quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

O Templário, 29-1-2015

Sobreviver ao Inverno

Enquanto me chegam ecos de uma indiscutível vitória da Esquerda no berço da Democracia, nessa tão vilipendiada Grécia, vou pensando no capital de esperança desperdiçado ao longo dos últimos anos neste país que é Portugal, que soube também usar muito precocemente formas democráticas para resolver  os seus problemas, mesmo contra todas as expectativas.
Quando em 1383 nomeou um tal Mestre de Avis como defensor e regedor do Reino, Lisboa rompia com os usos estabelecidos que davam prioridade absoluta à legalidade do sangue, do puro-sangue, nos destinos das nações. Como se a tal “pureza”  do sangue se pudesse confundir com a pureza das intenções,  como se só o filho legítimo de um rei tivesse o sagrado direito ao poder... Ao poder absoluto. E o Mestre tornou-se rei, apoiado – corrijo, Eleito – nas Cortes de Coimbra. Esse interregno democrático não durou muito e as coisas voltaram ao que costumavam ser, mesmo depois da formidável vitória de Aljubarrota. Mas o novo mundo e geração de gentes daí nascido, mudou o mundo para sempre, mas deixou por toda a terra as sementes de novas injustiças.
E do 25 de Abril de 74, não se lembram já? Esqueçam as comemoraçõezinhas de agora, apenas destinadas a afirmar a pseudodemocraticidade de A ou B, e lembrem-se do povo nas ruas a endireitar o que estava torto, a lembrar que o poder não pertence a esta nova aristocracia sórdida, do dinheiro, do capital, que decide, corta, divide, esbanja e rouba, em nome... de quê, meus senhores? E ainda dá lições de moral àqueles que inferniza dia a dia, ao mesmo tempo que os espolia dos bens e, pior ainda, da esperança.
Também a Grécia tivera, séculos antes, a sua experiência democrática, o século de Péricles, lembram-se? E o seu exemplo uniu o Ocidente com o Oriente, mesmo regressando depois aos usos antigos.
São estes clarões que iluminam a Humanidade, estas pontes que fazem valer a pena viver, deixando um rasto de esperança que lhe permite sobreviver até à próxima  Primavera. Num qualquer mês de Abril, ou Maio, o que interessa?
Hoje na Grécia, amanhã em Portugal, quem sabe?

Carlos Rodarte Veloso

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