GIORDANO BRUNO NO
ANIVERSÁRIO DO SEU
MARTÍRIO
Carlos Rodarte Veloso
Correio Transmontano, 17 de Fevereiro de 2018
O
monge dominicano Giordano Bruno (1548-1600) é um dos mais surpreendentes e
corajosos filósofos do século XVI. Segundo Vítor Matos e Sá, ele e o espanhol
Francisco Suárez seriam “os dois únicos grandes filósofos da época moderna
anteriores a (Francis) Bacon e a Descartes”.
Numa
época de predomínio do pensamento único em torno da interpretação do mundo,
dominado pelos dogmas religiosos do Catolicismo e dos seus novos grandes rivais,
o Luteranismo, o Calvinismo e o Anglicanismo, ele viveu sempre no fio da
navalha.
Doutorado
em Teologia, rapidamente manifestou ideias consideradas suspeitas pela
hierarquia católica, acabando por ser julgado em Roma, onde acabou por
abandonar o hábito, tinha então 31 anos. Em Génova ter-se-ia convertido ao
Calvinismo, o que lhe valeu a excomunhão da Igreja romana, tendo sido a seu
tempo também excomungado pelos calvinistas e, finalmente pelos luteranos. É
inacreditável um tamanho desafio à capacidade de sobrevivência num mundo dominado
pela intolerância e a subordinação às directrizes religiosas mais
fundamentalistas.
Desde
então, a vida de Giordano Bruno torna-se uma constante peregrinação por essa
Europa, sempre perseguido, ao mesmo tempo que, com o apoio inconstante de
diversos mecenas, publicou muitas das suas obras, muitas delas totalmente
“heréticas” defendendo, antes de Galileu, as teorias de Copérnico sobre a
rotação e a translação da Terra à volta do Sol, mas também a constituição
atómica da matéria, já presente, desde a Antiguidade em Demócrito, Epicuro e
Lucrécio. No entanto, a “cereja em cima do bolo” gulosamente aproveitada pela
Igreja católica, foi a sua contestação entre muitas outras, do carácter sagrado
das Sagradas Escrituras, dos sacerdotes e da própria divindade de Cristo, escândalo
dos escândalos.
A
sua fuga para Veneza, aparentemente uma cidade de livre-pensamento, acabou por
ser a armadilha que o enviou para as mãos da Santa Sé, onde foi submetido a um
longo e penoso julgamento durante oito anos.
A
sua coragem e dignidade não lhe permitiram o fácil caminho da retractação. Não
abjurou e foi assim condenado à morte na fogueira. Em 17 de Fevereiro de 1600,
há 418 anos portanto, foi a queimar no Campo dei Fiore, no coração de Roma, uma
das inteligências mais brilhantes do seu século. A estátua que lhe foi erigida
nesse mesmo local, foi a indispensável homenagem e a reparação possível ao seu
espírito rebelde e às geniais intuições que o acreditam entre os maiores
construtores da Ciência, os gigantes sobre cujos ombros se elevaram outros
tantos gigantes, até ao nosso tempo.
(Foto C.Veloso)
(Foto C.Veloso)
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