FONTES DE ROMA
Carlos Rodarte Veloso
(“O Templário”, 22
de Junho de 2017)
Luz, luz intensa, céu e mármore mas, principalmente,
a luz recortada pelas sombras, reflectida pelas águas, ora agitadas, ora mansas
das mil fontes, preenchidas pelas formas exuberantes de homens e deuses, heróis
e santos também, humanidade fervilhando nas velhas pedras esculpidas onde
meteram a mão génios como Bernini, Salvi e Bresciano.
Pedras esculpidas, ombro a ombro com esta humanidade inquieta, de carne e osso, que deambula ou dança nos próprios pés ou sobre a infinidade de rodas que giram em trajectórias impossíveis, num bailado infinito pontuado pelo som de buzinas e exclamações, numa estranhíssima harmonia que parece ecoar nas calçadas o movimento das águas límpidas movidas em cascata, repuxos, tranquilos regatos, poalha líquida que refresca e encanta com o arco-íris.
E os gatos! Também os gatos, agachados nos vãos das colunatas ou equilibrados sobre as formas oblongas das pedras em ruínas, outra forma de humanidade nos milhares de boas almas que os alimentam e acarinham, dimensão comovente da solidariedade entre espécies. Gente que não precisou da tão importante lição de ambientalistas e outros defensores dos animais. Gatos que são indissociáveis das formas arquitectónicas do Panteão, do Forum, do Coliseu, de todas as maravilhas pétreas dessa Cidade que representa a matriz da Civilização.
Dedicar-te-ia, ó Roma, palavras mais sentidas do que quantas já expressei. Mas não vale a pena. Já tudo disseram sobre ti, Cidade-Mãe do mundo, do meu mundo em ruínas.
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