UM ASTRONAUTA
NA CATEDRAL DE SALAMANCA
Carlos
Rodarte Veloso
Publicado em "Correio Transmontano", 17-9-2018
Na minha primeira viagem a
Salamanca, a cidade conquistou-me de imediato: pela sua beleza e harmonia, pelas
suas ruas estreitas com fachadas de
bela pedra dourada, a sua Plaza Mayor – a mais bela de todas, diz-se, e eu, que conheço
uma boa e bela meia dúzia das mais famosas, concordo – a velha Unversidade, a
catedral e uma série de monumentos, a estatuária antiga e moderna celebrando
alguns dos grandes nomes que dela fizeram a Alma Mater de Espanha, como Coimbra
o é de Portugal…
Poderia citar um
bom número de intelectuais que a cobriram e se cobriram de glória, mas
limitar-me-ei a dois, ambos reprimidos pelas forças mais sinistras que
oprimiram a pátria de Cervantes: Frei Luís de Léon (1527-91), reprimido pela
Inquisição, e Miguel de Unamuno (1864-1836), pela ditadura de Francisco Franco.
A eles voltarei, em próximo artigo.
Não abordarei hoje essas glórias, nem os aspectos
mais conhecidos desta linda e magnífica cidade, mas apenas um pormenor escultórico
que cria a mais pura estupefacção em quem o vê pela primeira vez: o Astronauta esculpido na fachada da Catedral de Salamanca que foi acrescentado
durante o restauro de 1992 para simbolizar a era moderna. Também foi
acrescentada iconografia dos contos tradicionais (um Lobisomem) e um apontamento ecológico do belíssimo animal em
vias de extinção – também em Portugal – que é o Lince Ibérico. Ciência, Antropologia e Ecologia, dando
continuidade ao espelho da Cultura que, mesmo em tempos sombrios, os grandes
monumentos constituem.
Será desnecessário mencionar o monte de “informação” que os desavisados
turistas de imediato foram lançando nas redes sociais, como antes o tinham
feito nas fotos e apontamentos de viagem anteriores à revolução informática:
teses completamente descabeladas, “provando” fabulosos avanços tecnológicos na
Idade Média, e coisas semelhantes… É que a literatura turística disponível em
Salamanca é extraordinariamente omissa na explicação desses “pormenores”.
Talvez porque o “mistério” rende muito mais, em termos económicos, do que a
verdade nua e crua…
(Fotos de C.Veloso)
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