sábado, 8 de agosto de 2020

 CONTRADIÇÕES DA 3ª IDADE

Carlos Rodarte Veloso

“O Templário”, 6 de Agosto de 2020
Ao longo de milénios, a velhice tem sido encarada ora como sinónimo de experiência – e, como tal, valorizada ao ponto de integrar socialmente os corpos dirigentes da comunidade – ora desvalorizada como parte inútil da mesma, ou, simplesmente, como um fardo social.
O nosso tempo actual está dividido entre essas duas concepções extremas, pelo menos no que toca a Portugal: por um lado, a velhice – mais vulgarmente denominada 3ª idade – como um tempo em que as gerações mais idosas continuam a prestar apoio aos mais jovens devido ao cada vez mais difícil acesso a um emprego estável, não apenas sustentando-os, mas mantendo-os na casa familiar, por outro, a ruptura intergeracional, na melhor das hipóteses com a entrega dos idosos a instituições – lares – que os suportem até aos seus derradeiros momentos ou, na pior das hipóteses, o puro e simples abandono dos mesmos em hospitais ou outras instituições afins, situação aliás ilegal quando o internamento não corresponde à situação de doença, mas “apenas” a um alijar de responsabilidades.
Entre estes extremos, assistimos a uma desvalorização dos “maiores” – como lhes chamavam honrosamente no passado e ainda hoje em Espanha – que muitas vezes conduz a abusos e até, a maus tratos, cada vez mais denunciados nas redes sociais.
No entanto, e fugindo a esse extremar de situações, o próprio tratamento dos mais velhos no dia-a-dia corresponde a um conjunto de atitudes paternalistas, que vão desde a infantilização do tratamento, com o predomínio de diminutivos na relação para com eles, quando doentes, mas no próprio contacto informal, abarcando as simples relações comerciais, ou – o que está quase institucionalizado, nas relações entre pessoal de saúde e o “paciente”, denominação essa que diz quase tudo.
Por outro lado, essa atitude de superioridade passa pela redução de todos os doentes a um denominador comum de ignorância total em relação aos assuntos que lhes dizem respeito, quer ao nível médico, quer à simples relação humana.
São raros os técnicos de saúde que “descem” a explicações pormenorizadas sobre a situação de cada doente, como se o pessoal médico e restantes quadros medissem pela mesma bitola todos quantos lhe passam pelas mãos, desvalorizando assim toda a formação que possam – ou não – ter adquirido ao longo da vida, indiferentes a uma possível – e frequente – riqueza de conhecimentos, não poucas vezes superior à deles próprios.
Esta ignorância, por vezes escandalosa, ofende não poucos pacientes, mas é assim que o sistema funciona… lamentavelmente!

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