ORIGENS DO TURISMO
Carlos Rodarte Veloso
"O Templário", 2 de Maio de 2019
Para além dos muitos viajantes que na Antiguidade se deslocavam, não apenas como aconteceu com mercadores, soldados, pastores ou aventureiros, muitas cidades, monumentos ou eventos ganharam uma tal notoriedade que justificavam, só para os ver, viagens a grandes distâncias: Babilónia, Delfos, Olímpia, Atenas, Alexandria, Roma, ou as Sete Maravilhas do Mundo eram outros tantos pólos de atracção de multidões.
Um interesse muito “moderno” pela viagem como factor de formação, encontramo-lo já em Heródoto de Halicarnasso, conhecido como “o pai da História”, que visitou no século V a.C. o Egipto, a Babilónia, a Pérsia e outros países do Próximo Oriente pela pura e simples razão de querer conhecer e registar “os feitos dos homens, com o tempo”. Ele próprio conta a história do célebre governante ateniense Sólon, famoso pela sua sabedoria – um dos “Sete Sábios da Grécia”- que antes dele viajou para fora do seu país, para o Egipto e Sardes, “movido pelo gosto de saber e pela vontade de conhecer muitos países”…Marco Polo, o famoso veneziano que atravessou toda a Ásia no século XIII, deu continuidade a gerações de viajantes que, umas vezes comerciando, outras combatendo, foram conhecendo outros povos e culturas, cidades lendárias e impérios desconhecidos. O seu famoso livro, que constava da biblioteca do Infante D. Pedro, filho de D. João I e um dos homens mais cultos do seu tempo, em muito contribuiu para criar nos Europeus uma curiosidade que só a descoberta do mundo poderia saciar… e bem sabemos o quanto esse apelo foi sentido e correspondido pelos Portugueses!
Mas a ideia de Turismo como hoje o entendemos, nasceu muito mais tarde, já entre o século XVII e o XVIII, quando entre os filhos da aristocracia e da alta burguesia britânicas se institucionalizou o costume, já com raízes antigas e não só na Inglaterra — o caso do nosso Infante D. Pedro, ainda no século XV, é exemplar —, de ser considerada incompleta a educação de um homem que não tivesse viajado pelo Estrangeiro.
Um famoso príncipe europeu do século XVII, Cosimo de Médicis, herdeiro do Grão-Ducado da Toscana, viajou também pela Europa acompanhado por um brilhante séquito de 27 pessoas, terminando o seu último périplo em Portugal em 1669.
A viagem tinha manifestado objectivos diplomáticos, procurando o príncipe documentar-se sobre a recentemente assinada paz de Portugal com Castela, na sequência da Guerra da Restauração, em que a inesperada vitória de um pequeno país após 28 anos de guerra com uma potência de primeira grandeza, espantava toda a Europa. Entretanto, quatro dos seus acompanhantes elaboraram interessantíssimos diários de viagem e um pintor deixou uma riquíssima colecção de vistas de todas as cidades e vilas visitadas…
Interessa-nos especialmente o relato oficial da viagem, da autoria do conde Lorenzo Magalotti e a colecção de aguarelas do pintor Pier Maria Baldi, por incluírem a passagem por Tomar e uma vista panorâmica da nossa cidade - v. imagem (VELOSO, Carlos, “Um príncipe florentino em Tomar, no rescaldo da Guerra da Restauração”, Boletim Cultural e Informativo da C. M. Tomar, pp.47-55).
Eram o príncipe florentino e os seus acompanhantes legítimos precursores do Grand Tour, expressão francesa universalmente aceite no século XVIII designando a viagem de enriquecimento cultural a que apenas uma elite tinha acesso e que daria origem à palavra turismo.
Dizia nas suas Memórias publicadas em 1746, o viajante português Pedro Norberto d’Aucourt e Padilha, decerto resumindo o sentir da sua época: “Não poderás negar que as jornadas foram as primeiras escolas, e os que corriam terras, os primeiros sábios”. Do mesmo modo expandia-se entre as classes dominantes da Europa a ideia de que conhecer na prática outras geografias, outros povos e as suas maravilhas artísticas era o atributo do verdadeiro cavalheiro, do “gentleman”, tornado verdadeira imagem de marca do Reino Unido.
Como vemos, o turismo, na época em que nasceu, associava os objectivos culturais mais exigentes com a fruição da viagem como prazer, o que não seria difícil a pessoas que viajavam com grande desafogo económico. Mas, para estes pioneiros, viajar era um caso muito sério: era uma escola do mundo e da vida, fundamental para a sua preparação para as funções que os esperavam no regresso à pátria, como dirigentes políticos, diplomatas, armadores, grandes negociantes, administradores, quando se não limitassem a gozar os rendimentos, mas sempre brilhando em sociedade…
Os alvos mais procurados dos britânicos eram, por ordem aproximada de preferência, a Itália, a França, seguindo-se o Império, alguns estados germânicos e só depois, muito depois, os países periféricos como a Espanha e Portugal, mesmo assim em segundo plano perante escolhas mais “exóticas” como a Terra Santa, o Egipto ou a Grécia…
De facto, a travessia dos Pirenéus era considerada aventura de monta, a que não faltavam perigos bem reais: estradas impraticáveis, assaltos frequentes, instabilidade política e social, intolerância religiosa, prepotência das autoridades, burocracia levada aos limites do… impossível! E se a Espanha, mesmo assim, era relativamente bem conhecida, o nosso País era tido como uma província espanhola e a nossa língua um idioma do Castelhano!
A esse turismo sofisticado, de elites, sucedeu o de massas, ao mesmo tempo que o Planeta como que se contraía… A actual afluência a Portugal de milhões de turistas, embora enriqueça o país em preciosas divisas, trouxe um sem-número de problemas com que actualmente nos defrontamos, nomeadamente ao nível da degradação do património, construído e natural, mas principalmente na área social, com a população mais modesta das grandes cidades a ser empurrada dos centros urbanos para as periferias pela ocupação das suas casas pela próspera e gananciosa indústria turística.
Dizia nas suas Memórias publicadas em 1746, o viajante português Pedro Norberto d’Aucourt e Padilha, decerto resumindo o sentir da sua época: “Não poderás negar que as jornadas foram as primeiras escolas, e os que corriam terras, os primeiros sábios”. Do mesmo modo expandia-se entre as classes dominantes da Europa a ideia de que conhecer na prática outras geografias, outros povos e as suas maravilhas artísticas era o atributo do verdadeiro cavalheiro, do “gentleman”, tornado verdadeira imagem de marca do Reino Unido.
Como vemos, o turismo, na época em que nasceu, associava os objectivos culturais mais exigentes com a fruição da viagem como prazer, o que não seria difícil a pessoas que viajavam com grande desafogo económico. Mas, para estes pioneiros, viajar era um caso muito sério: era uma escola do mundo e da vida, fundamental para a sua preparação para as funções que os esperavam no regresso à pátria, como dirigentes políticos, diplomatas, armadores, grandes negociantes, administradores, quando se não limitassem a gozar os rendimentos, mas sempre brilhando em sociedade…
Os alvos mais procurados dos britânicos eram, por ordem aproximada de preferência, a Itália, a França, seguindo-se o Império, alguns estados germânicos e só depois, muito depois, os países periféricos como a Espanha e Portugal, mesmo assim em segundo plano perante escolhas mais “exóticas” como a Terra Santa, o Egipto ou a Grécia…
De facto, a travessia dos Pirenéus era considerada aventura de monta, a que não faltavam perigos bem reais: estradas impraticáveis, assaltos frequentes, instabilidade política e social, intolerância religiosa, prepotência das autoridades, burocracia levada aos limites do… impossível! E se a Espanha, mesmo assim, era relativamente bem conhecida, o nosso País era tido como uma província espanhola e a nossa língua um idioma do Castelhano!
A esse turismo sofisticado, de elites, sucedeu o de massas, ao mesmo tempo que o Planeta como que se contraía… A actual afluência a Portugal de milhões de turistas, embora enriqueça o país em preciosas divisas, trouxe um sem-número de problemas com que actualmente nos defrontamos, nomeadamente ao nível da degradação do património, construído e natural, mas principalmente na área social, com a população mais modesta das grandes cidades a ser empurrada dos centros urbanos para as periferias pela ocupação das suas casas pela próspera e gananciosa indústria turística.
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