NO RESCALDO DA SILLY SEASON,
TRUMP DE NOVO
Carlos Rodarte Veloso
“O Templário”, 6 de Setembro de 2018
Um mês de
intervalo na minha colaboração com "O Templário" e recomeço onde terminei: com o
inenarrável Trump. Agosto só serviu para reforçar a impressão de fim do mundo
que a sua acção suscita nas mentes das pessoas civilizadas.
O abandono
sucessivo de organizações internacionais – a próxima será, se a ameaça se
concretizar, a Organização Mundial do Comércio – a permanente vitimização dos Estados
Unidos perante em mundo dirigido por “bad guys”, mesmo do pior, que se têm “aproveitado”
dos pobres States, tanto económica, como militarmente, num muro de lamentações
que tem sempre como resposta uma acção – ou uma ameaça de acção – que vem
lançando o mundo num abismo de incertezas quanto ao futuro, enevoa cada vez
mais o firmamento.
Os “inimigos”
somam-se geometricamente, dentro e fora de portas, enquanto o seu
ex-conselheiro Steve Bannon, em piedosa peregrinação, acicata e junta as hostes
da extrema-direita europeia, e uma sinistra colecção de ditadores emerge na
América Latina e na Ásia. Só falta organizá-los num novo Eixo alargado…
É assustadora
a imagem das multidões fanatizadas que assistem aos comícios de Trump, gente
sedenta do sangue dos “liberais” – como lhes chamam –, dos hispânicos e dos
negros, enquanto este psicopata piroso, devidamente denunciado nos media e no
mundo das Artes, classifica todas essas denúncias como “fake news” numa
simplificação de banda desenhada rasca.
Mas a verdade
é que o seu antecessor mais verosímil é nem mais nem menos do que Hitler, há 85
anos “eleito” chanceler dos alemães e cuja acção política e militar conduziu o
mundo a um mar de ruínas. Tal como Trump, foi devidamente ridicularizado pela
sua megalomania, enquanto colocava como meta “tornar a Alemanha grande outra
vez”, à conta da derrota de 1918 e da crise mundial iniciada em 1929.
Desde o
fracasso do seu golpe de estado de 1923, sempre apoucado pelas forças
democráticas internas e externas, foi captando partidários entre as classes
sociais mais desgraçadas, mas também entre os capitalistas – que ele era o
primeiro a atacar – até que as eleições de 1933 lhe deram um inesperado poder
que depressa se tornou totalitário.
Assim como
Trump tem multiplicado contactos de mais que duvidosa coerência e constantes
altos e baixos com potências estrangeiras rivais, caso da Rússia e da China,
também Hitler estabeleceu, em vésperas da 2ª Guerra Mundial, uma aliança
contranatura com a União Soviética, enquanto se aproximava de potências europeias
politicamente afinadas com os populismos desse tempo, o “seu” nazismo e os diversos
fascismos.
Tal como com a
Hungria de Viktor Orbán, a Itália do vice-primeiro ministro Mateo Salvini, e a
líder da oposição francesa, Marine Le Pen, para falar apenas dos casos mais
emblemáticos da extrema-direita europeia, Trump tem repetido todos os passos
que conduziram à catástrofe do século XX: um “Eixo” vai-se formando, não como
então tendo por alvo os Judeus e outras minorias étnicas, mas contra os fugitivos
de todo o chamado Terceiro Mundo. Mesmo Israel, vítima do horrendo Holocausto,
persegue agora ferozmente os Palestinianos, seus conterrâneos há séculos,
esquecendo aparentemente a sua própria terrível experiência!
É difícil
encontrar, no mundo actual, razões para optimismo, quando os campos estão cada
vez mais extremados e à catástrofe natural que nos ameaça se junta a tragédia
humana que a cada momento aumenta. Mas há países que parecem resistir... Gostaria
muito que um deles fosse Portugal.
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