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O Banco Bom e o Banco Mau
Não
pretendo ironizar sobre as possíveis semelhanças entre os herdeiros do Espírito
Santo – e aqui está outra interessante, embora blasfema, oportunidade de
ironizar – e o polícia bom e o polícia mau
das técnicas de interrogatório que, diz-se, fazem parte da prática
policial. Por isso não estabelecerei um tentador paralelismo entre a situação
dos utentes do banco, vítimas apenas da sua ingenuidade, e a dos seus dirigentes,
gente decerto irrepreensível e duma honestidade a toda a prova.
Foi
decerto essa reconhecida honestidade que levou o mais alto magistrado da nação
a convidar o povo português a confiar na instituição e a investir nela as suas
poupanças, mesmo quando já soavam discretamente as sereias de alarme da
bancarrota eminente. Os cidadãos que entenderam seguir esse conselho, só por má
fé o podem agora acusar desse erro, que só poderá ser equiparado ao seu erro,
ainda maior, de o elegerem.
O
alto magistrado já nos habituou à sua finíssima intervenção nos momentos
críticos da nossa história recente, assim comprovando as suas certezas
absolutas em que, dizia ele, raramente se enganava. E já o demonstrava na sua
anterior condição de primeiro ministro, quando legislava o fim de actividades
marítimas tradicionais como a pesca e a marinha mercante que, agora como
Presidente da República, considera essenciais à nossa sobrevivência como
Estado.
Tanta
coerência quase nos faz esquecer o despesismo de que o seu magistério é
acusado, decerto injustamente, visto que bem conhecemos as suas aflitivas
queixas quanto às dificuldades domésticas que os seus parcos rendimentos lhe
fazem sentir. Nem podemos pôr em causa o seu patriotismo quando em 2010, viu Portugal
ser enxovalhado publicamenente pelo presidente da República Checa, sem ter
aberto a boca para defender o nosso país. Na verdade a sua cuidada educação, o
seu cavalheirismo, não permitiriam uma miserável peixeirada num local público,
ainda por cima internacional. Assim é Portugal, terra de honra, mas também de
educação. Ainda hoje a sua atitude de firme silêncio, deixa envergonhado todo o
povo checo.
Voltando
ao agora falecido Banco Espírito Santo, assisto emocionado à originalíssima
estratégia dos nosso governantes, a dividirem o mal pelas aldeias: de um lado,
o Banco Bom, aquele que vai render mais uns milhões para o Estado arrecadar no
tal cofre sem fundo que sempre tem disponível para os outros bancos, bons e
maus, a que se juntará alguma coisinha dos contribuintes, no caso de qualquer
das habituais derrapagens. E o Mau, enfim, vai para o inferno dos paraísos
fiscais... Esta frase até tem a sua piada.
Carlos
Rodarte Veloso
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