mundo
para sempre, mas deixou por toda a terra as sementes de novas injustiças.
E do 25 de Abril de 74, não se
lembram já? Esqueçam as comemoraçõezinhas de agora, apenas destinadas a afirmar
a pseudodemocraticidade de A ou B, e lembrem-se do povo nas ruas a endireitar o
que estava torto, a lembrar que o poder não pertence a esta nova aristocracia
sórdida, do dinheiro, do capital, que decide, corta, divide, esbanja e rouba,
em nome... de quê, meus senhores? E ainda dá lições de moral àqueles que
inferniza dia a dia, ao mesmo tempo que os espolia dos bens e, pior ainda, da
esperança.
Também a Grécia tivera, séculos
antes, a sua experiência democrática, o século de Péricles, lembram-se? E o seu
exemplo uniu o Ocidente com o Oriente, mesmo regressando depois aos usos
antigos.
São estes clarões que iluminam a
Humanidade, estas pontes que fazem valer a pena viver, deixando um rasto de
esperança que lhe permite sobreviver até à próxima Primavera. Num qualquer mês de Abril, ou
Maio, o que interessa?
Hoje na Grécia, amanhã em Portugal,
quem sabe?
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