A EUROPA NUMA ELEIÇÃO PEQUENINA
Carlos
Rodarte Veloso
“O Templário”, 23 de Maio de 2019
As próximas
eleições para o Parlamento europeu têm-se caracterizado, pelo menos em
Portugal, por uma campanha anémica em termos da abordagem do tema principal em
causa, ou seja, a política que se deseja para este órgão colegial, num momento
em que a própria ideia da União Europeia se encontra fragmentada entre os
diversos poderes políticos dos 28 estados que (ainda) a compõem.
Esta
oportunidade única de fazer inflectir a teoria e a prática desta comunidade de
Estados tão poderosa económica e demograficamente, como frágil em termos
políticos e estratégicos, no sentido de ocupar o lugar que lhe compete no
concerto das nações, depende única e exclusivamente de nós todos, os
Portugueses incluídos, na definição da natureza política, social e cultural que
a Europa deve assumir.
São
bem conhecidas as divisões que opõem as políticas dos diversos estados europeus,
hoje não limitadas à clivagem Esquerda/Direita tradicionais, mas abrangendo a
Extrema-direita populista, manifestamente em crescimento sob a pressão de uma
opinião pública manipulada pelo medo de uma anunciada “invasão” de imigrantes,
dominantemente muçulmanos, desejosos de nos converter à sua religião e aos seus
costumes e, assim, de alterar radicalmente a nossa maneira de viver.
Se
bem que as massas de imigrantes em causa manifestem muito maior fragilidade do
que agressividade, e até utilidade em termos económicos, junto de populações europeias
em grave crise demográfica, os lamentáveis casos da pressão de minorias
fanáticas que convertem algumas zonas urbanas em territórios em grave conflito
étnico, servem de pretexto para ondas de xenofobia que não olham às diferenças
entre os culpados e as vítimas.
É
evidente a importação dos maiores medos em relação aos “outros” que “invadem” o
Ocidente ter a marca do grande “dedo” norte-americano, desde a instalação na
Casa Branca de Donald Trump, inimigo confesso da União Europeia – e não só – e que
tem promovido a união das diversas forças antieuropeístas – dentro da própria União
Europeia! – através do seu caixeiro viajante da intriga, Steve Bannon, cuja
ideologia próxima da nazi lhe valeu a alcunha de “Leni Riefenstahl” do
movimento de extrema direita “Tea Party”.
Mas
voltando ao caso português e dado que até ao momento não parecemos atingidos por
esses males, na nossa campanha eleitoral para o Parlamento europeu, os diversos
partidos com representação parlamentar têm-se entretido quase exclusivamente a
zurzir o PS, incluindo os partidos da Esquerda associados à chamada
“Geringonça”! É evidente que tanto o PCP como o Bloco de Esquerda procuram
assim distanciar-se minimamente do Governo para uma de duas coisas: tomar como mérito
exclusivamente seu todas as medidas do Governo favoráveis às classes
trabalhadoras e acusar obsessivamente a alegada aproximação entre o mesmo Governo
e o PSD, para assim ganharem um espaço eleitoral que lhes permita ganhar
posição para outras eleições – as eleições “importantes” – que serão as
Legislativas. PSD e CDS limitam-se a atacar permanentemente todas as
iniciativas do PS, assim como os seus “erros” passados, presentes e futuros!
Mas
falar da política europeia, do Brexit e da sua incidência sobre a economia da
União e, ao menos, da situação dos nossos emigrantes no Reino Unido, da gravíssima
questão da imigração, da própria representatividade dos diversos Estados no
Parlamento europeu e das suas regras de funcionamento, dos grandes problemas
internacionais como as relações com os Estados Unidos da América, a Rússia, a
China, a Turquia ou o Brasil, da situação na Venezuela, do crescimento da
influência da Extrema-direita e das limitações à Democracia, da questão
climática e das energias alternativas, nada disso!
E nem
uma palavra sobre os doze partidos nacionalistas europeus reunidos em Milão por
Matteo Salvini para preparar uma aliança nacionalista parlamentar após as
eleições europeias, que poderá vir a ser a terceira força política no futuro
Parlamento europeu…
Com
estas e outras ameaças sobre as nossas cabeças, vemos a ridícula presidente do
CDS e o seu valete, Nuno Melo, a pavonearem a sua irresponsabilidade em relação
à sua “brilhante” acção na coligação com Passos Coelho, enquanto Rui Rio
procura distanciar-se desse legado, mas com o lamentável acompanhamento de
Paulo Rangel, o mais demagógico, incompetente e destituído dos agentes
masculinos desta Direita inconcebível… mas sempre atacando o PS por tudo e mais
alguma coisa! Um PS com um brilhante desempenho nacional, mas também quase
omisso quanto à questão europeia, aquela que devia ocupá-lo dominantemente
neste momento.
Vamos
conversar sobre a Europa?
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