O MISTÉRIO DA SONDAGENS
(Publicado n’O Templário de 24-9-2015)
Vivemos num país cujo nível de vida
e as expectativas de progresso moral e material se deterioram dia após dia,
apesar da propaganda em contrário dos senhores do regime.
Dentro da classe média e do
operariado que resta, os cortes em todos os benefícios, dos salários à
segurança social, foram tão drásticos, que podemos falar de um retrocesso às
últimas décadas do século XX. Entretanto, uma percentagem arrepiante dos jovens
e de muitos cidadãos de meia-idade são arrastados para o desemprego e para a
emigração. Muitos desses cidadãos jovens possuem graus académicos, muitas vezes
especialidades vitais para o desenvolvimento do país, mas são obrigados a ir
oferecê-las a países estrangeiros onde vêem reconhecidas as suas aptidões e
onde encontram um modo de vida decente, sem dependerem das gerações mais
velhas, elas próprias reféns de um governo incompetente e desumano. Os idosos
são vilipendiados, chegando a ser chamados “peste grisalha”!
Tudo o que atrás ficou dito é do
conhecimento geral e basta falar com quem quer que seja nos locais públicos
onde os menos favorecidos têm assento, tais como os hospitais, centros de
saúde, estabelecimentos de ensino públicos, no simples comércio, nos empregos, nos
transportes públicos, e as opiniões maioritárias revelam a mais profunda
antipatia e até desprezo por essas personagens cinzentas que a bordo de
mercedes ou audis e do alto dos seus gabinetes climatizados, governam
governando-se.
E, no entanto, as sondagens dão um autêntico
empate entre as intenções de voto a favor desses engravatados arrogantes e
desumanos e aqueles que querem corrigir, por vezes drasticamente, os abusos, a
miopia, a estupidez até. Mistério profundo!...
Porque, chamemos os bois pelos
nomes, é inacreditável, dado o estado do país e a revolta profunda que grassa
contra o governo e os seus apoiantes, que as sondagens os beneficiem quando, a
crer nos sinais transmitidos diariamente pela sociedade, a todos os níveis, o
povo português anseia pelo momento em que “eles” serão corridos dum Poder
usurpado às promessas de Abril.
Num momento crucial como o que
vivemos, não há lugar para dúvidas: ou se vota pela continuação da desgraça em
que vivemos nos últimos anos, na Direita portanto, ou se escolhe a
mudança, ela só possível levando a
Esquerda ao poder.
O problema das sondagens é que elas
próprias funcionam, menos como meios credíveis de auscultação da vontade
popular, mas como agentes de manipulação da opinião pública, assim da
perpetuação do regime. É evidente que as instituições que são encarregadas
dessas sondagens se inscrevem num jogo que nada tem de isento. Se o próprio
Instituto Nacional de Estatística é claramente instrumentalizado para favorecer
as teses do governo, e isso tem sido bem evidente desde a aproximação da data
das Eleições legislativas!
Em quem confiar então? Decerto não
nos instrumentos que o poder tem à sua disposição para manipular o voto. Nem nos
instituto de sondagens, nem nas televisões, rádios e seus comentadores, tão pouco em boa parte da imprensa
escrita e, até, em muita internet. Talvez o melhor seja que cada cidadão,
prejudicado de múltiplas maneiras por esta “democracia” apenas nominal, que
todos aqueles que viram pessoas da sua família, amigos e conhecidos atingidos
pela praga do desemprego, da perda de direitos, da pobreza, olhem para si, para o país que temos
e é nosso, e entupam as urnas de voto com o enorme manguito que este governo
merece!
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Carlos Rodarte Veloso