segunda-feira, 26 de junho de 2017


AS IGREJAS RUPESTRES DO VALE DO EBRO

Carlos Rodarte Veloso

(Publicada no "Correio Transmontano", 25-6-2017


            O Ebro, o segundo maior rio da Península Ibérica, nasce na Cantábria, próximo de Reinosa, capital da região de Campoo, transformando-se, poucos quilómetros decorridos, numa grande albufeira que atinge um comprimento de 18 quilómetros e uma largura máxima de cerca de 6. Esta região plana, largo vale delimitado por montanhas e frequentado por neblinas, é húmida e fértil pastagem para gado bravo, e local onde poisam enormes bandos de melros e outros pássaros.
            Abandonando a albufeira, o rio continua para sul até próximo do limite da Cantábria, inflectindo então para leste, rápida e tumultuosamente, para serpentear através da região que ganhou o seu nome, Valederredible da antiga designação medieval Val de Ripa Hibre, que é o mesmo que Vale do Ebro.
            Este curso sinuoso do rio desenrola-se no meio de uma paisagem deslumbrante, em que a verdura é a tónica dominante, como que uma despedida antes de entrar na pesada aridez de Castela.
            No entanto, o que dá o tom de maior originalidade a esta bela região, são as suas extraordinárias igrejas rupestres, datadas de entre os séculos VIII e X, escavadas no arenito, rocha aqui predominante, geralmente aperfeiçoadas com alguns acrescentamentos, como pequenas porções de muro construídas em pedra, portas e janelas em madeira ou protegidas por grades, ou pequenos campanários de construção mais recente.
            Diversos autores explicam estas velhas construções com a necessidade que as populações cristãs da Reconquista tiveram de ocultar a sua fé dos muçulmanos, ainda activos por estes lados, com um verdadeiro sistema de camuflagem. O tipo de rocha, relativamente fácil de escavar, explicaria a sua ocorrência apenas nesta região e noutras próximas, já em território castelhano da província de Burgos.
            A corrente que defende que estas igrejas teriam sido escavadas por monges eremitas visigodos não explica a complexidade do trabalho aqui despendido, decerto colectivo e organizado, nem a existência de numerosas sepulturas igualmente escavadas na rocha, cujos despojos humanos testemunham uma população diversificada.
            Entre as igrejas rupestres de maior interesse desta região, contam-se as de Cezura, Santa María de Valverde, Campo de Ebro, Cadalso, Arroyuelos — a mais monumental, de dois andares, integra um enorme pilar prismático que a divide em duas naves — e Presillas de Bricia, já em território de Burgos, a  mais perfeita de todas, claramente integrada no conjunto cultural aqui descrito.

            Não sendo um fenómeno exclusivo de Espanha, constitui, no entanto, um alto motivo de interesse para ilustrar a variedade de soluções encontradas pelas populações que, em toda a Península Ibérica, viveram a experiência da Reconquista cristã.




sábado, 24 de junho de 2017


FONTES DE ROMA

Carlos Rodarte Veloso

(“O Templário”, 22 de Junho de 2017)

Luz, luz intensa, céu e mármore mas, principalmente, a luz recortada pelas sombras, reflectida pelas águas, ora agitadas, ora mansas das mil fontes, preenchidas pelas formas exuberantes de homens e deuses, heróis e santos também, humanidade fervilhando nas velhas pedras esculpidas onde meteram a mão génios como Bernini, Salvi e Bresciano.



Pedras esculpidas, ombro a ombro com esta humanidade inquieta, de carne e osso, que deambula ou dança nos próprios pés ou sobre a infinidade de rodas que giram em trajectórias impossíveis, num bailado infinito pontuado pelo som de buzinas e exclamações, numa estranhíssima harmonia que parece ecoar nas calçadas o movimento das águas límpidas movidas em cascata, repuxos, tranquilos regatos, poalha líquida que refresca e encanta com o arco-íris.
E os gatos! Também os gatos, agachados nos vãos das colunatas ou equilibrados sobre as formas oblongas das pedras em ruínas, outra forma de humanidade nos milhares de boas almas que os alimentam e acarinham, dimensão comovente da solidariedade entre espécies. Gente que não precisou da tão importante lição de ambientalistas e outros defensores dos animais. Gatos que são indissociáveis das formas arquitectónicas do Panteão, do Forum, do Coliseu, de todas as maravilhas pétreas dessa Cidade que representa a matriz da Civilização.

Dedicar-te-ia, ó Roma, palavras mais sentidas do que quantas já expressei. Mas não vale a pena. Já tudo disseram sobre ti, Cidade-Mãe do mundo, do meu mundo em ruínas.


quarta-feira, 21 de junho de 2017



OS INCÊNDIOS, ÚLTIMA "JANELA DE OPORTUNIDADE" DA DIREITA: INTRIGA, BOATO E CALÚNIA, A ÚNICA LINGUAGEM QUE CONHECE

(21 - 07 - 2016)

Mentiras, boatos, todo o ruído da polémica - quando não há nenhum motivo para tal - tudo serve para tentar aproveitar o maná dos incêndios e assacar as culpas ao actual governo. Gente com consciências bem pesadas - se as tivessem - como Assunção Cristas que, como ministra da agricultura do PàF deu um belo empurrão à política de eucaliptização e agora vem pedir contas, ou Cavaco e Silva, que ainda não disse nada, mas está na origem de todos problemas nascidos da quase extinção da agricultura nacional e das pescas em troca de migalhas da União Europeia (então Mercado Comum Europeu), ou os diversos ex-governantes do PSD e CDS, com bastas culpas no cartório. É essa gentalha que alimenta estes fogos fátuos da calúnia, com que tentam ultrapassar o seu total desprestígio e crescente impopularidade. Com as Autárquicas à porta, vale tudo!

quinta-feira, 15 de junho de 2017


O DESGOSTO DE MARINE LE PEN

Carlos Rodarte Veloso

(“O Templário”, 15 de Junho de 2017)

As recentes eleições no Reino Unido e em França, sem constituirem uma vitória formal das forças de Esquerda, representam, a meu ver, uma travagem – consistente? – da política anti-europeísta e populista que, sob a batuta do louco da Casa Branca, por sua vez muito possivelmente manipulado pelo czar Putin, proclamava alto e a bom som a próxima e desejável destruição da União Europeia.



A este propósito se associaram os promotores do Brexit e a pretendente neo-fascista à presidência da França, Marine Le Pen, fazendo coro com os diversos governos populistas e proto-fascistas instalados em vários países da União Europeia.
Como pano de fundo o ataque aos refugiados, ao mesmo tempo bodes expiatórios e vítimas dos crimes do auto-proclamado “Estado Islâmico”. O endurecimento das medidas desses governos contra estas multidões de fugitivos estavam a ponto de ser ampliadas em termos cada vez mais anti-democráticos pela PM britânica, Theresa May que, em vésperas das eleições de 8 de Junho prometia demitir-se no caso de não ampliar os resultados que a tinham conduzido a Downing Street. Não só os não ampliou, como os diminuiu drasticamente. E não cumpriu a promessa.
Tudo isto redunda no enfraquecimento da posição do PM, que dificilmente poderá incrementar o seu anunciado projecto de “hard brexit” a par com as medidas repressivas dos direitos fundamentais, projecto que parecia decalcado das políticas anti-emigratórias de Donald Trump.
Quem sai a ganhar é o anunciado “morto” para a política, o trabalhista Jeremy Corbyn, mais favorável a um “soft brexit” e ultracrítico em relação às medidas antidemocráticas enunciadas por Theresa May. Esta, por outro lado e na impossibilidade de conseguir uma maioria parlamentar que lhe permita governar, alia-se ao partido Unionista da Irlanda do Norte (DUP), “casamento” que poderá gerar ainda mais dificuldades para a difícil paz social naquele território.
A 1ª volta das eleições legislativas francesas de 11 de Junho, revelava-se bastante difícil para o presidente eleito, Emmanuel Macron, em risco de se ver isolado por um parlamento hostil, mantendo-se ainda o perigo de a Frente Nacional de Marine Le Pen aqui conseguir o que falhara nas presidenciais.
Apesar das expectativas pouco auspiciosas, a eleição redundou numa vitória claríssima  da “República em Marcha” de Macron, embora as mais de 50% de abstenções exijam, para bem do regular funcionamento da 5ª República, um aumento significativo da participação dos cidadãos na 2ª volta eleitoral.
Para Marine Le Pen esta vitória de Macron é o dobre de finados das suas aspirações políticas a longo prazo e ela lamenta estes “resultados catastróficos para a Frente Nacional” ao mesmo tempo que invoca a necessidade de um novo esforço para obter, na 2º volta, uma posição que lhe permita resgatar tão fracos resultados.
Devo dizer que com o desgosto de Marine Le Pen podemos nós bem. É até um poderoso indicador de que alguma coisa de bom tem sido feito, apesar das críticas de uma certa “esquerda”, apoiante de Maduro, da Coreia do Norte e da Rússia, aparentemente saudosa dos bons tempos bipolares da Guerra Fria, quando esses regimes eram considerados “democráticos”.
Na esquerda radical, a “França Insubmissa” de François Mélanchon, invoca a brutal abstenção como uma vitória contra Macron, agora apresentado como “inimigo principal” do seu projecto. É evidente que a União Europeia, do modo como tem sido configurada, não parece especialmente atractiva para as nações europeias.
No entanto estes resultados, aliados à pressão de Trump e dos seus “aliados”, nomeadamente em relação ao abandono do “Acordo de Paris” sobre o clima, têm aproximado os apoiantes de uma União Europeia igualitária e de costas voltadas para os EUA.

Poderemos dizer que “Trump escreve direito por linhas tortas”?

quinta-feira, 8 de junho de 2017



PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE EM PERIGO

Carlos Rodarte Veloso

Publicado "Templário" de 8-6-2017
A denúncia apresentada no dia 2 de Junho, no programa “Sexta às Nove”, na RTP1, lançou quantos o viram na maior perplexidade e indignação. O alvo da denúncia era nem mais nem menos do que os atentados infligidos ao Convento de Cristo, o monumento maior da nossa História, maravilhoso livro de pedra que, página a página, revela o engenho e arte dos seus construtores,  uns, portugueses, outros vindos de diferentes paragens, todos contribuindo para a maior glória de uma época que se estende da Idade Média até às vésperas da contemporaneidade.
Um filme produzido por uma equipa internacional chefiada pelo famoso realizador Terry Gilliam ointitulado “O Homem que matou D. Quixote”, levou à utilização totalmente imprópria e por natureza proibida pelas mais elementares normas do bom-senso, de um espaço privilegiado do Convento, o Claustro da Hospedaria de João de Castilho.
Aí foi ateada uma fogueira em forma de pirâmide, com cerca de 20 metros de altura, alimentada por dezenas de botijas de gás butano  criando um ambiente tórrido que fez estalar a pedra de base de algumas das colunas do mesmo claustro. A onda de calor e os consequentes estragos teriam alastrado ao espaço contíguo, o Claustro de Santa Bárbara onde se situa, a uma distância de cerca de 20 metros do fogo, a famosa “Janela do Capítulo” de Diogo de Arruda, ex-libris da Cidade e exemplo paradigmático do Manuelino, obra escultórica em grave risco devido à poluição e à ausência, ao longo de décadas, dos mais elementares cuidados de conservação e restauro. O delicado calcário que a constitui, bem deveria ser poupado às menores agressões ambientais, quanto mais ao calor provocado pela pira, cuja combustão, alimentada pelo gás butano, terá atingido temperaturas altíssimas.
Também o corte, total ou parcial de diversas árvores daquele espaço, pela equipa de filmagem, constitui mais um prejuízo, neste caso sobre a natureza, um bem igualmente inestimável, em minha opinião.
Impõe-se, evidentemente, a definição dos estragos e a sua imputação à produção do filme, cujas declarações fazem acreditar estar pronta para accionar os mecanismos de reparação e indemnização. Mas falar em “reparação” de estragos no património faz crer que não há nestas mentes a mais pequena ideia daquilo que representam os estragos sobre o Património. Será, para eles, talvez como reparar um automóvel que se avariou ou ficou com a chapa amolgada. Nada mais do que isso...
As opiniões de antigos directores do Convento, nomeadamente Luís Graça e Jorge Custódio, bem como do historiador de Arte Pedro Dias e do director do grupo de Teatro “Fatias de Cá”, são categóricas: quando no passado o simples acendimento de tochas era proibido em todo o interior do Convento, só sendo autorizadas lamparinas ou velas, quando os próprios espectáculos de Teatro foram interditados como medida de protecção do Monumento, quando a própria aplicação de um prego tinha que ser devidamente autorizada, é incompreensível e altamente chocante toda esta alegre irresponsabilidade.
Isto aparentemente para facturar 172.000 de euros, a tarifa pela utilização do espaço conventual. Este dinheiro maldito parece ter obturado os sentidos dos responsáveis, tendo os próprios funcionários receio de quaisquer declarações que pudessem pôr em risco os seus empregos.
A denúncia apresentada no referido programa da RTP, refere ainda um alegado esquema fraudulento relativo à cobrança das entradas dos visitantes, acusação esta não comprovada.

Não tendo aceitado uma entrevista para a RTP, a resposta a estas acusações foi feita por escrito pela Directora do Convento, em conjunto com uma responsável da Direcção-Geral do Património, reduzindo este gravíssimo atentado ao Património Nacional a um simples "acidente", embora afirmando ter havido um acompanhamento diário de todo o processo das filmagens pela direcção do Convento!


Tal "justificação", perfeitamente pueril dada a gravidade dos factos é inaceitável. Se há responsabilidades, elas têm que ser assumidas, mas não por “bodes expiatórios” sempre a jeito para assumirem as culpas. Conheço muitos dos funcionários da Convento de Cristo, muitos deles meus ex-alunos e alunas, outros, velhos e velhas amigas, e poria as mãos no fogo sobre a sua honestidade. Mas a investigação dos factos impõe-se como imperativo de consciência, até para eliminar qualquer clima de suspeição que possa ter sido gerado. Com todas as consequências.


sábado, 3 de junho de 2017


ÊXTASE DE SANTA TERESA DE ÁVILA, DE BERNINI
Carlos Veloso

(Publicado n’ O Templário de 1-6-2017)


                Na mais extraordinária ambiguidade de valores, o belíssimo grupo escultórico que é obra-prima de Gianlorenzo Bernini, o Êxtase de Santa Teresa de Ávila esculpido em mármore entre 1647 e 1651, pertence à Capela Cornaro da Igreja de Santa Maria della Vittoria, em Roma, e é considerado, não apenas a obra-prima do mestre do Barroco, mas uma das mais belas e polémicas obras de toda a História da Arte.


               A parte central da obra consta de duas únicas personagens, o Anjo portador da flecha e Santa Teresa de Ávila — ou de Jesus —, a enérgica reformadora carmelita, famosa pelas obras em que relata as suas visões e êxtases — os livros autobiográficos (1562-1579) e Castelo Interior ou As Moradas (1588).

As duas figuras centrais são banhadas pela luz vinda do alto, representada sob a forma de raios dourados esculpidos, enquanto a Mística, cujas vestes revoltas são agitadas pelo vento, parece sustentada por nuvens de mármore, tão etéreas que parecem destituídas de peso. A cena ilustra a própria narrativa de Santa Teresa, que descreve a sua experiência mística ocorrida em 1559, quando lhe teria surgido um Anjo da ordem dos Serafins: “via-lhe nas mãos um dardo comprido de ouro e na ponta parecia ter fogo; pareceu-me trespassar o coração várias vezes e chegar-me às entranhas. Ao tirá-lo parecia-me que as levara consigo e deixava-me toda abrasada em amor grande de Deus.” 
                Embora não apresente quaisquer confusões do ponto de vista iconográfico, ou seja, apesar de se mostrar correcta na representação do momento em que Santa Teresa, trespassada pela flecha do amor divino empunhada pelo Anjo, desfalece em êxtase puro, não têm faltado, ao longo dos tempos, os mais corrosivos comentários de muitos ilustres visitantes que admiraram esta bela obra. De facto, emana dela uma sensualidade tão densa que parece materializar-se, sendo célebre a observação irónica do Presidente de Brosses: “Se aqui se trata do amor divino, eu conheço-o”. Também o grande escritor Stendhal se lhe refere, embora admirativamente: “É a expressão mais viva e natural. Que divina arte! Que voluptuosidade!”.
Também se levantaram vozes críticas entre os católicos mais conservadores, tendo alguns chegado a considerá-la “indecente”. O próprio monge que acompanhava Stendhal não deixa de considerar “grande pecado” que tais estátuas pudessem “representar facilmente a ideia de um amor profano”… Deixemos a Bernini a sua própria interpretação da imagem, segundo ele “toda agitada pelo grande amor de Deus”.
                É claro que toda a obra de arte é uma “obra aberta”, sujeita, logo a partir da criação, aos juízos e às interpretações dos seus “consumidores” que, não raramente, acabam por lhe mudar o significado original. No entanto, a falta de enquadramento histórico desta escultura será um dos principais motivos para a polémica instalada, tornando-a quase “maldita” junto de certas consciências mais conservadoras.
Tratando-se de uma obra concebida e executada em período de grande vigilância das autoridades eclesiásticas sobre todas as obras de arte, especialmente as religiosas, seria extremamente perigoso a alguém, para mais um artista cujas obras nunca passariam despercebidas, cometer o erro de suscitar críticas relativamente à sua ortodoxia católica. As regras dimanadas do Concílio de Trento, em 1563, continuavam bem vivas, não admitindo qualquer desvio ou confusão ideológica que prejudicasse a fé dos crentes.
                Por outro lado, trata-se de uma obra barroca e o próprio enquadramento teatral da escultura, emoldurada por um magnífico retábulo em jeito de palco, rodeada de camarotes, preenchidos com elementos da família Cornaro, no papel de espectadores, nem por isso especialmente atentos, acentua esse carácter. A sobreposição do êxtase religioso com o êxtase sexual não é rara na Arte barroca nem, de resto, em outras épocas, chegando essa ambiguidade a ser explorada dentro dos próprios domínios da ciência médica.




Mas Amor é sempre Amor, seja ele divino ou humano e próprio Anjo com a sua flecha é frequentemente assimilado ao Eros grego, o Cupido dos Romanos… O que é curioso é que, tratando-se essa ambiguidade de uma característica quase “estilística” do Barroco, todas as baterias da crítica se tenham voltado precisamente para esta obra de Bernini. Para esta e não, por exemplo, para a Agonia de Beata Ludovica Albertoni esculpida quase dez anos depois – Igreja de San Francisco a Ripa, em Roma ―, em que a violência da agonia, transfigurada em êxtase, não é menos intensa que a de Santa Teresa! … Morte e sexualidade, Thanatos e Eros, aparecem aqui associadas de forma pioneira.
Talvez a diferença assente em alguns aspectos que nada têm que ver com a escultura propriamente dita, mas com a personalidade da própria retratada, Santa Teresa… Tratava-se de um figura de mulher pouco convencional, de uma energia e inteligência pouco consentâneas com as características ditas “femininas” da sua época e das que se seguiram, uma verdadeira intelectual da Igreja, o que lhe veio a valer, mas só em 1970, o título de primeira Doutora da Igreja… Ela conseguiu, em parte, quebrar o cerco que não permitia às mulheres notabilizar-se intelectualmente num mundo dominado pelos homens.

                Quão agradável não seria para eles rebaixar esta figura ao plano “meramente humano” de uma “fraca mulher” ávida dos prazeres dos sentidos? … Ou então, talvez toda a culpa seja de Bernini que a esculpiu tão bela, o jovem corpo palpitando debaixo do burel, dando o seu amor, todo, a Deus, e não a alguma bem-pensante personagem, sempre pronta a apedrejar os “pecados” do próximo…

O CONVENTO DE CRISTO ALVO DE 
VANDALISMO DEVIDO A FILMAGENS
Carlos Rodarte Veloso

É uma vergonha para Tomar a irresponsabilidade que permitiu que o principal Monumento Nacional, classificado como Património da Humanidade pela Unesco, o Convento de Cristo, tenha sido descurado ao ponto de se permitir a sua vandalização, a pretexto da filmagem de um filme internacional, através do uso de uma fogueira de 20 metros de altura alimentada por dezenas de garrafas de butano no interior de um dos seus principais claustros, a consequente deterioração de muita da sua cantaria e a destruição de diversas árvores, chegando ao ponto de afectar a janela de Diogo de Arruda conhecida como "Janela do Capítulo", ex-libris de Tomar e um dos exemplos máximos do Manuelino.



A denúncia apresentado no programa de ontem da RTP, "Sexta às Nove", denuncia igualmente um velho esquema fraudulento relativo à cobrança das entradas dos visitantes.
Não tendo aceitado uma entrevista para a RTP, a resposta a estas acusações foi feita por escrito pela Directora do Convento, em conjunto com uma responsável da Direcção-Geral do Património, reduzindo este gravíssimo atentado ao Património Nacional a um simples "acidente".
Tal "justificação" não tem ponta por onde se lhe pegue, pelo que que se impõe um inquérito aprofundado a todos os factos relativos a esta triste notícia. Doa a quem doer!

quinta-feira, 1 de junho de 2017



DIA MUNDIAL DA CRIANÇA DE 1974
HÁ 43 ANOS

Postal de Carlos Rodarte Veloso
Ano 1 da Revolução