UMA MINORIA EM
BICOS DOS PÉS
Carlos Rodarte
Veloso
“O
Templário”, 20 de Dezembro de 2018
À margem de
um país que tem conseguido resistir à crise económica e superar o estado de
austeridade que lhe foi imposto de dentro, a partir da triste coligação do PSD
com o CDS, à margem também da muito expressiva adesão que o actual governo
socialista tem publicamente recebido de todas as consultas da opinião pública,
grupos de gente mal identificada e soprada pelas “redes sociais” resolvem
convocar uma manifestação destinada a “parar Portugal” e a lutar contra
impostos, carestia dos combustíveis e todas as medidas fiscais que afligem a
população…
É humano e
completamente justo tentar melhorar a vida material e moral de uma nação, mas
convém partir de pressupostos igualmente justos e morais e não de critérios de
imitação do que se vê fazer noutros países, francamente mais prósperos e que
não enfrentam, como nós, o desafio de uma difícil recuperação.
Sendo assim,
é puramente demagógico equiparar impostos destinados a corrigir situações de
injustiça que vêm muito de trás e cujos culpados somos todos nós, sem excepção,
com a relativa carestia que atinge países como a França ou a Bélgica, onde os
“gilets jaunes” bloqueiam as ruas exigindo uma prosperidade que cada vez mais
diminui entre as classes desfavorecidas.
A onda de
reivindicações apoiadas em greves, na maioria perfeitamente justas, que têm
varrido Portugal ultimamente, correspondem à impaciência na recuperação do
poder de compra da população anterior à crise económica que, como sabemos, não
foi apenas nacional, mas assumiu uma expressão global, mas também a algum jogo
politico com que os movimentos de Esquerda mais radical tentam demarcar-se do
PS, a pensar nas próximas eleições, assim procurando evitar uma maioria
absoluta ao mesmo partido…
Esse
raciocínio não engloba, como afirmei na passada semana, a greve do juízes, e
muito menos, a dos enfermeiros, a que poderei agora juntar as atitudes anti-Protecção
Civil de várias corporações de bombeiros manipuladas por Marta Soares,
personagem cujo oportunismo politico bem se tem afirmado desde os trágicos
incêndios do ano passado e cuja colagem à Direita é evidente.
Aproveitar
essa impaciência e comparar situações completamente díspares como o são as da
França e Portugal, é fazer o jogo de forças obscuras internacionais que
pretendem atingir Portugal, como o fizeram com a União Europeia, através do
crescimento de movimentos populistas e proto-fascistas que, como temos visto,
vão gradualmente conquistando os diversos governos europeus e, assim, enfraquecendo-os
face às grandes potências que controlam o mundo.
A
manifestação marcada para o dia 21 de Dezembro para “Parar Portugal” revela, na
linguagem como nos objectivos, demasiados indícios favoráveis à destruição do
actual governo, para que possamos considerá-la “pacífica” e, muito menos, “isenta”
e “apolitica”… Por isso, é inconcebível como muita gente de Esquerda se deixa
embalar neste “canto da sereia” da “revolta pela revolta”, entusiasmando-se
até, como se estivéssemos perante um movimento revolucionário semelhante ao
Maio de 1968!
As palavras
de ordem da dita manifestação – com base em notícias falsas relativamente ao
governo e órgãos de soberania, e indesmentíveis indícios de salazarismo –
parecem ressuscitar o movimento que, há 44 anos, em 28 de Setembro de 1974,
mobilizou as forças fascistas que meses antes tinham sido derrotadas pelo
Movimento das Forças Armadas, aquilo a que chamaram a “maioria silenciosa”, que
pretendia aumentar drasticamente os poderes do Presidente da República, António
de Spínola e, assim, fazer regredir grande parte das conquistas da Revolução
para a época do “Estado Novo”. No entanto, o dito movimento também se afirmava
isento, apartidário e apoiante do Movimento das Forças Armadas!
Fig. 1 – Cartaz apelando à “Maioria Silenciosa” em 28 de Setembro de 1974.
Fig. 2 – Cartaz comemorando a derrota da “Maioria Silenciosa”, um ano depois.
A derrota
esmagadora inflingida pelas massas
populares a esta pseudo-maioria pouco silenciosa, deu um novo impulso ao
Movimento das Forças Armadas, radicalizando-o e conduzindo o país ao chamado
PREC. Os tempos que vivemos são bem outros, mas bom seria que se aprendesse com
as lições do passado…
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