sábado, 26 de setembro de 2015


O MISTÉRIO DA SONDAGENS

(Publicado n’O Templário de 24-9-2015)


Vivemos num país cujo nível de vida e as expectativas de progresso moral e material se deterioram dia após dia, apesar da propaganda em contrário dos senhores do regime.
Dentro da classe média e do operariado que resta, os cortes em todos os benefícios, dos salários à segurança social, foram tão drásticos, que podemos falar de um retrocesso às últimas décadas do século XX. Entretanto, uma percentagem arrepiante dos jovens e de muitos cidadãos de meia-idade são arrastados para o desemprego e para a emigração. Muitos desses cidadãos jovens possuem graus académicos, muitas vezes especialidades vitais para o desenvolvimento do país, mas são obrigados a ir oferecê-las a países estrangeiros onde vêem reconhecidas as suas aptidões e onde encontram um modo de vida decente, sem dependerem das gerações mais velhas, elas próprias reféns de um governo incompetente e desumano. Os idosos são vilipendiados, chegando a ser chamados “peste grisalha”!
Tudo o que atrás ficou dito é do conhecimento geral e basta falar com quem quer que seja nos locais públicos onde os menos favorecidos têm assento, tais como os hospitais, centros de saúde, estabelecimentos de ensino públicos, no simples comércio, nos empregos, nos transportes públicos, e as opiniões maioritárias revelam a mais profunda antipatia e até desprezo por essas personagens cinzentas que a bordo de mercedes ou audis e do alto dos seus gabinetes climatizados, governam governando-se.
E, no entanto, as sondagens dão um autêntico empate entre as intenções de voto a favor desses engravatados arrogantes e desumanos e aqueles que querem corrigir, por vezes drasticamente, os abusos, a miopia, a estupidez até. Mistério profundo!...
Porque, chamemos os bois pelos nomes, é inacreditável, dado o estado do país e a revolta profunda que grassa contra o governo e os seus apoiantes, que as sondagens os beneficiem quando, a crer nos sinais transmitidos diariamente pela sociedade, a todos os níveis, o povo português anseia pelo momento em que “eles” serão corridos dum Poder usurpado às promessas de Abril.
Num momento crucial como o que vivemos, não há lugar para dúvidas: ou se vota pela continuação da desgraça em que vivemos nos últimos anos, na Direita portanto, ou se escolhe a mudança,  ela só possível levando a Esquerda ao poder.
O problema das sondagens é que elas próprias funcionam, menos como meios credíveis de auscultação da vontade popular, mas como agentes de manipulação da opinião pública, assim da perpetuação do regime. É evidente que as instituições que são encarregadas dessas sondagens se inscrevem num jogo que nada tem de isento. Se o próprio Instituto Nacional de Estatística é claramente instrumentalizado para favorecer as teses do governo, e isso tem sido bem evidente desde a aproximação da data das Eleições legislativas!
Em quem confiar então? Decerto não nos instrumentos que o poder tem à sua disposição para manipular o voto. Nem nos instituto de sondagens, nem nas televisões, rádios e  seus comentadores, tão pouco em boa parte da imprensa escrita e, até, em muita internet. Talvez o melhor seja que cada cidadão, prejudicado de múltiplas maneiras por esta “democracia” apenas nominal, que todos aqueles que viram pessoas da sua família, amigos e conhecidos atingidos pela praga do desemprego, da perda de direitos, da  pobreza, olhem para si, para o país que temos e é nosso, e entupam as urnas de voto com o enorme manguito que este governo merece!
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Carlos Rodarte Veloso

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