Palmira, património mundial em perigo
Publicado em O Templário, 4-6-2015
Os avanços dos militantes do auto-intitulado
Estado Islâmico (E.I.) na Síria e no Iraque já demonstraram
cabalmente que não estamos “apenas” perante um sanguinário movimento terrorista,
assumidamente destinado a fazer retroceder o mundo a uma idade de trevas já apenas
recordada nas páginas da História.
A par da inacreditável selvajaria
com que lidam com as populações e o retrocesso civilizacional que representam,
nomeadamente para com os direitos da mulheres, das minorias e para com todos os
restantes direitos fundamentais, estes fanáticos santões soltam a sua fúria
contra os vestígios do passado brilhante de que somos herdeiros.
A exemplo dos seus antecessores e actuais aliados, os
taliban, que já tinham demonstrado esses bárbaros desígnios ao dinamitarem as
monumentais estátuas de Buda em Bamiyan, no Afeganistão, em 2001, os fanáticos
do E.I. começaram já a imitá-los.
Assim, destruíram já 30 séculos de
História ao fazerem explodir, com martelos ou com explosivos os vestígios
arqueológicos da cidade assíria de Nimrud, no Iraque, para apagar os que eles
chamam – imagine-se – “a idade da ignorância” isto é, os tempos anteriores a
Maomé! Não contentes com a barbaridade do acto, publicitaram-no na Internet.
Agora é a vez de Palmira, velha cidade
síria e antiga capital da Rota da Seda, ocupada pelos Romanos e governada
durante algum tempo pela rebelião da rainha Zenóbia, classificada pela UNESCO,
em 1980, como Património da Humanidade, mais uma preciosidade nas mãos destes
vândalos dos tempos modernos.
As reacções mundiais, de tal maneira
se fizeram ouvir, entre outras as da directora da UNESCO e da direcção da
Universidade de Al-Azhar, no Cairo, que o comandante local do E.I. já declarou
que não iria tocar nos monumentos históricos mas, cito: “Vamos pulverizar a
estátuas que os hereges costumavam idolatrar.”
Pretende assim o E.I. “tranquilizar”
a consciência do Mundo Livre: “apenas” as estátuas serão destruídas; poderemos
contentar-nos com as colunas, com o teatro, os templos, mesmo que antigamente
adorados pelos “hereges”!
Nós, que nos revemos no passado
prestigioso das civilizações que nos antecederam, que nos deram a razão de ser.
Nós que pegamos em discursos, em abaixo-assinados a todo o momento, mas só nos
arriscamos a sério quando se trata de defender poços de petróleo, bancos,
negócios escuros... Nós, que somos os “bons da fita”... Não devíamos fazer alguma coisa a favor, não
“apenas” daquela gente que sofre às mãos do fanatismo, mas também desse
Património que é nosso, que é da Humanidade?
Carlos Rodarte Veloso
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