quinta-feira, 14 de junho de 2018



UM MUNDO DE PLÁSTICO

Carlos Rodarte Veloso

(“O Templário”, 14 de Junho de 2018)

A palavra AMEAÇA parece ser o denominador comum do mundo em que vivemos. Podemos apontar para o sinistro 11 de Setembro de 2001 em Nova Iorque como o espoletador de todos os demónios dum mundo exausto de ódio, mas que o não esquecera. O ataque às “torres gémeas” foi o pretexto maravilhoso para se fazer tábua rasa de todos os progressos obtidos no final do século XX. George W. Bush, vencedor de eleições bastantes controversas logo se colocou no centro do furacão que levou à invasão do Iraque sob o pretexto hoje sabidamente falso das “armas de destruição maciça”, com o apoio dos “amigos do costume” em que devemos incluir a vergonhosa cumplicidade do nosso governo de então, de Durão Barroso, que não demorou muito a colher muito mais do que os simbólicos 30 dinheiros bíblicos.
Terrorismo, guerra muito pouco cirúrgica, aumento do terrorismo agora organizado em “estado”, ampliação intercontinental dos campos de batalha, refugiados, mais refugiados, refugiados ainda rapidamente convertidos em pomo de discórdia e sementeira de medo, sementeira de ódios...
Não cabe aqui a análise das causas e efeitos quer do terrorismo suicidário do “estado islâmico”, quer do terrorismo super organizado e tecnológico dos Estados Unidos e aliados. Nem o período de Barack Obama à frente dos States, promissor de uma recuperação do diálogo internacional, conseguiu interromper a tendência suicida internacional – assim a considero – enquanto emergiam como cogumelos pequenas  ditaduras envergonhadas ainda, proto-fascistas, alimentadas pelo fogo do ódio e do MEDO perante a “invasão” do nosso mundo cada vez menos livre por multidões de gente pobre, ameaçada nas suas vidas pela guerra alimentada por interesses que lhes eram inteiramente alheios.
Essa gente, por ter uma religião erradamente identificada com o pseudo-islamismo do “estado islâmico”, sofre a suspeição de querer conquistar o Ocidente, suspeição essa alicerçada em demasiados comportamentos detestáveis de emigrantes de segunda e terceira geração, instalados no seio de uma esmagadora maioria desejosa apenas de acolhimento e trabalho.
Não vale a pena repetir as tristes cenas que marcaram a bola de neve criada a  partir de atentados terroristas cada vez mais sangrentos desse inacreditável “estado islâmico”, enquanto a ideia de tolerância, tão cara pelos nossos lados, se esvaía gradualmente. O radicalismo populista alastrou a novos países, nomeadamente da nossa Europa, e interrogamo-nos agora sobre a possibilidade de o “ovo da serpente” que eclodiu nos anos 20 e 30 do século passado, estar de novo presente nos bastidores do poder europeu.
A triste verdade é que, enquanto cresce o apoio a governos populistas cada vez mais descaradamente fascistas, os Estados Unidos se afastam de qualquer tipo de apoio aos antigos aliados e às suas tão proclamadas virtudes, confrontados com a emergência de um clima de confronto internacional alimentado até ao frenesim pela prosápia imbecil do pior dos presidentes jamais eleitos, em condições ainda mais suspeitas do que as que deram o poder a Bush, Donald Trump...
A coincidência do seu mandato com a emergência de novas super-potências governadas por ditadores de variável competência, capazes de fazer sombra ao poder económico e militar do seu país, alimenta mais ainda a ameaça de um confronto internacional completamente descontrolado que fará a 2ª Guerra Mundial parecer um conflito de média dimensão.
E o que podem fazer as massas humanas discordantes deste estado de coisas num planeta cada vez mais cheio e em que a Democracia é cada vez mais uma simples declaração de intenções, constantemente atropelada pela “realpolitik” nua e crua?
Podem, é claro, manifestar-se nas ruas e através dos órgãos de soberania ainda activos nos diversos Parlamentos, em abaixo-assinados de muito discutível eficácia, ou através da Imprensa, esta no entanto cada vez mais enfeudada aos interesses de grande grupos de pressão, traindo assim em toda a linha aquela que deveria ser a sua misssão social e política...
Mas há problemas não directamente associados a esta ameaça de guerra, o monstro que mais imediatamente nos preocupa, e que são aqueles que estão ligadas às ameaças cada vez mais evidentes ao nosso planeta, ao ambiente em que temos que sobreviver e que se mostra crescentemente ameaçado e ameaçador, leia-se, sufocante! Essa ideia assustadora é evidenciada pela acumulação maciça de LIXO por todo o mundo, nos milhares de toneladas diárias lançadas em monturos que abrangem áreas cada vez mais avassaladores dos arredores das grande cidades que, por sua vez, os “exportam” para os países do Terceiro Mundo. E todo ele, para os RIOS e para o MAR, o grande “caixote do lixo” que até há algum tempo parecia inesgotável pelo espaço que aparentava oferecer!
O útimo número da revista “National Geographic” faz um dramático ponto da situação deste problema, que está a entupir os oceanos com ilhas de plástico do tamanho de países e os animais marinhos com micropartícula também plásticas, que os matam e acabam por entrar igualmente na alimentação humana com resultados ainda desconhecidos, mas previsivelmente nefastos para a saúde e a vida.


Aterros sanitários já deixaram de ser condição suficiente para resolver o problema pois eles mesmos têm um limite de capacidade facilmente ultrapassada, e a incineração dos resíduos perigosos trás problemas graves de poluição que exigem medidas bastante despendiosas e difíceis de aplicar.
Apenas a reciclagem diferenciada parece resultar, mas a percentagem de pessoas – para falar apenas em Portugal – que utilizam os contentores de plásticos, metais, papel e vidro ainda está bastante abaixo dos 50%, sendo que desses cidadãos cumpridores muitos deles não o fazem correctamente.
Alguma experiência em países escandinavos sugere a entrega das embalagens de plástico, de longe o maior poluidor e o mais durável, como depósito nos grandes estabelecimentos comerciais, em troca de talões de compras.
O pagamento nos supermercados dos sacos de plástico pode ajudar a reduzir o seu uso, mas nesses mesmos estabelecimentos – e em todo o comércio – a esmagadora maioria dos produtos vêm embalados, muitas vezes duplamente embalados, em plásticos de diversos tipos, levando a um consumo aproximado de 1 quilo e meio de plástico por pessoa e por dia! É nesse problema que deverão incidir todas as medidas para reduzir o seu uso e aumentar drásticament o seu reaproveitamento.
Não sei se conseguiremos, através da Democracia que nos resta e de alguma vergonha que sobre na cara dos dirigentes que tão mal nos dirigem, conter uma guerra generalizada de índole militar, ou se ela ficará “reduzida” a agressões “puramente económicas”, nem por isso inócuas para as vidas humanas, ao mesmo tempo que nos países da periferia se ensaiam as novíssimas armas que um dia nos poderão matar a todos...
Enquanto tal não acontece, resta-nos, pelo menos, não fazer orelhas moucas aos perigos mortíferos desse maravilhoso material que, desde o final do 2ª Guerra Mundial inundou o mundo do consumo e as nossas vidas: o “inefável” PLÁSTICO!

FOTO: National Geographic






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