O MAR MORTO NUMA CRATERA VULCÂNICA
Carlos Rodarte Veloso
"Correio Transmontano", 12-1-2018
Em Novembro de 2001 tive a oportunidade de conhecer a ilha do Sal do arquipélago de Cabo Verde, a mais árida de todas, desmentindo assim a sua designação colectiva, ao mesmo tempo que confirma pela aridez o seu nome singular.
De facto, o nome é tão salgado como o salque abunda no mar em torno e, principalmente, nas famosas salinas nascidas na cratera de um vulcão hoje extinto, por infiltração das águas do mar e sua consequente e parcial evaporação. A cratera e salinas, denominadas “Pedra de Lume”, reflectem a luz de um sol impiedoso e reverberam nos cristais de cloreto de sódio as cores dos seus sais constituintes, num espectro que vai do vermelho e rosa ao azul e amarelo, marginando pequenos canais onde os visitantes têm a raríssima oportunidade de recriar as sensações do mergulho nas densíssimas águas palestinianas do Mar Morto, visto aqui como lá não ser necessário dominar as técnicas da natação para flutuar, a bem ou a mal...
Dada a falta de água doce em toda a ilha, só a partir de 1833 começou a ser explorada a sua riqueza em sal, exactamente em Pedra de Lume, dando assim início ao povoamento, tendo as salinas sido exploradas industrialmente até meados dos anos 80. Depois disso assistimos ao abandono desses equipamentos industriais, agora espalhados em ruínas no interior da cratera, dando ao local uma visão de “cidade fantasma”. Tanto quanto me apercebi, a economia da localidade vive hoje parcialmente do comércio dos grossos cristais de sal das mais diversas cores, vendidos aos turistas, e da venda de bilhetes de visita à cratera aos mesmos turistas.
Também viveiros de lagostas contribuem para alguma melhoria das condições económicas do Sal, assim como a construção na vila de Santa Maria, de numerosas unidades hoteleiras de qualidade exploradas maioritariamente por estrangeiros, obviamente fora das possibilidades económicas dos cabo-verdianos, que as frequentam com o seu trabalho, como empregados de manutenção, limpeza e restauração e, na melhor das hipóteses, guias turísticos e comerciantes de recordações.
Para suprir a falta de água doce, uma unidade de desalinização da água do mar foi construída.
É claro que estamos perante um turismo de mar, praia e desportos náuticos, que se desenrolam numa paisagem marítima deslumbrante. Mais dependente do que o restante arquipélago das contraditórias benesses do turismo, a ilha do Sal é um exemplo notável da capacidade de sobrevivência e da inteligência de um jovem povo contra todas as dificuldades de uma natureza difícil.
É claro que estamos perante um turismo de mar, praia e desportos náuticos, que se desenrolam numa paisagem marítima deslumbrante. Mais dependente do que o restante arquipélago das contraditórias benesses do turismo, a ilha do Sal é um exemplo notável da capacidade de sobrevivência e da inteligência de um jovem povo contra todas as dificuldades de uma natureza difícil.
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