O TEMPLO ECUMÉNICO UNIVERSALISTA
DA SERRA DA LOUSÃ
Carlos Rodarte Veloso
Publicado no “Correio Transmontano”,
9-7-2017
(fotos de Carlos Rodarte Veloso)
Ligado ao Parque Biológico da Serra da Lousã, espaço natural
existente em Miranda do Corvo, distrito de Coimbra, e gerido pela Fundação ADFB
(Assistência, Desenvolvimento e Formação Profissional), instituição privada
associada aos ideais maçónicos, pode visitar-se, a alguns quilómetros, um
curioso monumento construído em homenagem às vítimas de todos os fundamentalismos
religiosos que tantos males causaram ao longo da História das Civilizações.
O monumento principal é uma pirâmide de pedra de cor ocre,
com a altura atribuída ao Templo de Salomão em Jerusalém construído no século XI
a.C. Em seu torno, diversas escullturas
e colunas arquitectónicas simbolizam as diversas religiões e civilizações do
mundo e a figura histórica de Galileu Galilei, com a sua célebre frase “contudo
ela move-se”, apontando o triunfo final da Ciência mesmo quando a repressão da
Inquisição conseguiu silenciá-la temporariamente. Este caso, como é sabido,
refere-se à sua afirmação sobre a translacção da Terra em volta do Sol, verdade
científica que negava as “verdades” da Bíblia que afirmavam o Geocentrismo, ou
seja, a Terra como centro de todo o Universo.
À entrada do Templo, um átrio cujo pavimento reproduz o labirinto
existente nas catedrais de Chartres e Amiens, símbolo da procura da Verdade,
suporta uma pedra de granito polida com as dimensões da Arca da Aliança, que
suporta, por sua vez, uma pedra rochosa que, ao meio-dia de cada dia recebe, de
uma abertura na abóbada que a cobre, o reflexo do Sol, num ponteiro de luz que
indica o centro do monumento.
A partir do labirinto, um percurso circular apresenta em
dezenas de expositores iguais, as religiões do mundo, ilustradas com frases que
lhes estão associadas. Assim, as religiões pagãs são associadas à célebre frase
grega inscrita no Templo de Delfos “Conhece-te a ti mesmo”, tendo até o ateísmo
direito a uma referência com a frase de Carl Marx “A religião é o ópio do
povo”.
Seria extremamente fastidioso referir todos os símbolos
presentes no monumento e seu recinto, que vão desde uma lápide dedicada à
divindade lusitana Endovélico, o deus da medicina, também adoptado pelos
Romanos, à inclusão no muro da pirâmide de uma alegoria à Pedra Negra de Meca,
símbolo da religião muçulmana. Uma cruz de Cristo vasada na pedra, abre-se à
paisagem magnífica que tudo rodeia.
Havendo em todo o espaço assim preenchido, referências
simbólicas ou iconográficas à extraordinária diversidade de crenças em que a
Humanidade se dividiu, é patente a intenção dos construtores deste monumento de
lembrar a universalidade das formas de pensamento e apelar à necessidade
urgente de as mesmas unirem os povos em vez de serem, com têm sido, motivo de
perseguições, guerras e morticínios.
Pense-se o que se pensar deste monumento e das suas
motivações, trata-se de um objecto artístico único em Portugal, que bem merece
uma visita e alguma reflexão.
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