terça-feira, 18 de setembro de 2018



UM ASTRONAUTA NA CATEDRAL DE SALAMANCA

Carlos Rodarte Veloso

Publicado em "Correio Transmontano", 17-9-2018

Na minha primeira viagem a Salamanca, a cidade conquistou-me de imediato: pela sua beleza e harmonia, pelas suas  ruas estreitas com fachadas de bela pedra dourada, a sua Plaza Mayor – a mais bela de todas, diz-se, e eu, que conheço uma boa e bela meia dúzia das mais famosas, concordo – a velha Unversidade, a catedral e uma série de monumentos, a estatuária antiga e moderna celebrando alguns dos grandes nomes que dela fizeram a Alma Mater de Espanha, como Coimbra o é de Portugal…
Poderia citar um bom número de intelectuais que a cobriram e se cobriram de glória, mas limitar-me-ei a dois, ambos reprimidos pelas forças mais sinistras que oprimiram a pátria de Cervantes: Frei Luís de Léon (1527-91), reprimido pela Inquisição, e Miguel de Unamuno (1864-1836), pela ditadura de Francisco Franco. A eles voltarei, em próximo artigo.


Não abordarei hoje essas glórias, nem os aspectos mais conhecidos desta linda e magnífica cidade, mas apenas um pormenor escultórico que cria a mais pura estupefacção em quem o vê pela primeira vez: o Astronauta esculpido na fachada da Catedral de Salamanca que foi acrescentado durante o restauro de 1992 para simbolizar a era moderna. Também foi acrescentada iconografia dos contos tradicionais (um Lobisomem) e um apontamento ecológico do belíssimo animal em vias de extinção – também em Portugal – que é o Lince Ibérico. Ciência, Antropologia e Ecologia, dando continuidade ao espelho da Cultura que, mesmo em tempos sombrios, os grandes monumentos constituem.

 

Será desnecessário mencionar o monte de “informação” que os desavisados turistas de imediato foram lançando nas redes sociais, como antes o tinham feito nas fotos e apontamentos de viagem anteriores à revolução informática: teses completamente descabeladas, “provando” fabulosos avanços tecnológicos na Idade Média, e coisas semelhantes… É que a literatura turística disponível em Salamanca é extraordinariamente omissa na explicação desses “pormenores”. Talvez porque o “mistério” rende muito mais, em termos económicos, do que a verdade nua e crua…


(Fotos de C.Veloso)

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