SAUDADES DO FUTURO
Carlos Rodarte Veloso
“O Templário”, 7 de Maio de 2020
A
palavra que mais nos falta neste momento, não é Maré, nem Onda, nada de cíclico,
pois tudo o que se repete é certo mas fugaz, e a esperança dessa repetição não
encerra mais certeza que a do sabido pôr e nascer do Sol, do movimento
universal das galáxias, da vertiginosa queda dos graves, da atracção universal,
do galope das nuvens nos céus, da inércia que imprime o movimento perpétuo a
todos os corpos celestes, do correr das águas nos grandes como nos pequenos vales,
do deslizar das placas tectónicas, no fundo, nada que contribua para os avanços
desta espécie ciclotímica, ora ufana das suas realizações, ora completamente desesperada.
Nada que o livre arbítrio não
ultrapasse, já que os ditames autocráticos dos grande sistemas doutrinários,
geridos por vultuosas personagens, vendilhões do Templo alicerçadas no poder
das armas, nada são perante a vontade destas toscas criaturas que, embora
temerosas quando isoladas, conseguem contornar, em felizes momentos de unidade,
esses poderes, convertendo-se elas próprias em Poder.
O momento que vivemos dividiu-nos
como espécie empreendedora, tirou-nos provisoriamente o poder em confronto com
forças que ainda não compreendemos totalmente, enquanto a nossa divisão e
antagonismo nos lança uns contra os outros, indiferentes aos sucessos antigos,
dispostos a tudo apostar na divisão entre grupos e sistemas, na hostilidade
entre semelhantes, naquilo a que chamamos Guerra.
Por isso, as palavras que nos faltam
são Saudade do Futuro, dimensão que tanto contribuiu para o êxito da Humanidade
nos desafios que enfrentou, horizonte mítico que nos levou a outras e
inconcebíveis paragens.
E o actual desafio, porventura o último
durante uma longuíssima época, é o mais determinante de todos, porque agora se
junta uma pandemia oriunda da mais que provável acção humana, com a ameaça de
desastre ambiental prevista há muito tempo, ela própria garantidamente devida à
mesma acção.
Temos agora meios de enfrentar ambas
as ameaças, mas apenas a união de todos nós permitirá vencê-las, mesmo com os
rostos provisoriamente ocultados por máscaras…
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