domingo, 1 de novembro de 2015


Se isto é um Presidente
Publicado n’O Templário de 29 de Outubro de 2015


O ainda Presidente da República manifestou mais uma vez a sua desonestidade política e a sua irresponsabilidade ao abandonar assumidamente uma postura de isenção em que, aliás, nunca foi muito convincente. Tem agora a pesada responsabilidade de promover selvaticamente a tal instabilidade que assacava à Esquerda, ao segregá-la para uma espécie de limbo, não lhe reconhecendo sequer a maioridade cívica que ela assumiu por  inteiro quando, em 1974, contribuiu decisivamente para a queda do Estado Novo.
O pior é que as acções inconsideradas que começou a tomar podem conduzir Portugal a um perigoso “pântano” político que poderá relançar a crise que os seus apoiantes se gabam de ter debelado, o que bem sabemos tratar-se de pura ficção.
 Talvez fosse bom fazê-lo compreender que o actual sistema político, que ele diz servir, a Democracia, não foi implantado pelos poderosos deste país, mas pela convergência de todas as forças progressistas, dentro e fora das Forças Armadas, que ansiavam por uma aurora de Liberdade para Portugal.
Mas não: Desde que cumpra a sua "parte", isto é, que agrade aos seus cúmplices - nacionais e estrangeiros - nem se importa de atiçar os sagrados mercados contra o seu próprio país! Ainda não percebeu - e nunca perceberá... - que os interesses da pandilha que chefiou em tempos, e agora o chefia a ele, colidem frontalmente com a missão que jurou cumprir, a de servir Portugal e os Portugueses. Esses Portugueses que num passado hoje cada vez mais remoto, o elegeram, convencidos de estarem perante uma pessoa de bem, mas que agora insulta, quando o seu voto maioritário aponta para soluções fora daquilo que insiste teimosamente em considerar o “arco da governação”.
Já tantos o disseram, mas nunca é demais repetí-lo: não há portugueses de “primeira” e portugueses de “segunda”! Todos os votos têm exactamente o mesmo valor, desde que não digam respeito a cidadãos falecidos, e bem sabemos como num passado de há mais de 40 anos esse “milagre” se concretizava em “maiorias absolutas” apoiadas em “manifestações expontâneas”, assalto a instituições do “Reviralho” e outras festividades afins.
Mas Cavaco e Silva não quer perceber. Diz o povo que “burro velho não aprende línguas” mas longe de mim fazer comparações desagradáveis para com este triste símbolo da velha nação portuguesa!
 É pena não dispormos, tanto quanto sei, da figura do "impeachment" na nossa Constituição. Penso que se aplicava como uma luva ao comportamento anti-democrático agora manifestado e à arrogância insuportável que se tornou a imagem de marca de um Presidente que nem sequer assume ou respeita minimamente a República que diz representar.
Na verdade, desde o corta-fitas Américo Tomás que não tinha tanta vergonha de um Presidente de Portugal. E esse era assumida e oficialmente fascista...


Carlos Rodarte Veloso

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