sexta-feira, 5 de setembro de 2014


    O Templário, 7-8-2014
 
Os direitos dos animais

A recente aprovação na Assembleia da República de uma lei de criminalização de maus tratos a animais, parecia trazer a um mundo baseado no direito discricionário dos seres humanos sobre todos os animais, finalmente, uma luz de verdadeira humanidade.
Enganava-se quem o pensou, porque para além da correctíssima defesa dos direitos dos animais de companhia, a douta assembleia engasgou-se e excluiu da lei a defesa dos animais utilizados em espectáculos, mormente aqueles que sofrem verdadeira tortura ao serem crivados pelo ferro de farpas e outros objectos perfurantes, tudo para a duvidosa satisfação de um público ávido de sangue, que mais parece ter saído das bancadas das antigas arenas romanas.
Claro que estou a falar de um tabu português, melhor, ibérico: as touradas. É evidente que trazem divisas, alimentam o turismo e, principalmente, exibem a coragem do bicho-homem, assim glorificado pela utilização da inteligência no patamar mais baixo em que jamais foi utilizada: a crueldade.
Esta luta, aparentemente equilibrada, apenas revela a “superioridade” de um intelecto que criou as regras de um jogo que não é entre iguais e se permite julgar da “nobreza” de um animal através de uma manifestação de estupidez: marrar na capa, em vez de na figura... Se fosse o touro a julgar, se calhar premiava o bicho que primeiro espetasse nas suas pontas o corajoso adversário.
É sem dúvida uma vergonha a permanência, nestes dias supostamente civilizados, de um espectáculo bárbaro cujos defensores, ainda por cima, não hesitam em exercer violência sobre os seus detratores. É vê-los a carregar, a cavalo ou de carro, sobre manifestantes anti-tourada e, mais incrível, declararem a sua “razão” com base na “provocação”!
O lobbie pró-tourada é muito forte, já não pelo número dos seus apoiantes, mas pelo poder económico e/ou político que tem por trás. A tibieza do Parlamento prova-o.
No entanto, outras excepções a esta lei histórica demonstram o muito que fica por fazer: a caça, esse “desporto” tão popular, o sofrimento desnecessário no abate de animais nos matadouros, as condições desumanas dos aviários...
E no entanto, incrivelmente, um partido surge a votar contra uma lei como esta, tão tímida na defesa dos animais: o PCP, que considera as penas desproporcionadas! Se calhar, dez pais-nossos e dez avé-marias seriam o suficiente para penalizar os infractores...
Afinal, no meio disto tudo, quem são os animais?

Carlos Rodarte Veloso



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