segunda-feira, 10 de julho de 2017


O TEMPLO ECUMÉNICO UNIVERSALISTA 
DA SERRA DA LOUSÃ

Carlos Rodarte Veloso

Publicado no “Correio Transmontano”, 9-7-2017

(fotos de Carlos Rodarte Veloso)

Ligado ao Parque Biológico da Serra da Lousã, espaço natural existente em Miranda do Corvo, distrito de Coimbra, e gerido pela Fundação ADFB (Assistência, Desenvolvimento e Formação Profissional), instituição privada associada aos ideais maçónicos, pode visitar-se, a alguns quilómetros, um curioso monumento construído em homenagem às vítimas de todos os fundamentalismos religiosos que tantos males causaram ao longo da História das Civilizações.


O monumento principal é uma pirâmide de pedra de cor ocre, com a altura atribuída ao Templo de Salomão em Jerusalém construído no século XI a.C.  Em seu torno, diversas escullturas e colunas arquitectónicas simbolizam as diversas religiões e civilizações do mundo e a figura histórica de Galileu Galilei, com a sua célebre frase “contudo ela move-se”, apontando o triunfo final da Ciência mesmo quando a repressão da Inquisição conseguiu silenciá-la temporariamente. Este caso, como é sabido, refere-se à sua afirmação sobre a translacção da Terra em volta do Sol, verdade científica que negava as “verdades” da Bíblia que afirmavam o Geocentrismo, ou seja, a Terra como centro de todo o Universo.
À entrada do Templo, um átrio cujo pavimento reproduz o labirinto existente nas catedrais de Chartres e Amiens, símbolo da procura da Verdade, suporta uma pedra de granito polida com as dimensões da Arca da Aliança, que suporta, por sua vez, uma pedra rochosa que, ao meio-dia de cada dia recebe, de uma abertura na abóbada que a cobre, o reflexo do Sol, num ponteiro de luz que indica o centro do monumento.







A partir do labirinto, um percurso circular apresenta em dezenas de expositores iguais, as religiões do mundo, ilustradas com frases que lhes estão associadas. Assim, as religiões pagãs são associadas à célebre frase grega inscrita no Templo de Delfos “Conhece-te a ti mesmo”, tendo até o ateísmo direito a uma referência com a frase de Carl Marx “A religião é o ópio do povo”.
Seria extremamente fastidioso referir todos os símbolos presentes no monumento e seu recinto, que vão desde uma lápide dedicada à divindade lusitana Endovélico, o deus da medicina, também adoptado pelos Romanos, à inclusão no muro da pirâmide de uma alegoria à Pedra Negra de Meca, símbolo da religião muçulmana. Uma cruz de Cristo vasada na pedra, abre-se à paisagem magnífica que tudo rodeia.
Havendo em todo o espaço assim preenchido, referências simbólicas ou iconográficas à extraordinária diversidade de crenças em que a Humanidade se dividiu, é patente a intenção dos construtores deste monumento de lembrar a universalidade das formas de pensamento e apelar à necessidade urgente de as mesmas unirem os povos em vez de serem, com têm sido, motivo de perseguições, guerras e morticínios.
Pense-se o que se pensar deste monumento e das suas motivações, trata-se de um objecto artístico único em Portugal, que bem merece uma visita e alguma reflexão.

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