CORFU. APONTAMENTOS DE VIAGEM
À MARGEM DE UM CONGRESSO
Carlos Rodarte Veloso
“O Templário”, 7 de Junho de 2018
Corfu, 23 de Junho de 2004
Para mim, terminou o Congresso, o 4th International Congress of Maritime History, organizado pelo Departamento de História da Universidade Iónica, realizado em Corfu em Junho de 2004, onde apresentei uma comunicação subordinada ao título "Causes de naufrage dans les routes maritimes portugaises de l’ancien régime - de l’erreur humaine a la violence organisée". Passada a “iniciação” e a comunicação, posso respirar fundo. Foi bom, mas com o calor e a confusão babilónica do encontro, já chegava…
Corfu é uma linda cidade, tão luminosa sob o seu azul mediterrânico, como anárquica no seu trânsito que, em muitos aspectos, lembra Portugal. Sobre Corfu e o seu enquadramento geográfico, político e paisagístico, publiquei já um pequeno apontamento n’ O Templário de 29 de Dezembro de 2016
No centro da cidade, à revelia dos outros estrangeiros, os seis portugueses que para aqui tínhamos viajado, almoçámos coisas da terra e trocámos impressões sobre Corfu e o Mediterrâneo, os nossos antigos contactos com os povos que o habitaram e, como é evidente, a aventura marítima de Portugal! Nós os cinco, que não nos conhecemos de lado nenhum, encontramo-nos numa ilha mediterrânica a falar sobre assuntos que só nos interessam a nós, NÓS que fomos “apenas” os descobridores do mundo, enquanto os OUTROS, mais sofisticados, nossos herdeiros em muitos aspectos, falam de números — produtos, tráfego, seguros, estatísticas — que fazem de cada um um senhor do mundo…
Os franceses são muito sui generis, com a sua atitude de perpetuamente ofendidos por não serem a maioria dos participantes e de o Francês, embora língua oficial do Congresso, ser minoritária. Falam uns com os outros, em circuito fechado, a comemorar, quase 400 anos depois, o terem sido momentaneamente os senhores dos mares e da navegação, com a sua inventiva e as lições que deram na arte da navegação, sobretudo aos ingleses.
Os de língua não anglo-saxónica submetem-se à hegemonia do Inglês e, sendo mais numerosos que os francófonos, sujeitam-se a debitar as suas verdades nas suas versões de variável competência das línguas oficiais… Foi o que eu disse a M. X, que se manifestava indignado pelo pequeno número de delegados utilizando o francês. Sempre lhe fui recordando que o Português, muito mais falado no mundo do que o francês, não era sequer língua reconhecida pelo Congresso… Isso não o perturbou minimamente, mantendo o discurso autista que nunca abandonou…
Corfu é uma linda cidade, tão luminosa sob o seu azul mediterrânico, como anárquica no seu trânsito que, em muitos aspectos, lembra Portugal. Sobre Corfu e o seu enquadramento geográfico, político e paisagístico, publiquei já um pequeno apontamento n’ O Templário de 29 de Dezembro de 2016
No centro da cidade, à revelia dos outros estrangeiros, os seis portugueses que para aqui tínhamos viajado, almoçámos coisas da terra e trocámos impressões sobre Corfu e o Mediterrâneo, os nossos antigos contactos com os povos que o habitaram e, como é evidente, a aventura marítima de Portugal! Nós os cinco, que não nos conhecemos de lado nenhum, encontramo-nos numa ilha mediterrânica a falar sobre assuntos que só nos interessam a nós, NÓS que fomos “apenas” os descobridores do mundo, enquanto os OUTROS, mais sofisticados, nossos herdeiros em muitos aspectos, falam de números — produtos, tráfego, seguros, estatísticas — que fazem de cada um um senhor do mundo…
Os franceses são muito sui generis, com a sua atitude de perpetuamente ofendidos por não serem a maioria dos participantes e de o Francês, embora língua oficial do Congresso, ser minoritária. Falam uns com os outros, em circuito fechado, a comemorar, quase 400 anos depois, o terem sido momentaneamente os senhores dos mares e da navegação, com a sua inventiva e as lições que deram na arte da navegação, sobretudo aos ingleses.
Os de língua não anglo-saxónica submetem-se à hegemonia do Inglês e, sendo mais numerosos que os francófonos, sujeitam-se a debitar as suas verdades nas suas versões de variável competência das línguas oficiais… Foi o que eu disse a M. X, que se manifestava indignado pelo pequeno número de delegados utilizando o francês. Sempre lhe fui recordando que o Português, muito mais falado no mundo do que o francês, não era sequer língua reconhecida pelo Congresso… Isso não o perturbou minimamente, mantendo o discurso autista que nunca abandonou…
O meu almoço foi um prato que, traduzido para a “língua universal”, era “chicken in ‘koum-kouat sauce Corfu stille” (sic!), que era uma coisa com pedaços de frango (assado? guisado?) com rodelas minúsculas dumas laranjinhas doces, batatas e arroz, com o tal molho por todos os lados e era deliciosamente estranha. Demos depois uma volta pelo centro da cidade, visitámos a Igreja de Agio Spiridion (São Espiridião) que é o patrono de Corfu e é ortodoxa, com uma acumulação quase kitsch de ícones — na maioria, ingénuos, alguns belíssimos — e com a urna em prata do santo coberta por inúmeras lanternas de prata e ex-votos, também em prata, penduradas do tecto, oferendas devotas como as que vemos nos nossos santuários. Nas lojas de recordações, dominam as cópias de vasos gregos e, principalmente, de ícones bizantinos, como o que comprei com “certificate”, e tudo...
Estou agora sozinho, num snack-bar de uma rua sossegada da parte moderna de Corfu, a comer uma bela tosta de queijo com pepino, tomate e não sei o que mais, com uma laranjada vulgaríssima. Vou voltar ao hotel, embora não faça a mais pequena ideia do caminho a seguir, depois de, como sempre, me ter perdido estrategicamente, para ver coisas diferentes. Uma delas foi o Museu de Arqueologia, que já fechou há 1 hora (às três!) e agora só numa nova viagem ou numa próxima encarnação!
Ainda deambulei naquela parte da cidade, com vista para este mar incomparável, por uma aprazível alameda onde circulavam charretes como os de Sintra. Num supermercadinho tive que recorrer à linguagem gestual, a algumas palavras mais ou menos internacionais e ao meu Italiano pobrezinho, para adquirir alguns géneros indígenas. A “língua universal” não me serviu aqui para nada: ou Grego ou Italiano, a língua dos Venezianos, que ocuparam a ilha durante cerca de 400 anos.
Amanhã vai ser Atenas e o regresso, e espero que seja um dia memorável. No fundo, apesar de tudo que vi e fiz, tem sido esse o centro das minhas preocupações. Vamos ver se tenho tempo para ver, ao menos, a Acrópole! Já me chegava… Se chegava!
Corfu - Atenas, 24 de Junho de 2004
Estou literalmente no ar a caminho de Atenas (Αθήνα), a Cidade por excelência! Sobrevoei Corfu e as Ilhas Iónicas mais próximas – como é pequena Ítaca, a ilha de Ulisses, tão cobiçada! – e estou agora sobre a Grécia continental, e é sempre o mesmo: dorsos de monstros marinhos emergindo das águas, com as suas cristas e rugosidades, rochas e alguns vales verdes, canais e lagoas marinhas, com ilhotas no meio, ligadas a terra por pontes.
A viagem foi rapidíssima. Mal me dispus a escrever — o que demorou algum tempo — e já nos fazemos à pista. A viagem anunciada era de 1 hora, mas pouco passou de meia e já estou, mais uma vez literalmente, a apertar o cinto… Atenas, alma mater da nossa Civilização, mergulhada numa névoa que nada tem de poético e faz dela uma das cidades mais poluídas da Europa!
Sobre essa breve mas tão rica estadia, pode ler-se, também n’O Templário, o meu artigo “6 horas em Atenas”, no número de 5 de Janeiro de 2017.
A viagem foi rapidíssima. Mal me dispus a escrever — o que demorou algum tempo — e já nos fazemos à pista. A viagem anunciada era de 1 hora, mas pouco passou de meia e já estou, mais uma vez literalmente, a apertar o cinto… Atenas, alma mater da nossa Civilização, mergulhada numa névoa que nada tem de poético e faz dela uma das cidades mais poluídas da Europa!
Sobre essa breve mas tão rica estadia, pode ler-se, também n’O Templário, o meu artigo “6 horas em Atenas”, no número de 5 de Janeiro de 2017.
FOTOS: C. Veloso
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