quinta-feira, 8 de março de 2018


LUTAREMOS NAS PRAIAS...
"DUNKIRK" e "DARKEST HOUR"

Carlos Rodarte Veloso


“O Templário”, 8 de Março de 2018

  


Dois filmes magníficos produzidos e realizados em 2017, abordam o tema da invasão da França pelas tropas nazis em 1940 e o cerco das tropas britânicas aí estacionadas, 220.000 homens encurraladas em Dunquerque e assim impossibilitadas de atravessar o Canal da Mancha e regressar à Inglaterra, deste modo desguarnecida do seu exército na hora mais crítica da sua história.
No momento do desespero total, Winston Churchil, recém nomeado Primeiro Ministro do Reino Unido, vê-se perante o dilema de escolher um de dois caminhos: a capitulação face à onda avassaladora das forças armadas alemãs, com a obtenção de um difícil acordo com Hitler decerto à custa de condições draconianas e a perda da soberania britânica ou, caminho aparentemente impossível, a resistência nacional a todo o custo. E foi este caminho “impossível” que Churchil escolheu, galvanizando o povo e o Parlamento, em tempo do desânimo generalizado.
"Nós não desistiremos nem fracassaremos. Nós iremos até o fim. Nós lutaremos em França, lutaremos nos mares e oceanos, nós lutaremos com confiança crescente e uma força também crescente à nossa volta. Nós defenderemos a nossa ilha, qualquer que seja o preço. Nós lutaremos nas praias, lutaremos em terra firme, lutaremos nos campos e nas ruas, lutaremos nas montanhas. Nós nunca nos renderemos!"
E apenas defendidas por um escasso número de aviões e navios de guerra, as tropas britânicas foram resgatadas, trazidas para a Inglaterra por um enorme frota de embarcações civis mobilizadas pelo Primeiro Ministro através da Operação “Dynamo”, missão aparentemente suicida dos proprietários e tripulantes civis de rebocadores, arrastões, traineiras, salva-vidas, barcaças e iates de recreio. Não estão contabilizadas as baixas civis desta operação, mas cerca de 190.000 militares foram resgatados, o que permitiu a guarnição dos quartéis e fortificações da Grã-Bretanha e, assim, a resistência da Ilha e o seu contributo vital para a salvação da Europa e do Mundo “à custa de sangue, suor e lágrimas”.
“Dunkirk”, co-produção britânica, norte-americana e francesa, realizada por Christopher Nolan, incide especificamente sobre a situação das tropas cercadas na praia de Dunquerque, França, a escassas milhas das tropas invasoras e na sua salvação in-extremis pela estranha frota civil que heroicamente afronta os esmagadores meios militares alemães. O filme, pela sua extraordinária realização e a força da epopeia que retrata, servido por uma banda sonora excepcional, parecia fadado para os mais altos voos, como o foi a diminuta esquadrilha de Spitfires e os seus pilotos, os mais eficazes agentes do combate à Luftewaffe, futuros heróis da Batalha de Inglaterra.
“A Hora mais Negra” (“Darkest Hour”), produção britânica realizada por Joe Wright, mais intimista, gira à volta da figura de Winston Churchil, da sua dificílima situação política e compreensíveis hesitações perante um Parlamento maioritariamente derrotista, um rei que, apesar da sua pouca simpatia pessoal pelo mesmo Primeiro Ministro acaba por apoiá-lo, e um povo que ele consegue electrizar e mobilizar para a Operação “Dynamo”, a mais perigosa e decerto heróica mobilização civil de todas as guerras.
Ambos candidatos aos Óscares, distribuídos no passado Domingo, tiveram diversa fortuna na crítica internacional, que previa vantagens para “Dunkirk”, já considerado um dos melhores filmes de guerra da história do cinema. Apesar disso as referidas previsões ficaram goradas pelo resultado, tendo “A Hora mais Negra”, beneficiada pela extraordinária interpretação de Gary Oldman na personagem de Winston Churchil, obtido o Óscar para o melhor actor, apesar de lhe ter sido menos favorável a crítica que, nalguns casos chega a acusá-lo de simpatias pelo Brexit!
Pessoalmente, considero ambos os filmes notabilíssimos e completamente disparatada a opinião politizada sobre o segundo, que me parece um brilhantíssimo exercício introspectivo de uma das personagens cimeiras da História do Século XX que, pela sua luta a favor da salvação dos valores europeus e não do seu afastamento em relaação a eles, será antes um bom exemplo de “anti-Brexit” muito antes da criação da União Europeia...
A prestação de Kristin Scott Thomas é também notável mas, estranhamente, não consta de qualquer nomeação, assim como a banda sonora e outros aspectos técnicos, nomeadamente o enquadramento fotográfico, sempre adequado e esteticamente irrepreensível em cada momento do filme.
Dois filmes obrigatórios para os mais exigentes cinéfilos.

Sem comentários:

Enviar um comentário