O DESGOSTO DE MARINE LE PEN
Carlos Rodarte Veloso
(“O Templário”, 15
de Junho de 2017)
As recentes eleições no Reino Unido e em França, sem
constituirem uma vitória formal das forças de Esquerda, representam, a meu ver,
uma travagem – consistente? – da política anti-europeísta e populista que, sob
a batuta do louco da Casa Branca, por sua vez muito possivelmente manipulado
pelo czar Putin, proclamava alto e a bom som a próxima e desejável destruição
da União Europeia.
A este propósito se associaram os promotores do Brexit e a pretendente neo-fascista à presidência da França, Marine Le Pen, fazendo coro com os diversos governos populistas e proto-fascistas instalados em vários países da União Europeia.
Como pano de fundo o ataque aos refugiados, ao mesmo tempo bodes expiatórios e vítimas dos crimes do auto-proclamado “Estado Islâmico”. O endurecimento das medidas desses governos contra estas multidões de fugitivos estavam a ponto de ser ampliadas em termos cada vez mais anti-democráticos pela PM britânica, Theresa May que, em vésperas das eleições de 8 de Junho prometia demitir-se no caso de não ampliar os resultados que a tinham conduzido a Downing Street. Não só os não ampliou, como os diminuiu drasticamente. E não cumpriu a promessa.
Tudo isto redunda no enfraquecimento da posição do PM, que dificilmente poderá incrementar o seu anunciado projecto de “hard brexit” a par com as medidas repressivas dos direitos fundamentais, projecto que parecia decalcado das políticas anti-emigratórias de Donald Trump.
Quem sai a ganhar é o anunciado “morto” para a política, o trabalhista Jeremy Corbyn, mais favorável a um “soft brexit” e ultracrítico em relação às medidas antidemocráticas enunciadas por Theresa May. Esta, por outro lado e na impossibilidade de conseguir uma maioria parlamentar que lhe permita governar, alia-se ao partido Unionista da Irlanda do Norte (DUP), “casamento” que poderá gerar ainda mais dificuldades para a difícil paz social naquele território.
A 1ª volta das eleições legislativas francesas de 11 de Junho, revelava-se bastante difícil para o presidente eleito, Emmanuel Macron, em risco de se ver isolado por um parlamento hostil, mantendo-se ainda o perigo de a Frente Nacional de Marine Le Pen aqui conseguir o que falhara nas presidenciais.
Apesar das expectativas pouco auspiciosas, a eleição redundou numa vitória claríssima da “República em Marcha” de Macron, embora as mais de 50% de abstenções exijam, para bem do regular funcionamento da 5ª República, um aumento significativo da participação dos cidadãos na 2ª volta eleitoral.
Para Marine Le Pen esta vitória de Macron é o dobre de finados das suas aspirações políticas a longo prazo e ela lamenta estes “resultados catastróficos para a Frente Nacional” ao mesmo tempo que invoca a necessidade de um novo esforço para obter, na 2º volta, uma posição que lhe permita resgatar tão fracos resultados.
Devo dizer que com o desgosto de Marine Le Pen podemos nós bem. É até um poderoso indicador de que alguma coisa de bom tem sido feito, apesar das críticas de uma certa “esquerda”, apoiante de Maduro, da Coreia do Norte e da Rússia, aparentemente saudosa dos bons tempos bipolares da Guerra Fria, quando esses regimes eram considerados “democráticos”.
Na esquerda radical, a “França Insubmissa” de François Mélanchon, invoca a brutal abstenção como uma vitória contra Macron, agora apresentado como “inimigo principal” do seu projecto. É evidente que a União Europeia, do modo como tem sido configurada, não parece especialmente atractiva para as nações europeias.
No entanto estes resultados, aliados à pressão de Trump e dos seus “aliados”, nomeadamente em relação ao abandono do “Acordo de Paris” sobre o clima, têm aproximado os apoiantes de uma União Europeia igualitária e de costas voltadas para os EUA.
Poderemos dizer que “Trump escreve direito por linhas tortas”?
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