Do desconcerto do mundo
Publicado n’O Templário de 3 de Novembro de 2016
Já não há dia em
que não seja anunciada a próxima extinção de uma espécie, animal ou vegetal, em
qualquer dos continentes ou nos oceanos deste nosso tão belo planeta.
As únicas coisas
que parecem predestinadas à eternidade são o petróleo e a ganância humana,
ambas perfeitammente dispensáveis, a primeira por haver manifestamente meios
técnicos e científicos para a sua substituição por combustíveis compatíveis com
o ambiente e, assim, com a nossa própria espécie, esta em crescimento contínuo,
com todas as bençãos das diversas religiões, baseadas em textos bolorentos
escritos quando a Terra estava ainda fresca e os animais falavam.
Quanto à
ganância, é mãe de diversos outros males, o maior dos quais é o capitalismo que
tudo esmaga no seu curso: vidas e dignidade, o ambiente, a liberdade, a beleza
do mundo.
Assim como os
frios cada vez mais glaciais no Inverno anunciam o aquecimento global,
argumento demagogicamente aproveitado por todos os contentinhos do mundo que
assim atacam os ecologistas ao mesmo tempo que inviabilizam as medidas que
urgem para salvar o ambiente, também o crescimento descontrolado das populações
do Terceiro Mundo vive paredes meias com a diminuição da população do “Primeiro
Mundo”, dando argumentos à tristemente célebre divisa do “crescei e
multiplicai-vos...
É este o ponto
da situação em que nos encontramos, enquanto massas populacionais em fuga
desesperada batem à porta dos engravatados povos da Europa e da América do
Norte.
O que poderia
ser uma oportunidade para os continentes em crise demográfica, ao mesmo tempo
salvando as vidas de tantos dos nossos semelhantes confrontados com conflitos
sangrentos atiçados pelos actuais centros de decisão mundiais, já não apoiados
pelos governos nacionais, mas por uma massa obscura de interesses e lealdades
ao bendito cifrão, é malbaratada em favor de egoismos locais e da recusa de
apoio a este Próximo, agora denunciado como grave perigo para a “Civilização” precisamente
por estar tão próximo das comodidades desfrutadas, apesar de tudo, por apenas
uma pequena parcela deste cintilante “primeiro mundo”.
No fundo,
trata-se do “desconcerto do mundo” que o nosso Camões tão bem caracterizou na sua famosa
esparsa ao desconcerto do mundo, há quatro séculos e meio:
Os bons vi sempre passar
no mundo graves tormentos;
e, para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
no mundo graves tormentos;
e, para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Sem comentários:
Enviar um comentário