ESCÓCIA E CATALUNHA, AS TÃO INCÓMODAS
COMO
INEVITÁVEIS COMPARAÇÕES
Carlos Rodarte Veloso
“O Templário”, 5 de Dezembro de 2019
Há
mais de dois anos que dirigentes independentistas catalães se encontram presos
nas cadeias do estado espanhol. O seu crime? A defesa através de acções não violentas
da independência do seu País, através de manifestações e de um referendo, ambos
reprimidos com a maior violência, e a prisão dos seus líderes e ordem de prisão
para o presidente respectivo, entretanto autoexilado, eleitos pelo povo da
Catalunha.
Num
país regido por leis democráticas e sob a protecção de uma Constituição
ratificada em 6 de Agosto de 1978, que no seu título preliminar proclama “um
Estado social e democrático de Direito que propugna como valores superiores do
ordenamento jurídico a liberdade, a justiça, a igualdade e o pluralismo
político (…) o princípio de soberania popular, e estabelece a monarquia
parlamentar como forma de governo”, em suma, uma Democracia, os dirigentes
presos e condenados a longos anos de prisão, configuram-se como verdadeiros
PRESOS POLÍTICOS, dêem as voltas que derem os argumentos dos seus carcereiros,
para cúmulo baseados na dita Constituição.
O
mais estranho é que o poder que os encarcerou e condena a inacreditáveis penas
de prisão parece apenas acreditar na repressão como forma de evitar a todo o
custo uma possível fragmentação da Espanha, sem tomar em consideração outras
formas de solução já secularmente experimentadas noutros países, incluindo
soluções federalistas, caso dos Estados Unidos da América, do Brasil e da Suíça,
por exemplo.
O
facto de os independentistas da Catalunha serem maioritariamente republicanos
não impediria decerto que o diálogo, inacreditavelmente recusado pelo Estado
espanhol, levasse a soluções criativas e porventura resolvesse a dificuldade do
diálogo com outras forças autonomistas que bem conhecemos, e em tempos ainda
recentes, bem mais agressivas que os actuais “subversivos” da Catalunha…
Entretanto,
no Reino Unido, país também monárquico, a constituição é um conjunto de leis e de
princípios, portanto uma constituição não escrita nem codificada, mas “de
facto” assente na soberania parlamentar, cujos estatutos são aprovados pelo
Parlamento do Reino Unido, suprema e última fonte do Direito.
Mas
o Estado britânico, ao contrário da Espanha, e apesar dos paralelismos entre
ambos, não pôs obstáculos jurídicos ao referendo efectuado na Escócia, em todos
os aspectos semelhante ao caso catalão. E, no entanto, assim como a Espanha,
também a Reino Unido possui outros diversos territórios com aspirações também
independentistas.
É
evidente que Portugal é obrigado a uma grande contenção relativamente ao
problema político espanhol, até para respeitar a política de não-ingerência em
matérias de política interna.
Já
custa muito compreender que a União Europeia, por norma – e bem! – muito
crítica em relação a quaisquer atropelos à Democracia nos diversos Estados que
a constituem – embora sem grandes resultados, como é sabido – se cale hipocritamente
perante a vergonha que constitui, para todos nós, haver presos políticos aqui
mesmo ao lado, descaradamente!
Que
o nosso governo se cale em nome da diplomacia, isso faz parte da “realpolitik”,
mas eu, cidadão português livre dessas amarras, digo e repito que é uma
vergonha aceitar tal estado de coisas. A Espanha não é a Hungria, nem a
Turquia, e o facto do seu governo – embora periclitante – ser socialista, ainda
mais obriga a encontrar um caminho digno no labirinto em que se encontra. No
mínimo, a amnistia para os presos políticos!
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