O COLÉGIO UNIVERSITÁRIO DA ORDEM DE CRISTO EM COIMBRA
Carlos Rodarte Veloso
A criação do Colégio de Nossa Senhora da Conceição, conhecido em Coimbra como de Tomar e em Tomar, como de Coimbra, está indissociavelmente ligada a dois factores: à reforma da Ordem de Cristo, decidida em 1523 por D. João III, e à transferência definitiva da Universidade para Coimbra, no ano de 1537.
Nasce assim o Convento ou Colégio de Coimbra, também chamado de Nossa Senhora da Conceição, destinado a facultar aos freires da Ordem de Cristo uma preparação universitária, espécie de ensino liceal muito antes da criação dos Liceus.
Relativamente ao período de 147 anos que medeia entre o início da construção e a bênção da igreja, há uma falta confrangedora de documentação, tanto relativamente à sua autoria, como quanto aos seus artífices. A documentação relativa a este período diz respeito, fundamentalmente, às doações e subsídios que diversos reis entenderam conceder ou confirmar ao Colégio.
Só depois de grandes atribulações será finalmente benzida, pelo Bispo de Coimbra, em 17 de Abril de 1713, a Igreja do Colégio de Tomar, na presença do D. Prior Geral da Ordem de Cristo e do Prior do Colégio.
O raiar do século XIX assiste à franca decadência da Ordem e dos seus estabelecimentos, como, aliás, à das restantes ordens e, como é sabido, de todo o sistema do Antigo Regime.
A Revolução Liberal traz a secularização do Colégio de Tomar, tal como aconteceu com as ordens militares de Santiago e de Avis, transformando-o em colégio literário.
Mas é com a extinção das ordens religiosas, decretada em 1834, que o Colégio de Nossa Senhora da Conceição recebe o golpe de misericórdia. Vendido em hasta pública, em 1 de Abril de 1852, é abandonado à sua sorte durante mais 21 anos, até que o Município o recuperou, por pouco tempo, com as novas funções de escola de tiro, esgrima e ginástica.
Mas não demoraria a morte de tão maltratado monumento: em 4 de Outubro de 1873 o Município indica o edifício do Colégio de Tomar para a construção de uma Cadeia Distrital, a ser construída segundo os novos preceitos científicos das penitenciárias de segurança máxima, o sistema “panóptico”. Consumava-se assim o destino do Colégio de Tomar, de que não ficou pedra sobre pedra, aproveitadas estas para a construção da Penitenciária. Apenas o topónimo, Rua de Tomar, recorda a Cidade dos Templários e da Ordem de Cristo.
O que era e como era então este monumento que o desprezo mais míope das autoridades de então assim marginalizou? Iconograficamente, para além da planta do monumento, existem algumas fotografias de fraca qualidade e três desenhos de um álbum de vistas de Coimbra (Fig.1) que revelam diferentes perspectivas do Colégio, assim como uma estampa inglesa algo fantasista. Uma fotografia de Silva Magalhães (Fig.2) é o último testemunho visual conhecido do Colégio. As suas características maneiristas são evidentes, e seria um dos mais monumentais edifícios nascidos da reforma quinhentista da Universidade.
Restam-nos apenas algumas relíquias que sobreviveram da mole majestosa do Colégio de Tomar, hoje recolhidas no Museu Machado de Castro e, evidentemente, a própria Penitenciária (Fig.3), que integra na sua construção provavelmente a totalidade do material pétreo original.
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