sexta-feira, 13 de outubro de 2017



ASSUNÇÃO E ÁGUA BENTA, CADA UM TOMA A QUE QUER

Carlos Rodarte Veloso

(“O Templário”, 12 de Outubro de 2017)

Enquanto o PSD lambe as feridas do combate autárquico em que comprometeu irremediavelmente algum resto de prestígio que ainda pudesse conservar, os outros derrotados assumem atitudes diametralmente opostas em relação ao seu caso particular:
            Assunção Cristas, cujos votos decresceram desde as últimas eleições, grávida da transferência de votos de que beneficiou em Lisboa à custa dos erros de Passos Coelho e seus apoiantes, dançou e deu espectáculo na noite eleitoral, com os seus jovens apoiantes, enquanto a “isenta” comunicação social afecta à Direita, a coloca – quase! – como a verdadeira vencedora destas Autárquicas em que a vitória do Partido Socialista é de tal forma indesmentível!
            E já vimos claramente, na sua atitude perante as forças políticas com que virá a conviver, uma atitude de arrogância e de paternalismo – ou maternalismo? – de quem se considera já o eixo do mundo autárquico português! É ridículo, eu sei, mas a táctica de negar as derrotas à custa de “verdades alternativas” já há muito tempo, mesmo antes das famosas “teorias” de Donald Trump, mesmo antes de Adolf Hitler e de Joseph Goebbels, sempre surtiram o efeito pretendido, isto é, transformar os derrotados em virtuais vencedores.
            De facto, a “vitória” dos vencidos tem sido um divertido “fait divers” que tem acompanhado a maior parte dos balanços eleitorais. Curiosamente, Jerónimo de Sousa, que desde sempre apresentou os resultados da CDU como  “avanços” significativos na luta a favor do povo português, nunca como derrotas, e apesar de superar largamente o número de autarquias conquistadas pelo CDS, apresenta-se como “derrotado” devido à perda de câmaras municipais e  juntas de freguesia que justifica, atenção(!), como erro crasso dos eleitores que, diz ele, virão a arrepender-se deste seu erro fatal. E o despeito é tanto, que dias depois assaca a assumida derrota a uma suja campanha de difamação conduzida pelo PS!
            Devo dizer que não fiquei com a menor ideia de uma tal campanha. Pelo contrário, as declarações pós-eleitorais de António Costa de forma alguma misturam o PCP com o desastre da Direita, antes mostrando um grande respeito e consideração pelo partido de Jerónimo de Sousa, que continua a considerar como aliado e imprescindível à Democracia, assim como ao Bloco de Esquerda, também não propriamente um vencedor nestas eleições.

            Mas as coisas são como são, e o regresso da época dos fogos vai devolver algum fôlego a uma Direita exangue, sempre pronta a embarcar na demagogia e na mentira, se isso parecer dar-lhe alguns dividendos políticos.         

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