Um branco bronco na Casa Branca
Publicado n’O Templário de 17 de Novembro de 2016
E aconteceu o
impensável: o patético racista, xenófobo, machista, anti-intelectual e fanático
religioso, o amante das armas e dos combustíveis fósseis, o arqui-inimigo dos
Ecologistas e consequentemente, do Ambiente, o bronco que no início da campanha
eleitoral estado-unidense só dava para rir a bandeiras despregadas, é o novo
inquilino da Casa Branca!
Há muitas lições
a tirar desta desgraça mundial, pois disso se trata:
A desunião dos
defensores dos valores democráticos, que preferiram digladiar-se a unir-se a
partir do momento em que Hillary Clinton, limpamente ou não, ultrapassou Bernie
Sanders nas Primárias. E isto apesar dos apelos de Sanders a essa mesma união!
A ingénua crença
dos democratas adversos a Hillary de que, mesmo ficando no descanso dos seus
lares no dia da eleições, o próprio comportamento – ou falta dele... – de Trump
o levaria à sua automática derrota. As sondagens, essa grande distorção da
Democracia, ajudaram a essa crença fictícia.
A repetição “ad nausea”
de todos os lugares comuns utilizados durante décadas pelos políticos dos
States, que Hillary, sem brilho nem muita convicção debitou durante toda a
campanha. A própria pneumonia – ou seja o que for – de que sofreu durante a
campanha, o que permitiu a Trump atribuir-lhe uma suspeita de incapacidade. Os
“faits divers” que abrangem o empolado assunto dos emails “contra a segurança”,
além dos telhados de vidros que a Esquerda sempre viu nas negociatas, reais ou
imaginárias da candidata.
Mas o que mais fortemente
uniu a Direita daquele país e a levou a cerrar fileiras, foi a política de seguros
de saúde (o “Obamacare”) arrancada a ferros por Obama, e a sua luta contra o
ultrapoderoso lobbie das armas, o quase credo dos norte-americanos, nostálgicos
ainda de um Far West de parque temático, em que os índios morriam sempre enquanto
os brancos implantavam a bandeira das “stars and stripes” em territórios
selvagens. Sempre de revólver em punho.
Embora em menor
grau, tem sido apontado o fanatismo do “politicamente correcto” que tudo invadiu
nos últimos anos, que acaba, pelo exagero e, muitas vezes, pelo ridículo, por
contribuir para os seus anticorpos: o desejo do regresso aos “bons velhos
tempos” em que era incentivada toda a “liberdade” de linguagem, especialmente
dedicada às minorias, às mulheres, às “outras” religiões, aos socialmente
desfavorecidos, aos fracos deste mundo, isto é, exactamente o linguajar que
este “empresário de sucesso” utiliza a torto e a direito. Essa sua condição é
mais um ponto a seu favor no país que se considera, ele próprio, uma grande
empresa.
Aliás, este
carácter de “vencedor” de Trump, associado à sua basófia por ter enganado
propositadamente o fisco do seu país, valeu-lhe um ainda maior apoio em todos
os grupos de cidadãos ressentidos. Olha
um político europeu a gabar-se de vigarice!... Mais valia abandonar de vez
todos os cargos públicos! Mas nos EUA, é mais uma condição “sine qua non” do
valor da chico-espertice...
Agora aqui
estamos nós, Europeus, a lamber as feridas desta derrota da Democracia, causada
pela arrogância e a imprudência de um povo que não é o nosso, muitas vezes
aliado mas, na maioria das vezes, o “padrinho” que tudo quer controlar e que
habilmente manipula, explora, despreza... Não apenas a Europa – nem por sombras
o elo mais fraco na cadeia mundial – mas todo o Mundo, com a excepção dos seus
poderosos concorrente – Rússia, China, Índia – e dos mais fracos,
não-alinhados, de que Cuba constitui um bom exemplo.
Qual será a
resposta desta Europa dividida, no seu momento mais fraco, em que apenas a
Alemanha – apesar da sua tradicional submissão aos Aliados transatlânticos – e
da França, exprimiram opiniões à margem dessa diplomacia servil? Infelizmente
não imagino sequer a possibilidade de uma União Europeia coesa perante os novos
“valores” a instituir pela Casa Branca. Na verdade já diversos países europeus
se passaram para o “lado negro da força”, ao fecharem as suas portas aos
refugiados instituindo ghettos, levantando muros, erigindo políticas
anti-sociais... E isto chama-se Fascismo!
Em 9 de Novembro
de 2016, 27 anos depois da demolição do Muro de Berlim, Dia da Liberdade, e 78
anos depois da Noite de Cristal dos nazis, é muito sintomática a eleição deste
bronco como presidente do país mais poderoso do mundo. Será a História a fazer
uma trágica inversão de marcha ou, antes, mais um motivo para que os Povos de
todo o Mundo comecem a enfrentar os tiranos que nos crescem debaixo dos pés
como cogumelos?
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