domingo, 7 de junho de 2015


Palmira, património mundial em perigo
Publicado em O Templário, 4-6-2015

 Os avanços dos militantes do auto-intitulado Estado Islâmico (E.I.) na Síria e no Iraque já demonstraram cabalmente que não estamos “apenas” perante um sanguinário movimento terrorista, assumidamente destinado a fazer retroceder o mundo a uma idade de trevas já apenas recordada nas páginas da História.
A par da inacreditável selvajaria com que lidam com as populações e o retrocesso civilizacional que representam, nomeadamente para com os direitos da mulheres, das minorias e para com todos os restantes direitos fundamentais, estes fanáticos santões soltam a sua fúria contra os vestígios do passado brilhante de que somos herdeiros.
A exemplo  dos seus antecessores e actuais aliados, os taliban, que já tinham demonstrado esses bárbaros desígnios ao dinamitarem as monumentais estátuas de Buda em Bamiyan, no Afeganistão, em 2001, os fanáticos do E.I. começaram já a imitá-los.
Assim, destruíram já 30 séculos de História ao fazerem explodir, com martelos ou com explosivos os vestígios arqueológicos da cidade assíria de Nimrud, no Iraque, para apagar os que eles chamam – imagine-se – “a idade da ignorância” isto é, os tempos anteriores a Maomé! Não contentes com a barbaridade do acto, publicitaram-no na Internet.
Agora é a vez de Palmira, velha cidade síria e antiga capital da Rota da Seda, ocupada pelos Romanos e governada durante algum tempo pela rebelião da rainha Zenóbia, classificada pela UNESCO, em 1980, como Património da Humanidade, mais uma preciosidade nas mãos destes vândalos dos tempos modernos.
As reacções mundiais, de tal maneira se fizeram ouvir, entre outras as da directora da UNESCO e da direcção da Universidade de Al-Azhar, no Cairo, que o comandante local do E.I. já declarou que não iria tocar nos monumentos históricos mas, cito: “Vamos pulverizar a estátuas que os hereges costumavam idolatrar.”
Pretende assim o E.I. “tranquilizar” a consciência do Mundo Livre: “apenas” as estátuas serão destruídas; poderemos contentar-nos com as colunas, com o teatro, os templos, mesmo que antigamente adorados pelos “hereges”!
Nós, que nos revemos no passado prestigioso das civilizações que nos antecederam, que nos deram a razão de ser. Nós que pegamos em discursos, em abaixo-assinados a todo o momento, mas só nos arriscamos a sério quando se trata de defender poços de petróleo, bancos, negócios escuros... Nós, que somos os “bons da fita”... Não devíamos fazer alguma coisa a favor, não “apenas” daquela gente que sofre às mãos do fanatismo, mas também desse Património que é nosso, que é da Humanidade?

Carlos Rodarte Veloso


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