O famoso referendo grego não passou, afinal, de um acto de chantagem desesperado do falecido governo de Atenas. Nem nunca pensaram, de facto, em levá-lo avante. E, no entanto, governos e partidos, tremeram com a simples ideia de um povo poder manifestar soberanamente a sua vontade!
Parece que não há vontade popular que possa alterar os desígnios da gente que governa a nossa velha Europa! Serventuários de poderes apenas divisados na pontas de icebergue das declarações das agências de rating ou da agitação dos todo-poderosos mercados, não são pessoas recomendáveis, com quem gostássemos que os nossos filhos convivessem.
Resta-nos, então, utilizar os direitos que ainda não nos foram retirados, ao menos o da livre expressão do pensamento e o de manifestação, com a certeza de que estes, só por si, serão insuficientes para alterar o rumo das coisas. E o da greve também, quanto mais não seja por uma questão de dignidade. E a dignidade poderá ser a nossa última barricada.
Assim, a questão que nos devemos pôr, é terrivelmente simples: existirá ainda Democracia nesta parte do mundo que habitamos? As lutas que travámos no passado recente contra os fascismos e todos os totalitarismos, apenas substituíram monstros que julgávamos enterrados para sempre, por outros monstros, de mais fino trato apenas, mas armados com as mesmas armas, ferozes da mesma maneira?
Não é uma pergunta académica. É a constatação de que nos encontramos num momento que poderá ser crucial para o futuro da humanidade. Ele depende da atitude colectiva de uma sociedade global
sábado, 19 de novembro de 2011
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
O Referendo
Cada vez há menos certezas. A única que se mantém e reforça, é a de que a União Europeia é hoje um castelo de cartas que a mais pequena aragem pode derrubar. E que tal, como "aragem", o ciclone chamado Referendo grego?
Ouço muitas críticas ao P.M. grego, mas a verdade é que ele tem total razão numa coisa: se a opção é entre mercados e Democracia, a escolha tem que ser feita. Sem demora. E a Grécia, afinal, tem "pequena" responsabilidade de ter criado, numa das suas cidades-estados a primeira democracia do mundo... Há quase 2 500 anos!
Se isso for o começo do fim do sonho europeu, então é porque a Europa ainda não atingiu a maturidade de que necessita para atingir esse ideal.
Porque, se os Estados membros começassem a pensar segundo uma lógica de unidade, de solidariedade, pensando na Europa como um todo, certamente surgiriam soluções, como quando uma região de um Estado está em dificuldades. Sem a martirizar ainda mais. E depressa! Não esqueçamos que a irresolução joga a favor do oportunismo dos mercados, ou seja, dos malfeitores que, na sombra, lambem os beiços. Saboreiam já, por antecipação as gordas fatias do suculento bife que se prepara para lhes cair no poço sem fundo dos estômagos...
Ouço muitas críticas ao P.M. grego, mas a verdade é que ele tem total razão numa coisa: se a opção é entre mercados e Democracia, a escolha tem que ser feita. Sem demora. E a Grécia, afinal, tem "pequena" responsabilidade de ter criado, numa das suas cidades-estados a primeira democracia do mundo... Há quase 2 500 anos!
Se isso for o começo do fim do sonho europeu, então é porque a Europa ainda não atingiu a maturidade de que necessita para atingir esse ideal.
Porque, se os Estados membros começassem a pensar segundo uma lógica de unidade, de solidariedade, pensando na Europa como um todo, certamente surgiriam soluções, como quando uma região de um Estado está em dificuldades. Sem a martirizar ainda mais. E depressa! Não esqueçamos que a irresolução joga a favor do oportunismo dos mercados, ou seja, dos malfeitores que, na sombra, lambem os beiços. Saboreiam já, por antecipação as gordas fatias do suculento bife que se prepara para lhes cair no poço sem fundo dos estômagos...
domingo, 23 de outubro de 2011
A guerra para acabar com todas as guerras
Foi este o mote da 1ª Guerra Mundial, "a guerra para acabar com todas as guerras", e nunca uma esperança humana se viu mais desiludida... Guerra, guerra, com as suas frentes, trincheiras, emboscadas, máquinas destruidoras, inúmeras baixas, destruições, dominou longamente o longo século XX.
A união da Europa numa comunidade solidária era o maior dos sonhos, e o final da 2ª Guerra Mundial parecia abrir a porta à sua concretização. E no meio de mais guerras, lutas nacionais e revoluções, os velhos inimigos faziam as pazes e o sonho de uma Europa unida parecia ao alcance da mão.
Mas havia uma outra guerra - no fundo, era a mesma guerra, mas mais "discreta" - que decorria nos bastidores das pátrias agora dispostas ao entendimento: era o domínio crescente dos grupos que sempre tinham manipulado gente e princípios. De vez em quando, sobressaía um nome, uma figura, iluminada pelos clarões dos media, mas logo se escondia. O verdadeiro poder é o que fica na sombra. Os Estados, na medida em que representavam - ou diziam representar - os interesses nacionais, eram elementos a abater ou, na melhor das hipóteses, a ser reduzidos à expressão mais simples.
O Liberalismo económico, chumbado na Crise de 1929, ressurgiu nos anos 80, a bradar a impossibilidade do Estado Previdência e o futuro colapso das suas instituições. E, como a memória humana é curta - o conhecimento da História é, porventura a sua única vacina - lá regressaram as estafadas fórmulas de condenação do papel social do Estado e de exaltação da iniciativa privada como único remédio para todos os problemas.
Pois... Mas a verdadeira guerra era outra, que Marx já identificara no século XIX. A guerra entre os que tudo possuem e aqueles que os engordam e, numa atitude de masoquismo inacreditável, os perpetuam também nos órgãos do Poder: a Luta de Classes. É que não vale as pena dourar a pílula: o velho Marx estava coberto de razão, por muito que custe a quem desde sempre o tentou enterrar sob a poeira do tempo. E os seus maus seguidores não são razão para o abandonarmos. Sempre os grandes reformadores foram traídos pelos seus seguidores. Veja-se o caso de Cristo!
É o que hoje vemos, aqui, neste Portugal inesperadamente pobre, numa Europa no mesmo caminho. É que a velha Europa faz muita sombra a poderes sem rosto, que se arrepiam perante um continente unido e uma moeda única que fez tremer o dólar. Há quem aponte ao euro a responsabilidade pela Guerra do Iraque, pois Sadam dava preferência à moeda europeia sobre o todo-poderoso dólar.
E essa guerra, menos espectacular porque oculta, começa agora a evidenciar a sua face medonha, indiferente aos valores que enriqueceram durante séculos a civilização ocidental: a Democracia, a Solidariedade, a Cultura.
Mais cedo ou mais tarde, todas as pessoas que ainda reivindicam o estatuto de Seres Humanos, terão que encontrar um caminho, fora das fórmulas consagradas. E será uma Guerra. A verdadeira Guerra para acabar com todas as Guerras.
A união da Europa numa comunidade solidária era o maior dos sonhos, e o final da 2ª Guerra Mundial parecia abrir a porta à sua concretização. E no meio de mais guerras, lutas nacionais e revoluções, os velhos inimigos faziam as pazes e o sonho de uma Europa unida parecia ao alcance da mão.
Mas havia uma outra guerra - no fundo, era a mesma guerra, mas mais "discreta" - que decorria nos bastidores das pátrias agora dispostas ao entendimento: era o domínio crescente dos grupos que sempre tinham manipulado gente e princípios. De vez em quando, sobressaía um nome, uma figura, iluminada pelos clarões dos media, mas logo se escondia. O verdadeiro poder é o que fica na sombra. Os Estados, na medida em que representavam - ou diziam representar - os interesses nacionais, eram elementos a abater ou, na melhor das hipóteses, a ser reduzidos à expressão mais simples.
O Liberalismo económico, chumbado na Crise de 1929, ressurgiu nos anos 80, a bradar a impossibilidade do Estado Previdência e o futuro colapso das suas instituições. E, como a memória humana é curta - o conhecimento da História é, porventura a sua única vacina - lá regressaram as estafadas fórmulas de condenação do papel social do Estado e de exaltação da iniciativa privada como único remédio para todos os problemas.
Pois... Mas a verdadeira guerra era outra, que Marx já identificara no século XIX. A guerra entre os que tudo possuem e aqueles que os engordam e, numa atitude de masoquismo inacreditável, os perpetuam também nos órgãos do Poder: a Luta de Classes. É que não vale as pena dourar a pílula: o velho Marx estava coberto de razão, por muito que custe a quem desde sempre o tentou enterrar sob a poeira do tempo. E os seus maus seguidores não são razão para o abandonarmos. Sempre os grandes reformadores foram traídos pelos seus seguidores. Veja-se o caso de Cristo!
É o que hoje vemos, aqui, neste Portugal inesperadamente pobre, numa Europa no mesmo caminho. É que a velha Europa faz muita sombra a poderes sem rosto, que se arrepiam perante um continente unido e uma moeda única que fez tremer o dólar. Há quem aponte ao euro a responsabilidade pela Guerra do Iraque, pois Sadam dava preferência à moeda europeia sobre o todo-poderoso dólar.
E essa guerra, menos espectacular porque oculta, começa agora a evidenciar a sua face medonha, indiferente aos valores que enriqueceram durante séculos a civilização ocidental: a Democracia, a Solidariedade, a Cultura.
Mais cedo ou mais tarde, todas as pessoas que ainda reivindicam o estatuto de Seres Humanos, terão que encontrar um caminho, fora das fórmulas consagradas. E será uma Guerra. A verdadeira Guerra para acabar com todas as Guerras.
Passagem da Linha
Criar um blogue foi coisa que durante muito tempo mantive afastada da ideia. Penso que encarava esse tipo de exposição como o acto de exibicionismo de quem se imaginava suficientemente interessante para influenciar um auditório heterogéneo, e inteligente o bastante para manter a cabeça à tona de água perante a agitação provocada por todo o tipo de respostas, comentários e, porventura, provocações que daqui poderiam sair.
Há alguns anos, intervinha regularmente na imprensa local de Tomar, terra onde vivo há 25 anos, com comentários motivados pela situação nacional e internacional e com base também em eventos culturais que me pareciam especialmente apetitosos. Eram crónicas, nem sempre especialmente bem comportadas, sujeitas for vezes ao fogo da controvérsia. Mas o meio era pequeno, e estava-se em casa.
Pois mesmo esse apetite foi diminuindo nos últimos anos face à deterioração da nossa situação na Europa e no Mundo, como País e como Povo. E essa depressão que tudo invade, no País e no Mundo, já passou há muito a Linha que sempre me parecera o limite do razoável.
Não uma linha desejável, como a Passagem da Linha do Equador, que anunciava aos navegantes algo de novo e de excitante, porventura um futuro, outro futuro. Esta linha agora ultrapassada apenas anuncia uma ausência total de perspectivas, possivelmente um retrocesso civilizacional.
Entretanto e tantas vezes através da Internet, massas crescentes de gente fazem ouvir a sua voz e organizam-se, fazendo o impensável: invadindo praças e avenidas de todo o Mundo, ameaçando regimes já esquecidos dos ideais que defendiam e derrubando ditaduras.
Será a montanha que pariu um rato, ou o nosso ameaçado planeta poderá sonhar ainda com um novo paradigma, em que o lugar dos monstros do nosso tempo, como os nervosos mercados de que tanto se fala e as suas orientadoras, as agências de rating, haja um lugar para a espécie humana, gente de carne e osso?
Por acreditar ainda nisso, vou começar, ao ritmo que a preguiça e os intervalos do trabalho o permitirem, a botar palavra sobre o que me passar pela cabeça.
Há alguns anos, intervinha regularmente na imprensa local de Tomar, terra onde vivo há 25 anos, com comentários motivados pela situação nacional e internacional e com base também em eventos culturais que me pareciam especialmente apetitosos. Eram crónicas, nem sempre especialmente bem comportadas, sujeitas for vezes ao fogo da controvérsia. Mas o meio era pequeno, e estava-se em casa.
Pois mesmo esse apetite foi diminuindo nos últimos anos face à deterioração da nossa situação na Europa e no Mundo, como País e como Povo. E essa depressão que tudo invade, no País e no Mundo, já passou há muito a Linha que sempre me parecera o limite do razoável.
Não uma linha desejável, como a Passagem da Linha do Equador, que anunciava aos navegantes algo de novo e de excitante, porventura um futuro, outro futuro. Esta linha agora ultrapassada apenas anuncia uma ausência total de perspectivas, possivelmente um retrocesso civilizacional.
Entretanto e tantas vezes através da Internet, massas crescentes de gente fazem ouvir a sua voz e organizam-se, fazendo o impensável: invadindo praças e avenidas de todo o Mundo, ameaçando regimes já esquecidos dos ideais que defendiam e derrubando ditaduras.
Será a montanha que pariu um rato, ou o nosso ameaçado planeta poderá sonhar ainda com um novo paradigma, em que o lugar dos monstros do nosso tempo, como os nervosos mercados de que tanto se fala e as suas orientadoras, as agências de rating, haja um lugar para a espécie humana, gente de carne e osso?
Por acreditar ainda nisso, vou começar, ao ritmo que a preguiça e os intervalos do trabalho o permitirem, a botar palavra sobre o que me passar pela cabeça.
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