domingo, 22 de novembro de 2015


Terror absoluto
Publicado n’O Templário de 19 de Novembro de 2015

Os atentados da sexta-feira 13 em Paris não são originais, nem nos métodos nem nas suas consequências, mas fazem parte de uma escalada do terror que, momento a momento, cresce e parece sugar a própria natureza humana para um buraco negro, irreversível.
O que o sinistro “estado islâmico” está a conseguir é introduzir no seu jogo perverso uma dimensão que tende a igualar carrascos e vítimas, ao transportar para o inconsciente colectivo do Ocidente os medos e os preconceitos que motivam desejos de vingança, não contra os culpados, que são os prosélitos do mesmo “estado islâmico”, mas contra bodes expiatórios encontrados mesmo à mão de semear entre os refugiados que ele próprio criou e aqui procuram abrigo.
É muito fácil a sociedades democráticas educadas nos princípios de liberdade, igualdade e solidariedade, habituadas ao primado da Razão e do Estado de Direito, perderem o rumo, fragilizadas pela violência bestial e sem-razão de atentados destre calibre.
A sua vulnerabilidade e a dificuldade que a própria ideia de Democracia implica no que toca aos direitos humanos e às garantias civis, impede-as de usar a “pena de Talião”, o famoso “olho por olho” que dominava as sociedades do Mundo Antigo e é agora recuperada por estes bárbaros do nosso tempo.
Por isso, é fácil manipular as pessoas comuns para descarregarem sobre o elo mais fraco, os refugiados que lhes batem à porta em busca da simples sobrevivência, os maiores medos do mundo, isto é, o medo da morte, da miséria, da mudança.
Não é decerto por acaso que um dos terroristas que se fez explodir no centro de Paris, levando consigo as vidas de numerosos inocentes, tinha junto de si o passaporte, em estado impecável – acentuo: em estado novo, impecável – de um refugido da Síria desembarcado na ilha grega de Lesbos. Um documento impecável num corpo desfeito, despedaçado por uma bomba!
Não é preciso sermos excessivamente desconfiados para denunciar de imediato uma tal “prova” plantada num local de tragédia. Os terroristas são hábeis em tais disfarces, mas também o são muitas autoridades, porventura infiltradas por elementos que procuram manipular a opinião pública a favor de “soluções finais”. Todos sabemos do que estou a falar.
A França vai a eleições daqui a pouco tempo e a Frente Nacional vai mobilizar as vontades contra os refugiados, bem dentro da sua ideologia fascista que vai fazendo escola na Europa, num paralelismo arrepiante com as vésperas da 2ª Guerra Mundial.
Aprendemos – aprendíamos! – História para conhecer os nossos antecedentes, o nosso património, as nossas virtudes, mas também para evitar os erros do passado. Estaremos a consegui-lo, ou tudo não passa de uma gigantesca e trágica repetição dos maiores terrores?
As sociedades democráticas têm todo o direito à legítima defesa e esse direito não pode ser relegado para o momento e que a situação de um país, de um povo, de um continente, do mundo, entra na sua fase irreversível. O Presidente da República Francesa declarou guerra à guerra que lhe, que nos movem. Neste momento, todos somos Franceses.

Carlos Rodarte Veloso

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