AS IGREJAS RUPESTRES DO VALE DO EBRO
Carlos Rodarte Veloso
(Publicada no "Correio Transmontano", 25-6-2017
(Publicada no "Correio Transmontano", 25-6-2017
O Ebro, o segundo maior rio da Península Ibérica, nasce na Cantábria, próximo de Reinosa, capital da região de Campoo, transformando-se, poucos quilómetros decorridos, numa grande albufeira que atinge um comprimento de 18 quilómetros e uma largura máxima de cerca de 6. Esta região plana, largo vale delimitado por montanhas e frequentado por neblinas, é húmida e fértil pastagem para gado bravo, e local onde poisam enormes bandos de melros e outros pássaros.
Abandonando a albufeira, o rio continua para sul até próximo do limite da Cantábria, inflectindo então para leste, rápida e tumultuosamente, para serpentear através da região que ganhou o seu nome, Valederredible da antiga designação medieval Val de Ripa Hibre, que é o mesmo que Vale do Ebro.
Abandonando a albufeira, o rio continua para sul até próximo do limite da Cantábria, inflectindo então para leste, rápida e tumultuosamente, para serpentear através da região que ganhou o seu nome, Valederredible da antiga designação medieval Val de Ripa Hibre, que é o mesmo que Vale do Ebro.
Este curso sinuoso do rio
desenrola-se no meio de uma paisagem deslumbrante, em que a verdura é a tónica
dominante, como que uma despedida antes de entrar na pesada aridez de Castela.
No entanto, o que dá o tom
de maior originalidade a esta bela região, são as suas extraordinárias igrejas
rupestres, datadas de entre os séculos VIII e X, escavadas no arenito, rocha
aqui predominante, geralmente aperfeiçoadas com alguns acrescentamentos, como
pequenas porções de muro construídas em pedra, portas e janelas em madeira ou
protegidas por grades, ou pequenos campanários de construção mais recente.
Diversos autores explicam
estas velhas construções com a necessidade que as populações cristãs da
Reconquista tiveram de ocultar a sua fé dos muçulmanos, ainda activos por estes
lados, com um verdadeiro sistema de camuflagem. O tipo de rocha, relativamente
fácil de escavar, explicaria a sua ocorrência apenas nesta região e noutras
próximas, já em território castelhano da província de Burgos.
A corrente que defende que
estas igrejas teriam sido escavadas por monges eremitas visigodos não explica a
complexidade do trabalho aqui despendido, decerto colectivo e organizado, nem a
existência de numerosas sepulturas igualmente escavadas na rocha, cujos
despojos humanos testemunham uma população diversificada.
Entre as igrejas rupestres
de maior interesse desta região, contam-se as de Cezura, Santa María de
Valverde, Campo de Ebro, Cadalso, Arroyuelos — a mais monumental, de dois
andares, integra um enorme pilar prismático que a divide em duas naves — e
Presillas de Bricia, já em território de Burgos, a mais perfeita de todas, claramente integrada
no conjunto cultural aqui descrito.
Não sendo um fenómeno
exclusivo de Espanha, constitui, no entanto, um alto motivo de interesse para
ilustrar a variedade de soluções encontradas pelas populações que, em toda a
Península Ibérica, viveram a experiência da Reconquista cristã.