sexta-feira, 8 de maio de 2020



SAUDADES DO FUTURO
Carlos Rodarte Veloso
“O Templário”, 7 de Maio de 2020

A palavra que mais nos falta neste momento, não é Maré, nem Onda, nada de cíclico, pois tudo o que se repete é certo mas fugaz, e a esperança dessa repetição não encerra mais certeza que a do sabido pôr e nascer do Sol, do movimento universal das galáxias, da vertiginosa queda dos graves, da atracção universal, do galope das nuvens nos céus, da inércia que imprime o movimento perpétuo a todos os corpos celestes, do correr das águas nos grandes como nos pequenos vales, do deslizar das placas tectónicas, no fundo, nada que contribua para os avanços desta espécie ciclotímica, ora ufana das suas realizações, ora completamente desesperada.
            Nada que o livre arbítrio não ultrapasse, já que os ditames autocráticos dos grande sistemas doutrinários, geridos por vultuosas personagens, vendilhões do Templo alicerçadas no poder das armas, nada são perante a vontade destas toscas criaturas que, embora temerosas quando isoladas, conseguem contornar, em felizes momentos de unidade, esses poderes, convertendo-se elas próprias em Poder.
            O momento que vivemos dividiu-nos como espécie empreendedora, tirou-nos provisoriamente o poder em confronto com forças que ainda não compreendemos totalmente, enquanto a nossa divisão e antagonismo nos lança uns contra os outros, indiferentes aos sucessos antigos, dispostos a tudo apostar na divisão entre grupos e sistemas, na hostilidade entre semelhantes, naquilo a que chamamos Guerra.
            Por isso, as palavras que nos faltam são Saudade do Futuro, dimensão que tanto contribuiu para o êxito da Humanidade nos desafios que enfrentou, horizonte mítico que nos levou a outras e inconcebíveis paragens.
            E o actual desafio, porventura o último durante uma longuíssima época, é o mais determinante de todos, porque agora se junta uma pandemia oriunda da mais que provável acção humana, com a ameaça de desastre ambiental prevista há muito tempo, ela própria garantidamente devida à mesma acção.
            Temos agora meios de enfrentar ambas as ameaças, mas apenas a união de todos nós permitirá vencê-las, mesmo com os rostos provisoriamente ocultados por máscaras…

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