UMA DIREITA BASTANTE TORTA
Carlos Rodarte Veloso
“O Templário”, 20-9-2018
A rentrée
política portuguesa não tem primado pela originalidade apesar dos esforços de
Assunção Cristas para se pôr em bicos de pés, multiplicando fisicamente a sua
imagem – como fez no congresso do seu partido – o que augura um culto da
personalidade que seria mais consentâneo com pessoas acima de todas as críticas
devido a um comportamento, real ou imaginário, irrepreensivelmente ético.
Ora a
“azougada” dirigente do CDS – estou a usar o adjectivo que tenho visto em
alguns media nacionais, embora o termo correcto devesse ser “estouvada”,
“irresponsável” ou “mentirosa” – critica a torto e a direito a maior parte dos
comportamentos que ela própria incentivou ou de que foi autora durante o seu
período no governo com Passos Coelho, quer no que se refere à política
agrícola, quer à defesa da floresta ou à habitação, em que agora se apresente
como “especialista” emérita...
O momento
complicado vivido pelo PSD, claramente dividido depois da eleição de Rui Rio,
provavelmente o mais inteligente dos representantes da Direita, foi
descaradamente aproveitado pelo assumido oportunismo de Cristas, assumindo-se
agora como a líder incontestável de uma Direita a que junta a sua “alma gémea”,
Santana Lopes que, com a sua “Aliança”, vem esfrangalhar um pouco mais a
oposição ao governo socialista.
Digo “alma
gémea” porque ainda está fresca a irresponsabilidade com que Lopes governou o
país no felizmente pequeno período em que foi 1º ministro. Como políticos
“light”, estão perfeitamente equiparados, “muito frescos, muito leves”, muito
“tios”, isto é, completamente alheios à realidade nacional e divorciados da
vida de todos os dias. Pode a Dr.ª Cristas vestir jeans ou até fato macaco, que
só engana quem quiser ser enganado.
Quanto ao PSD,
os ressabiados “barões” que assessoravam Passos Coelho temem cada vez mais a
inteligente política de Rio ao tentar aproximar-se do PS e – espanto total! –
do próprio Bloco de Esquerda na questão da habitação. É pragmatismo a mais para
aquelas privilegiadas cabeças! Nunca exemplares como Miguel Relvas ou Hugo
Soares poderão aceitar um afastamento, mesmo que apenas táctico, dos
“princípios” sem princípios do liberalismo económico e da vassalagem ao
capitalismo selvagem.
Mas não haja
ilusões. Rui Rio comunga de todos os “valores” da Direita e o seu actual estilo
não pode fazer esquecer a sua prática autoritária e também anti cultural como
Presidente da Câmara do Porto. O seu pragmatismo é isso mesmo: a manha da
Raposa da fábula para convencer o Corvo a cantar para lhe largar o queijo…
Portanto, é melhor não cantar antes do tempo…
Entretanto,
gente que foi – e ainda será, dizem… – do PS, como Francisco Assis, que tão
crítico foi em relação à solução de Esquerda do actual governo, reaproxima-se
agora, com pés de lã, reconhecendo que o apoio dos partidos de esquerda radical
não obrigou António Costa a trair os seus princípios, nomeadamente nos
compromissos europeus, meia confissão de arrependimento sobre o seu afastamento
durante o período politicamente riquíssimo de correcção de desvios e
recuperação de direitos do povo português. Veremos se este recuo relativo lhe
permitirá manter-se no Parlamento Europeu… As travessias do deserto são tão…
secas!
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