TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO
Carlos Rodarte Veloso
“O Templário”, 4 de Julho de 2019
Tenho a sensação de que, nos últimos tempos, vivemos numa espécie de círculo vicioso, esquecendo sistematicamente o que aprendemos ao longo dos séculos, através da principal arma de que dispomos, a inteligência.
O conhecimento do mundo, adquirido através de uma longa prática de observação, experimentação e, tantas vezes, sofrimento inacreditável devido à dificuldade de ultrapassar preconceitos defendidos pela violência do poder instituído, avançou contra todas as possibilidades, dando origem ao pensamento organizado, à filosofia e, finalmente, à ciência, proporcionando uma explicação cada vez mais eficaz para tudo o que nos cerca.
Os farrapos da realidade ainda por explicar, abrangidos pelo campo das crenças, da religião, sustentados apenas pelo irracional, cavalgam contra o racionalismo, servindo-se de velhíssimos e bolorentos argumentos e preconceitos para contrariar as conquistas humanas, chegando a pôr em causa as espantosas realizações da Ciência e da Tecnologia, enquanto se serve delas inconscientemente no dia-a-dia carregando em botões ou deslizando os dedos em dispositivos tácteis, impossíveis de conceber sem o contributo dessas mesmas Ciência e Tecnologia.
É o que acontece com a Astronomia, confundida por muitos com a astrologia, com direito de antena nos meios de comunicação, escritos ou teledifundidos, determinando o destino da humanidade pela posição dos astros na data do nascimento de cada mortal.
“É uma simples brincadeira”, defendem os seus editores nos media “respeitáveis”, assim se protegendo da óbvia acusação de fomentarem a superstição.
“É um caso muito sério”, defende quem vive desta fraude e “explica” os efeitos das posições astronómicas a um público que continua a subsistir, mas, principalmente, a pagar, principalmente a pagar essas previsões dos horóscopos…
E isto não é nada. Quando se alimenta o retorno ao pensamento pré-científico, defendendo o mito da “terra plana” e outras aberrações similares, os mitos da criação das diversas religiões, a magia, o espiritismo, as pseudociências, da acupunctura ao reiki, a negação do valor da vacinação, os interditos contra toda a medicina científica, estamos a dar passos gigantescos para uma idade das trevas.
São essas tendências anacrónicas, que procuram justificação nas tradições medievais europeias, mas principalmente, nos “saberes” orientais que procuram a equiparação às Ciências e, pior, têm-no conseguido em estabelecimentos universitários portugueses, exactamente numa época em que a investigação nacional produz cientistas de projecção internacional e feitos notáveis especialmente no domínio da Medicina, da Biologia, da Astrofísica, da Genética, da Robótica, ombreando com o que de melhor existe em todo o mundo civilizado!
É essa massa de gente que, atrevidamente, apesar de profundamente ignorante sobre tudo o que a rodeia, analfabeta não apenas em termos semânticos, mas também quanto à ciência das coisas, que nega as realizações do último século, nomeadamente as viagens à Lua e a exploração espacial, tudo remetendo para sinistras teorias da conspiração, da autoria dessas estranhas criaturas que são chamadas “cientistas”.
Curiosamente, a verdadeira conspiração que concorre para as terríveis alterações verificadas no ambiente, as quais arriscam o próprio o futuro da espécie humana, de todos os seres vivos e do próprio planeta, essa é deixada de lado, por demasiado incómoda.
E, no entanto, os conspiradores estão bem à vista, nas suas luxuosas vivendas ou condomínios de luxo, deslocando-se em automóveis topo de gama, iates ou aviões, retratados diariamente nos mesmos media em que os comuns mortais apreciam invejosamente o seu estilo de vida. Trata-se do capitalismo sem freio, o desenvolvimento levado à execração do modo de produção nascido das viagens de descobrimento do mundo, da produção em massa, da globalização…
Enquanto os progressos científicos e tecnológicos permitirem um estilo de vida tão comodista quanto possível – mas apenas para as camadas da população relativamente privilegiadas em relação à esmagadora massa populacional do terceiro mundo – enquanto comandos electrónicos permitirem manter os traseiros enterrados em cómodos sofás e rápidas viaturas – de gama mais baixa – nos levarem onde desejamos, enquanto os telemóveis de última geração – última mesmo! – nos permitirem publicitar as nossas pobres vidas e devassar as alheias, mesmo à custa de um aumento desenfreado da poluição e do consumo de energias não renováveis… poderemos continuar a enterrar as cabeças na areia do tempo e ignorar aquilo que se aproxima a passos largos e já com data marcada, se a comunidade internacional não tomar as medidas há muito preconizadas: o fim do regabofe, da água e da comida, mesmo pouca, além de, e por causa da extinção em cadeia das espécies vegetais e animais, da camada gasosa, do ar que respiramos!
Portanto, é pueril negar as provas das alterações climáticas provocadas pela humanidade. Elas estão aí, cada vez mais visíveis e dramáticas, por muito que negadas até à exaustão por gente insana como o retardado presidente dos Estados Unidos.
É possível que a vida continuasse a ser possível para a casta dos poderosos que poderiam sobreviver em bunkers climatizados ou, até noutros planetas, mas aos sobreviventes marginais restaria a simpática perspectiva de os servir como escravos!
E tudo voltaria ao princípio, mas sem Big Bang…
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