quinta-feira, 8 de outubro de 2020

 

O ULTIMATO DE UM EMBAIXADOR POUCO DIPLOMÁTICO

Carlos Rodarte Veloso

“O Templário”, 8 de Outubro de 2020

             Há 130 anos Portugal foi ameaçado pela maior superpotência da época, o Reino Unido, o país com quem mantínhamos – mantemos – a mais antiga aliança da nossa História, de corte de relações e invasão armada, se não abandonasse a região africana designada como Mapa Cor-de-Rosa, zona africana entre Angola e Moçambique, compreendida entre os actuais Zimbabwe e Zâmbia, negociada na Conferência de Berlim (1884-85) com as restantes potências europeias coloniais e ainda com a Bélgica de Leopoldo II que através de manobras incrivelmente maquiavélicas se juntara a esse concerto de espoliadores para assim abocanhar um dos pedaços mais apetitosos de um continente a saque.

Portugal bem esgrimiu um hipotético direito histórico – “arqueológico” no dizer dos ingleses – devido às Descobertas, que acabou por ser humilhantemente ignorado, visto o referido território do Mapa Cor-de-Rosa, que unia Angola à Contracosta – Moçambique – interferir com o programa imperial do Reino Unido, apadrinhado por Cecil Rhodes, que pretendia utilizar esse enorme espaço geográfico para unir por um ferrovia contínua o Cairo – protectorado britânico – com a Cidade do Cabo.

Da ferrovia o plano acabou no esquecimento devido aos enormes obstáculos físicos e económicos a tal empreendimento, mas as consequências políticas da rendição portuguesa ao poder britânico saldaram-se num profundo descontentamento social, na ascensão republicana, na criação do nosso Hino Nacional, na falhada revolução de 31 de Janeiro de 1891 e, em última análise, no regicídio e na implantação da República em 1910.

Agora, em pleno século XXI, a superpotência que agora substitui o Reino Unido no domínio do planeta, os Estados Unidos da América, pela mão do inacreditável Donald Trump e do seu embaixador em Lisboa, George Glass, lança descaradamente a Portugal uma bofetada equivalente, ao pretender obrigar o nosso País a afastar a empresa chinesa Huawey da expansão da tecnologia 5G, assim suplantando a sua concorrência com as grandes empresas norte-americanas do sector, sob pena de retaliações económicas sobre a “influência maligna” da China.

Independentemente de outras considerações, nomeadamente das pressões já efectuadas pelos EUA sobre os nossos aliados da União Europeia, a coação sobre Portugal parece tão mais humilhante, que o nosso ministro Santos Silva acabou por responder à letra às ameaças bem musculadas de Glass, respondendo que “em Portugal, as decisões são tomadas pelas autoridades competentes”, legalmente e à margem de quaisquer pressões externas.

Portugal portar-se-á “bem”, não de acordo com o medo, como Trump evidentemente pensa tudo conseguir, mas no concerto da nossa União e de acordo com os interesses europeus.

O tempo dos diktat acabou com Hitler… ou continua pela História dentro?

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